Nampula (IKWELI) – O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) na província de Nampula registou desde ano passado a esta parte 237 corpos de pessoas sem vida, frequentemente abandonados na via pública e outros locais.
Deste número, 156 corpos sem vida foram registados no ano passado e os restantes 81 só nos primeiros quatro meses do ano em curso, portanto, mais que a metade do que foi registado em todo ano de 2024.
Das mortes, cujos corpos são abandonados nas ruas, têm como causa principal, homicídio, representando cerca de 30% dos casos. Segue-se depois o suicídio, com um total de 20% dos casos, equivalente a 49 pessoas encontradas mortas sem que antes tivessem apresentado um quadro clínico desfavorável.
“Desses casos de homicídio, alguns são contra conhecidos e outros desconhecidos. Alguns tratam-se de alguns corpos que foram achados na via pública, mas que foram vítimas de homicídio e as pessoas desfizeram-se do corpo e algumas situações de brigas entre familiares, ajuste de conta entre quadrilhas e mais, então são diversas causas dentro daquilo que são os casos do homicídio”, sustentou Enina Tsinine, porta-voz do SERNIC em Nampula.
Sobre o suicídio, “alguns casos são suicídios por enforcamento, outros por envenenamento por substâncias tóxicas como ratex entre outros”, prosseguiu Tsinine.
Outras causas destes óbitos são a morte natural que representa 19,8% dos casos registados nos últimos 16 meses. Um total de 19 pessoas tiveram como causa da morte, o afogamento, 16 pessoas perderam a vida por conta da intoxicação alimentar, na sua maioria por consumo de bebidas alcoólicas de maneira desequilibrada sem alimentação. Seis pessoas foram electrocutadas, uma pessoa por envenenamento, duas pessoas foram trucidadas, para além de outras causas, com 12 casos.
“No ano de 2024 fomos solicitados, também, para casos de mortes naturais, são aqueles corpos que são encontrados na via pública, se encontrava doente ou acabou perdendo a vida na sua própria residência porque a população como já tem uma informação a partir das autoridades, quando se trata de uma morte que não presenciaram, solicitam a autoridade para se fazerem ao local para a perícia. Então, alguns corpos acabam nos dando relatórios preliminares, porque o SERNIC não dá aquilo que é o relatório final, nós fizemos relatório preliminar no local depois acabamos levando para a medicina legal, então em termos de morte natural tivemos 34 casos contra o período de 2025 são 13 casos, até então. Nesses temos doenças, temos algumas mortes súbitas”, explicou a porta-voz.
“Tivemos, também, em 2024, o caso de trucidamento que é o caso de comboio. Embora tenhamos muitas reportagens que passaram no ano passado, de corpos que foram achados na linha férrea, nem todos foram por acidente ferroviários, alguns desses foram transportados depois da prática do homicídio para a linha férrea e o comboio passou praticamente em cima, mas o SERNIC como responsável, bem como a medicina legal, nós fizemos alguns exames que nos permitem detectar se o cidadão morreu naquela circunstância de trucidamento ou não, já tinha sido morto e foi transportado, o estado do corpo, a posição em que se encontra, são vários factores que nós levamos em conta e a medicina legal acaba determinando aquilo que é a causa da própria morte. Neste ano ainda não tivemos o registo deste tipo de caso”, referiu.
O SERNIC aponta, também, que do universo dos corpos sem vida em que foi chamado a intervir, nos últimos 16 meses, 20 pessoas morreram por linchamento. Esta é uma das causas que mais representa preocupação aquela unidade investigativa, pois apenas este ano houve o registo de 8 casos de linchamento.
Enina Tsinine associa o crescente número de linchamento, as manifestações violentas que o país assistiu depois da divulgação dos resultados eleitorais do passado dia 9 de Outubro de 2024, os quais deram vitória a Frelimo e seu candidato presidencial, Daniel Chapo, e protestado por Venâncio Mondlane, suportado pelo partido Podemos.
Apesar da destruição dos postos policiais que fez com que as comunidades fossem abandonadas à sua sorte, sem cobertura policial, Enina Tsinine não considera esse aspecto como sendo causa principal do crescente número de linchamento, na província de Nampula.
“Então, comparando os períodos, no caso de linchamento é preocupante, porque estamos a falar de 4 meses e 15 dias, até então registámos quase a metade de linchamento, de 12 num ano e falamos de 8 em apenas 4 meses, então é preocupante porque o número é muito elevado”, analisou Enina Tsinine para quem, para travar esta onda de criminalidade, “ o SERNIC tem trabalhado muito, no trabalho de sensibilização. Mas temos um ano incomum, estamos a falar de 2025 um ano que tivemos muitas situações de manifestações, por isso que o número acabou crescendo, não foram daqueles casos registados no ano passado”.
“Algumas pessoas foram linchadas no âmbito das manifestações e outras por roubo onde as pessoas preferiram a justiça pelas próprias mãos”, acrescentou Tsinine, para quem condena tal prática.
Qual o destino dos corpos desconhecidos?
Dos corpos sem vida achados nas vias públicas e outras zonas na sua maioria são desconhecidos, pelo menos nos locais aonde foram achados.
Em conformidade com Enina Tsinine, os corpos achados em avançado estado de decomposição, são responsabilizados os líderes comunitários locais para tratarem do enterro dos mesmos, mas sob indicação do próprio SERNIC do local da última moradia do finado, visando localizar às famílias em de elas vierem a reclamar.
Para os corpos ainda sem decomposição, Tsinine fez saber que são levados para as morgues, onde em caso de passar longo período sem reclamação, os mesmos são enterrados em vala comum.
“Quando está num estado avançado dificulta porque as nossas morgues não reúnem todas essas capacidades, mas nós quando vamos ao terreno já temos vantagem de irmos com um médico legista, ele facilita os nossos trabalhos. Mesmos nos casos em que não vamos com o médico legista nós levamos e submetemos à medicina legal, eles dão o relatório e voltamos, e vai-se seguindo quando se trata de homicídio com o processo-crime, poder-se aferir outros elementos de indivíduos conhecidos e desconhecidos que praticaram o acto e tudo mais. Então, o maior caso que temos é contra desconhecidos”, anotou Tsinine
“Tanto na cidade de Nampula, em todos os bairros da cidade de Nampula temos liderança, temos secretários, quando falamos de líderes comunitários estamos a falar de secretários, régulos, chefe dos quarteirões, muitas chamadas recebemos deles. Então, se ninguém aparece para fazer a reclamação, nós fazemos a entrega com a própria liderança. Tem que ser lá porque não temos como tirar daquela zona para outra. Então, o que fizemos documentamos, identificamos o local onde será sepultado e, em caso de a família comparecer e ter conhecimento que o seu familiar encontrou morte nas circunstâncias abc, aproxima ao SERNIC e leva até a liderança que conhece onde é que jazem os restos mortais do seu familiar, isso poderá permitir com os familiares tenham a facilidade de encontrar o túmulo do finado”, explicou a fonte. (Constantino Henriques)