Nampula (IKWELI) – O director-geral do Centro de Saúde Mental João de Deus de Mutauanha, em Nampula, Pierre Chardey, expressou preocupação devido ao aumento do número de famílias que abandonam seus parentes em tratamento naquela unidade sanitária.
Pierre Chardey, que falava na tarde desta terça-feira (15), à margem da celebração do Dia Mundial da Saúde Mental, assinalado a 10 de outubro, sublinhou que há enormes desafios para salvaguardar a situação dos doentes mentais, mas mesmo assim não se pode abandonar.
“Os desafios são muitos porque este centro é para doentes mentais, e existem famílias que, desde que trouxeram seus pacientes, nunca mais pisaram aqui. Alguns ficam até um ano sem voltar. Isso é um grande desafio. Quando as famílias aparecem, às vezes o doente não reconhece e, com o grupo de inserção social, quando o doente está normal, levamos o paciente para procurar a sua família. Quando chegamos lá, a família rejeita seu parente, o que é bastante difícil”, disse.
O interlocutor exemplificou que, na semana passada, acompanhou um caso semelhante junto à fronteira com o Malawi. “Eu, pessoalmente, com minha equipe, fomos até a fronteira do Malawi, muito longe da cidade de Nampula, para vivenciar de perto a inserção social de um dos pacientes. Quando chegamos lá, a família negou seu familiar, dizendo que não tinha como dar acompanhamento. Isso também nos causa muita dor”, reclamou.
No entanto, Pierre Chardey reconheceu que o convívio com essa camada social não tem sido fácil, pois são pessoas com diversos problemas psicológicos, motivados por drogas, álcool e outras situações.
Atualmente, mais de 30 pacientes estão em tratamento naquele centro e “temos uma capacidade de cerca de cinquenta internados, entre homens e mulheres. No momento, contamos com 18 mulheres e 14 homens. Embora pareça pouco, é um grande trabalho lidar com esses nossos irmãos. Às vezes, o número ultrapassa nossas capacidades, o que também representa um desafio”.
O diretor do centro de saúde mental assegurou que está registando cada vez mais situações de abandono, tendo comentando que “cada dia, temos pacientes que fogem do centro para a rua. Isso também é um desafio. Temos muitas pessoas curadas que voltaram à sociedade e estão vivendo uma vida normal”.
Por sua vez, o padre Luís Irineu, vigário da Paróquia São João de Deus de Mutauanha, defendeu que a falta de acompanhamento familiar retarda a melhoria do paciente. “Para a doença mental, não basta somente a medicação; o amor da família deve estar em primeiro lugar, algo que hoje em dia não acontece na nossa sociedade. Isso é preocupante, principalmente para nós, que somos missionários. Ficamos com o coração amargurado”, concluiu. (Malito João)