Nampula (IKWELI) – Um total de 23.579 alunos da província de Nampula, localizada na região norte de Moçambique, correm o risco de estudar ao relento no presente ano lectivo, cujo lançamento foi no passado 31 de janeiro e as aulas arrancam hoje, terça-feira (4), devido a destruição de 64 escolas, dentre primárias e secundárias, correspondentes a 137 salas de aula.
Estas escolas foram destruídas por manifestantes, durante a fase Turbo V8, que, alegadamente, exigem uma verdade eleitoral e não aceitam os resultados das últimas eleições.
No dia 23 de Dezembro de 2024, o país assistiu mais uma onda de protestos que culminaram com a vandalização de infraestruturas públicas e privadas, perpetradas por supostos apoiantes do ex-candidato as presidenciais de Moçambique, Venâncio Mondlane, após o anúncio e proclamação dos resultados das eleições gerais divulgados pelo Conselho Constitucional (CC), que deram vitória ao actual presidente da República, suportado pela Frente de Libertação de moçambique (Frelimo no partido), Daniel Chapo.
Para além da destruição de escolas e salas de aulas, o sector perdeu ainda quatro edifícios onde funcionavam os serviços distritais, cinco blocos administrativos, 60 casas de professores, bem com como 885 carteiras, numa província que sempre contou com turmas numerosas, tal como partilhou o porta-voz da direcção Provincial de Educação, Faruk Carim.
“Para as salas que não conseguirmos fechar, as crianças vão estudar ao relento. É preciso tomar em consideração que quem foi destruir foi o povo, e agora temos como desafio repor. O sector tem como desafio fazer novas construções e não reabilitar aquilo que já foi destruído, ou seja, é importante traçarmos prioridades se vamos lutar para as novas construções ou ter de reabilitar aquilo nós tínhamos e foi destruído”.
Dados partilhados pelo porta-voz indicam, ainda, que, com a destruição dessas escolas, Nampula sairá dos actuais mil para três mil turmas que poderão operar ao relento no presente ano lectivo, prevendo-se uma época dolorosa para o sector devido a época chuvosa.
“Nós temos turmas numerosas e estamos a falar de 23 mil alunos que serão directamente afectados e isso impacta, igualmente, o sistema na sua espinha dorsal, fazendo com que o número de turmas ao relento aumente, podemos sair das mil turmas em média em 2024 somando mais ou menos três mil turmas que podem estar ao relento em 2025. Em dias de chuva os alunos vão ficar sem aulas, é doloroso quando a gente percebe que são os próprios beneficiários que foram lá destruir”.
Dos 23 distritos que viram suas escolas destruídas, os destaques vão para Lalaua com 16, seguido de Ribáuè e cidade de Nampula com 8, Moma 7, Liupo 6 e Malema com apenas 5, numa altura em que o sector já tinha em construção cerca de 330 salas.
“Estamos agora a fazer um trabalho técnico, porque as destruições variam de distrito a distrito e sala a sala, neste momento está uma equipa no terreno a fazer o levantamento de custos. Entre terminarmos as 330 salas e voltarmos a mexer as salas que nós já tínhamos construído e tínhamos entregado a população? Aí é que está o desafio do sector”.
Carim alerta que o tempo para a requalificação das escolas destruídas é ainda indeterminado, pois para a obtenção de recursos o sector deve apresentar argumentos sustentáveis.
“É preciso perceber que não são salas que por algum outro motivo natural foram quebradas, é importante perceber que são escolas que o povo foi quebrar, ou seja, precisamos saber argumentar bem para angariar recursos para essas salas”.
O director da Escola Secundária 22 de Agosto, Quina de Almeida, disse que o seu estabelecimento de ensino conta com 28 salas de aulas, das quais 17 foram vandalizadas, o que poderá afectar uma média de 8.438 alunos da 7ª a 12ª classe. No mesmo recinto foi destruído o bloco administrativo, uma biblioteca recém-inaugurada, assim como o local onde funcionava o seu gabinete.
Sem gabinete e bloco administrativo, as actividades de matrícula aconteceram debaixo de um cajueiro e em dias de chuva tentaram procurar conforto nas salas de aulas onde nem carteiras existem, pois, foram todas roubadas.
“ Recebi com muito desgosto, a informação de que a escola estava a ser vandalizada. Nós tínhamos 8 salas de aulas novas que não tinham nem sequer cinco meses, partiram e levaram todos equipamentos como cinco computadores, três máquinas industriais fotocopiadoras, para além de dois congeladores. Como puderam ver estamos a funcionar debaixo de cajueiros”.
O mesmo cenário pode ser vislumbrado na escola Primária completa de Mutotope e Secundária de Nampaco, ambas localizadas na periferia da cidade de Nampula, onde protestatórios vandalizaram blocos administrativos, salas de aula, cantinas, bibliotecas até a fonte de abastecimento de água.
Enquanto isso, os alunos entrevistados pelo Ikweli, mostram-se preocupados com o cenário, pois o local que antes os acolhia foi reduzido a nada.
Neusa Vasco, de 17 anos de idade, irá frequentar no presente ano a 10ª classe na escola mais populosa de Nampula, Nampaco, revelou que antes da vandalização as turmas eram compostas por 350 alunos e com a situação das salas vandalizadas não sabe como será o processo.
“Não sei como vamos estudar, tiraram carteiras e chapas, partiram janelas, isso foi muito mau para nós. E essa situação só veio nos prejudicar ainda mais, porque antes nós pagávamos a matrícula 300,00Mt (trezentos meticais), agora somos obrigados a pagar 800,00Mt (oitocentos meticais)”.
Vinode dos Santos, ex-aluno da escola secundária 22 de Agosto, partilhou ter acompanhado todo o processo que culminou com a vandalização daquela que foi a sua escola.
“Tudo começou quando eram 17hrs, eu estava aqui a ver meus resultados finais quando apareceu um grupo de jovens provenientes de diferentes bairros e começaram a tirar os bens, eu fiquei meio surpreso quando vi a escola em chamas, isso me assustou. Tenho irmãos que ainda estudam nessa escola e não sei como vai ser”. (Ângela da Fonseca)