Nampula (IKWELI) – A Associação de Apoio ao Desenvolvimento das Crianças e Jovens (AJAD), em Nampula, mostra-se preocupada com a onda de violência que na sua maioria termina em morte de cidadãos, durante os processos eleitorais e pós-eleitorais em Moçambique.
O exemplo mais marcante é o último processo eleitoral, cujos resultados anunciados pelos órgãos eleitorais foram alvo de protestos, por serem considerados fraudulentos pelos partidos e candidatos da oposição. A onda de manifestações que duraram perto de três meses culminaram em mortes de cidadãos, maioritariamente por boleamento.
Mesmo não avançando dados quantitativos, a AJAD acredita que dos mortos, feridos durante as manifestações, a sua maioria são jovens, para além de que as crianças também não escaparam.
Esta é uma das razões que moveu a Associação de Apoio ao Desenvolvimento das Crianças e Jovens a promover um workshop, nesta quarta-feira (29) visando capacitar os representantes dos partidos políticos com assento parlamentar sobre como mitigar actos de violência nos processos eleitorais no país.
“Há necessidade de termos esta capacitação porque o projecto Força Jovem visa trabalhar com os quatro partidos políticos, nomeadamente, Frelimo, Renamo, MDM e PODEMOS, que é mesmo para sensibilizar a eles em torno da violência pós-eleitoral. Nós observamos que nas últimas eleições houve o registo de muita violência, muitas pessoas foram baleadas, houve mortes, então, o projecto visa mesmo sensibilizar a esses partidos para que transmitam informação que vão levar deste workshop para as suas comunidades, para os outros jovens, serão eles a fazerem chegar a informação”, disse Carla Mendonça, gestora de programas da AJAD.
“O projecto Força Jovem é mesmo fazer conhecer a eles de que nós temos nossos direitos, mas também precisamos respeitar esses direitos. Temos também os nossos deveres e precisamos respeitar. Então, é mesmo para eles carregarem as informações que vão levar deste workshop e juntos fazermos chegar às comunidades para que os jovens dessas comunidades possam ver a importância da preservação da paz em tempo como esses que estamos vivendo hoje”, prosseguiu Carla Mendonça.
A fonte disse acreditar que depois daquele evento, com a duração de três dias, possa contribuir para que situações iguais as vividas actualmente não voltem a acontecer. “Por isso que convidamos esses quatro partidos. Então, acreditamos que as próximas eleições serão mais calmas. Então, podemos aproveitar este projecto para que a AJAD, a sociedade civil, o governo, possamos fazer para que as próximas eleições sejam calmas. O projecto veio mesmo para nos apoiar”.
“Nós estamos mesmo com a onda das mortes que nós vimos. Existe o partido PODEMOS que alega vitória, em contrapartida, existe o partido Frelimo que se considera o vencedor. Então, o que queremos basicamente é que esses dois estejam em um ambiente saudável, para que nas próximas eleições não tenhamos um partido que possa pautar por manifestação que terminem em violência, que eles pautem pelo diálogo. Não vamos pautar pela violência, não vamos pautar pela matança das pessoas”, prosseguiu Mendonça.
Carla Mendonça fez saber, por outro lado, que a capacitação não visa essencialmente impedir as manifestações, pois manifestar é um direito consagrado na Constituição da República, mas condena a onda de violência que elas são caracterizadas.
“Essa redução da violência entre os partidos políticos não só em tempo de eleições, mas que quando os partidos sem encontram na rua possam se saudar, o que hoje em dia isso não vimos, isso é preocupante, quando os membros da Renamo, da Frelimo, do PODEMOS se encontram, se calhar podem acabar se lançando pedras. Então, a ideia é mudar esse cenário”, referiu, mostrando optimismo de que o workshop traga frutos a curto, médio ou longo prazo.
“Todos nós sabemos que manifestar é o direito que todo cidadão tem, desde que siga todos os procedimentos para se manifestar. Na verdade, nós não estamos contra manifestações, mas estamos contra a onda de violência que tem assolado o nosso país, em particular a nossa província de Nampula, isto é que nos deixa preocupado porque a AJAD é uma associação que trabalha com crianças e nessa onda de violência tivemos muitas crianças que acabaram sendo feridas por conta de manifestações violentas. Então, o que nós queremos é eliminar, reduzir manifestações violentas”, reiterou Carla Mendoça.
Para além dos partidos políticos e organizações da sociedade civil, participam do evento, também jornalistas e agentes da Polícia da República de Moçambique. (Constantino Henriques)