Nampula (IKWELI) – Dois grupos de estudantes, médicos estagiários e outros já graduados pela Universidade Lúrio, amotinaram-se na manhã desta segunda-feira (24), defronte ao gabinete do governador da província de Nampula, Eduardo Mariamo Abdula, para exporem suas preocupações relacionadas com a falta de pagamento de 80% do salário base para o ingresso na carreira de médico de clínica geral.
Trata-se de um grupo de 60 estudantes, dentre médicos já graduados e outros que ainda se encontram a fazer o seu estágio na maior unidade sanitária da região norte, Hospital Central de Nampula (HCN), que se queixam do não pagamento dos seus subsídios há quase dois anos. Os mesmos afirmam que foram esgotadas todas as negociações com a direcção da Universidade, por essa razão, decidiram pedir ajuda ao governador da província, Eduardo Mariamo Abdula, este que os recebeu no seu gabinete para colher as suas preocupações.
Zito João, representante dos médicos estagiários, começou por dizer que terminaram as cadeiras curriculares no ano 2022, nessa altura, não foi possível começar com o estágio, porque, de acordo com um decreto ministerial, o estágio só poderia arrancar mediante a confirmação da existência do cabimento.
“No ano 2023 fomos comunicados pela universidade que já existia o cabimento da verba. Celebramos os contratos e começamos a estagiar. Por conta de alguns problemas entre a UniLúrio e o HCN, tivemos que paralisar o estágio por um período de um ano. Voltamos ao estágio em 2024. Depois da celebração dos contratos em 2023, esperávamos algum comunicado sobre como está a andar o processo junto da direcção da universidade e não encontramos informações coerentes para que haja dificuldade para o pagamento do subsídio, uma vez que o valor já tinha sido alocado a universidade.”
Segundo João, tal situação os deixa ainda mais agastados porque na altura em que houve cabimento do subsídio na UniLúrio as outras instituições de ensino como UniLicungo, UniZambeze, e a Universidade Eduardo Mondlane também tiveram, e os seus estudantes receberam o valor em 2023.
“Nós até hoje, já passam dois anos e não estamos a receber este valor. Este valor quando estava a se criar, era para ajudar os médicos estagiários, se estamos a frequentar uma instituição pública, é porque nós não temos condições, somos pessoas pobres.”
Baldo José, representante dos médicos graduados, confirmou que compartilham da mesma situação com os estudantes, razão pela qual decidiram unir-se para revindicar aquilo que entendem ser de direito.
“Importa realçar que durante este tempo não ficamos parados, vários esforços foram feitos pela turma no sentido de procurar informações junto da faculdade e muitos desses esforços foram frustrados, porque nunca tivemos uma resposta clara e objetiva em relação ao paradeiro deste valor.”
Na ocasião, os estudantes pediram ainda protecção do governador para que nenhum deles sofra alguma represália pelo facto de terem exposto a situação que os inquieta.
“Estamos a pedir ajuda a sua excelência, como pai, queremos fazer parte de pessoas que têm função nessa pátria.”
Igualmente, os futuros médicos partilharam uma preocupação ligada a não certificação dos estudantes que cursaram medicina na UniLúrio pela Ordem dos Médicos de Moçambique.
“A certificação médica é que reconhece que você é um formado em medicina, não basta só ter certificado pela faculdade. Essa é uma preocupação que não nos deixa em paz, por isso pedimos a sua excelência senhor governador para flexibilizar este processo,” avançou Belarmino Anselmo, médico graduado.
Governador promete ajudar a solucionar o caso
O governador da província de Nampula, Eduardo Mariamo, após o encontro, disse em entrevista ao Ikwelique as queixas dos médicos estagiários ultrapassam aquilo que são as competências do Conselho Executivo Provincial, contudo, prometeu submeter o caso ao Gabinete do Secretário de Estado na província.
“Entretanto, como governos da província, como Conselho Executivo Provincial, sendo uma população que está dentro do nosso território, vamos tentar perceber junto de outras entidades de direito para conhecer o problema e depois vamos trazer uma resposta aos jovens. Vamos apoiar naquilo que é de direito.”
Na ocasião, o governante avançou ainda que a serem verdade, as queixas submetidas pelos estudantes, o cenário é triste. “Sendo verdade, repito não estou a dizer que sejam inverdades, eu acredito nas pessoas, é meu princípio, é triste porque podemos ver aqui uma camada de jovem, médicos promissores que poderiam estar a cobrir os meus 23 distritos, um país que ainda tem um rácio médico doente muito alto, sinceramente, acho triste e temos que encontrar soluções.” (Ângela da Fonseca)