Nampula (IKWELI) – O Hospital Central de Nampula (HCN), maior unidade sanitária da região norte de Moçambique, atendeu, até quinta-feira (5) da semana passada, 40 pacientes com distúrbios de pigmentação da pele, conhecidos por “albinos”, dos quais 11 submetidos a cirurgias por diagnóstico confirmado de cancro de pele.
Trata-se de uma intervenção que arrancou no dia 2 do corrente mês, cujo o término foi no dia 07, a mesma enquadra-se no âmbito da campanha de remoção de cancro destinadas a pessoas com problemas de pigmentação de pele, levada a cabo pela organização não-governamental espanhola África Direto.
Em conferência de imprensa concedida nesta quinta-feira (05), a coordenadora de missões médicas na organização não-governamental espanhola África Direto, Cata Lavandeira, explicou que a maior parte dos casos operados apresentava lesões avançadas, resultado da exposição prolongada ao sol sem proteção adequada.
“Os resultados falam por si, vimos 40 pacientes. Fizemos cirurgias à 11 pacientes e tiramos 20 tumores. Os que foram removidos os tumores alguns já foram para casa e outras estão ainda nas instalações do hospital para fazer penso. Estão bem de saúde, mas se não continuar a proteger a pele daqui há poucos meses vão voltar a ter câncer.”
Lavandeira partilhou haver casos de pacientes cuja situação é crítica e para a sua intervenção, terão que recorrer ao tratamento fora do país, pelo facto de Moçambique não dispor de equipamento de radioterapia.
“Há muitos pacientes que precisam de fazer radioterapia, e em Moçambique não está disponível, há países alternativos como Malawi, Africa de Sul ou Espanha, mas esses tratamentos são muito caros, fazemos de tudo, mas os recursos são muito escassos. É triste falar para uma pessoa de 14, 20 ou 23 anos que ainda tem sonhos que por causa do sol não vai conseguir concretizá-los.”
A fonte lamentou ainda, o facto de a província ter apenas um dermatologista, sendo a mais populosa do país. “Estimamos que Moçambique tem 30 mil pessoas com albinismo, não são dados confirmados. Uma pessoa com albinismo na Espanha não morre, mas aqui em Moçambique não chega aos 40 anos. E Nampula que é a província mais populosa só tem um dermatologista para ajudar essas pessoas e não só.”
A fonte alerta para a importância da prevenção dos problemas na pele, através do uso regular de protetores solares, sendo que cidadãos com sinais suspeitos devem procurar precocemente os serviços de saúde.
“Neste momento temos capacidade para fornecer cremes foto protetores para todo ano a todas as pessoas com albinismo que identificamos. Mas há muitos que ainda não foram identificadas e que precisam de ajuda.”
Entretanto, Cava Lavandeira lembrou que a prevenção não é só médica, pois as pessoas com albinismo sofrem mitos e discriminação, por isso chama atenção da sociedade no sentido de trabalhar em prol desta camada social.
“É importante saber que o albinismo não é uma enfermidade, mas sim uma condição genética. Aqui em Moçambique tem muito sol e as pessoas com albinismo não tem como se proteger, não tem melanina e morrem por conta do cancro de pele. É importante sensibilizar as famílias.”
Foram intervencionados pacientes oriundos de diversos distritos da província de Nampula, com destaque para Nampula, Moma, Muecate, Mossuril, Nacarôa e Larde respetivamente.
Vale recordar que é a primeira vez que as pessoas com problemas de pigmentação de pele beneficiam de uma intervenção cirúrgica na província de Nampula. A iniciativa foi de uma organização não-governamental espanhola África Direto, composta por duas médicas dermatologistas espanholas, que estão a trabalhar em estreita colaboração com especialistas locais.
Esta missão de médicos tem feito essas actividades, na zona sul e centro do país há alguns anos, concretamente Maputo, Gaza, Tete, Sofala e agora Nampula. (Ângela da Fonseca)