Crocodilos continuam a dizimar vidas na barragem de Nampula

Nampula (IKWELI) – Definitivamente, o conflito homem-animal na disputa por recursos naturais na cidade de Nampula está longe de terminar.

Um dos principais pontos onde, com frequência, o cruzamento entre o homem e os animais não tem sido pacífico é nas imediações da barragem de Nampula, ao longo do rio Monapo. Neste local, os paquidermes atacam, com alguma fatalidade, as pessoas.

No último fim-de-semana, ocorreu um ataque, onde, segundo relatos colhidos no terreno, a vítima perdeu a vida.

A população que ligou ao Ikweli a denunciar o caso disse que “quando o caso foi reportado ao posto policial local, lhes foi dito que não havia meios para remover o corpo do local e muito menos para defender-se dos animais”.

Um outro caso que, recentemente, ocorreu afirma-se que a vítima “estava a pescar, quando, de repente, o crocodilo pegou o pé dele. Ele quis se defender usando a mão e o crocodilo pegou igualmente a mão do jovem, com graves ferimentos foi levado ao HCN, onde recebeu tratamento por duas semanas e deram-lhe alta, e ao chegar na sua residência o jovem piorou, e acabou por perder a vida”.

Esta situação preocupa as autoridades comunitárias locais, tal como afirmou o senhor Armindo, referindo que “a situação dos ataques não é recente, mas nos últimos dias os ataques pioraram. Agora é normal haver dois casos num único dia, a população está a acabar por ser defeituosa. Nós recorremos aquele rio não só para pesca, mas também para travessia, para nossas machambas, porque 98% dos moradores desta zona são agricultores e vivem da agricultura. Inúmeras são as vezes que entrei em contacto com o governo para que algo em nosso favor seja feito, mas até agora parece que somos esquecidos”.

Esta fonte anotou ainda que os últimos 6 corpos sem vida encontrados ao longo do rio Monapo, na parte daquela circunscrição, estavam em pedaços, porque os crocodilos tinham “degustado” das vítimas a seu bel-prazer.

Este líder recorda-se que, no passado, um indivíduo criava crocodilos em seu quintal, mas mais tarde viriam a fugir, depois de atacar um guarda, e encontraram refúgio no rio Monapo.

Segundo ainda apuramos, nos últimos 3 meses, pelo menos, 21 pessoas foram atacadas pelos paquidermes, das quais 7 perderam a vida.

“Estava a caminho da machamba, com meus filhos quando cheguei a beira do rio, entrei primeiro para ver se o rio estava seguro, marquei alguns passos dentro da água e senti que algo pegou minha perna, gritei por ajuda e meu filho de 17 anos subiu para cima do crocodilo. Depois de tanta luta, o crocodilo largou-me e se foi. Meu filho me arrastou para a margem do rio e pegou-me em direcção ao centro de saúde, lá chegados, fizeram transferência para o hospital central, onde recebi atendimento por uma semana, depois deram-me alta e pediram para sempre fazer controlo no hospital próximo”, conta a senhora Isabel, que também já  foi atacada por um crocodilo no rio Monapo.

O senhor Mário, também, já esteve na boca do crocodilo, escapou com vida, mas ainda guarda as sequelas.

“Eu estava a sair da machamba quando dei de cara com um crocodilo, quando quis voltar para a margem do rio, o crocodilo saltou e pegou a minha perna, estava sozinho naquela luta, como portava uma faca lutei por horas. Depois de, pelo menos, 2h o crocodilo deixou-me e arrastei-me para a margem do rio e desmaiei. Fiquei ali sem conseguir mover-me, sem conseguir gritar e ninguém passava por ali naquela altura, depois de algum tempo, de tanto sofrimento, algumas pessoas que passavam por ali me viram e me socorreram, fui levado ao hospital e recebi tratamento por 30 dias, os médicos propuseram amputar-me, mas os meus familiares recusaram a proposta, desde o dia 5 de março do ano passado ando dolorido, as feridas cicatrizaram neste ano, mas as dores não passam”, conta esta vítima.

Jacob, que se dedicava a pesca no rio Monapo, conta que os paquidermes se apoderaram de alguns dos membros.

“Estava a pescar, como um dia normal, depois de terminar, como sempre lavava as redes, quando de repente o crocodilo veio até mim, e pegou o meu braço, lutamos muito, e os jovens que estavam ali presentes me ajudaram. Depois de alguns minutos ele me soltou, mas infelizmente o meu braço já não conseguia mover por conta própria. Fui levado ao centro de saúde e lá deram-me a transferência para o HCN [Hospital Central de Nampula] onde fui amputado”, concluiu, tristemente, esta vítima.

A população daquele ponto da cidade de Nampula deseja que as autoridades locais considerem colocar uma ponte sobre o rio Monapo, de forma a facilitar a sua travessia para os campos de produção. (Ruth Lemax)

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