Nampula (IKWELI) – Dois meses após as manifestações, a sede do posto administrativo de Corrane, no distrito de Meconta, na província de Nampula, ainda respira um ar de abandono, pois as suas infra-estruturas apresentam o semblante de saque e destruição.
Este cenário, deixou os cerca de 80 mil habitantes de Corrane à deriva, pois desde o dia em que os supostos apoiantes de Venâncio Mondlane colocaram abaixo infraestruturas sociais, a população vive sem autoridades locais, o que de alguma forma contribui para o aumento de casos criminais.
Rosa Assane, residente em Corrane há quase 10 anos, disse que a realidade do posto é de lamentar, pois vivem uma situação de total abandono. “Estamos sem dirigentes desde o dia 23 de Dezembro de 2024, não temos ninguém para olhar por nós, falo do chefe do posto porque queimaram a residência dele, assim como da polícia, não temos nem sequer um agente, nós vivemos a nossa própria sorte, há roubos e criminalidade, porque não temos chefes.”
Por isso, em entrevista ao Ikweli, Rosa apela o regresso das autoridades administrativas e governamentais para o bem-estar dos residentes daquele posto.
Quem, igualmente, comunga do mesmo ideal é Albertino Malieque, que revelou ter vivenciado todo o cenário. Desde então, as infraestruturas ora vandalizadas tornaram-se esconderijo dos meliantes que se aproveitam para aterrorizar os residentes. “Não vivemos bem, assim que os chefes não estão aqui, tem pessoas que se aproveitam, as vezes são crianças e ficamos sentidos do tipo, olha ali meu filho, fez isso contra mim.”
“As pessoas estão à viver a sua sorte”

Em entrevista ao Ikweli, o chefe do posto administrativo de Corrane, Júlio da Costa, assumiu e reconheceu que a população residente na sua jurisdição está a viver à sua sorte desde o dia 23 de Dezembro.
“A nossa população está a viver sem autoridade e a população pediu-me de uma forma urgente para repor a segurança porque na verdade agora as pessoas estão a viver a sorte delas.”
Uma população que está a viver à sua sorte e por isso, por vezes recorre a justiça pelas próprias mãos sempre que neutralizam um indivíduo.
“Eles agora se matam de qualquer maneira. Há pouco tempo, três pessoas da comunidade perderam a vida por espancamento, alegadamente porque eram feiticeiros. Ou seja, a falta da polícia nesta vila faz com que a população resolva os problemas dessa forma.”
Por outro lado, as actividades do posto administrativo, segundo o chefe, decorrem debaixo de uma árvore ao lado do edifício ora vandalizado. Ao mesmo tempo que o mesmo tem passado as noites nas residências de pessoas de boa fé.
“Não temos praticamente nada, nem bandeira não existe aqui. Todos trabalhos são feitos de forma arcaica.”
Portanto, enquanto a ordem e a tranquilidade públicas não se recompõem na vila, os residentes continuarão a viver à sua sorte. (Ângela da Fonseca)