Líder da Banda Marrove insta ao novo governo a valorizar a cultura e seus fazedores

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Nampula (IKWELI) – O vocalista e líder da Banda Marrove, Elcídio de Oliveira, desafia ao novo governo do país e de Nampula, de maneira especifica, a olhar o sector da cultura com prioridade e valorizar os seus fazedores, pois é uma área que, também, pode contribuir para o desenvolvimento socio-económico da nação moçambicana.

Falando exclusivamente ao Ikweli, Elcídio de Oliveira voltou a lamentar o facto de os governos anteriores não terem encarrado com seriedade a cultura e seus fazedores, o que na sua opinião constitui um grande erro, pois a cultura faz parte do património de um povo e que deve ser exaltada.

A falta de apoio aos artistas, sobretudo financeiro, para a concretização das suas iniciativas faz com que, na óptica do líder da Banda Marrove, contribuía para que muitos desistam precocemente. Para ele, se o governo não tem dinheiro, podia influenciar a criação de uma linha de crédito bonificado, por exemplo, para os fazedores da cultura.

Falando especificamente da sua banda, Elcídio de Oliveira revelou que o seu agrupamento tem se deparado com enormes dificuldades para, por exemplo, a gravação de um CD de originais, pois quando pede apoio as entidades governamentais ou agentes económicos da praça não têm tido resposta desejada, o que lhe leva a supor que seja uma das causas que leva aos outros a desistirem, numa altura em que a pirataria ainda ganha terreno no território nacional, fazendo com que muitos artistas não consigam sobreviver com a sua arte.

Disse também que os governantes nacionais só gostam de aparecer quando o artista, pelo próprio suor, consegue algum destaque, o que considera não ser justo.

“No ano passado recebemos o prémio da banda revelação ao nível nacional, tivemos o prémio das indústrias criativas e fomos apresentar o prémio ao governo da nossa província. Eles ficaram satisfeitos e aplaudiram. Agora, as palmas não são suficientes, as palmas devem ser acompanhadas por algum incentivo.  Nós para gravarmos o CD enfrentamos enormes dificuldades, pedir só 50.000,00Mt (cinquenta mil meticais) para gravar dois vídeos clip, nada. É triste, é triste.” disse Elcídio de Oliveira.

Por outro lado, o vocalista da Banda Marrove repudia o favoritismo quando há oportunidades de financiamento, por exemplo. Por isso exorta ao novo governo a tomar decisões com transparência, não se preocupando sobre quem é filho de quem.

“Claro que hoje em dia os patrocínios são por favoritismo, porque meu tio é director das finanças, meu tio é chefe de x, é por isso que também em algum momento vai criando essas revoltas e, parecendo que não, o país vai entrando neste caos de manifestações, as greves, porque os outros estão insatisfeitos com isso. Então, é de lamentar por aquilo que nós estamos a fazer. Não estou aqui para querer lançar pedra para nenhum empresário nem para ninguém, és a razão que nós não paramos, senão já teríamos parados.” referiu a fonte.

Para o nosso interlocutor, o novo governo deve colocar pessoas certas nos departamentos certos, de modo que o rumo das coisas seja de agrado de todos moçambicanos.  “Então, acho que é preciso, neste momento, começarmos a colocar pessoas que nalgum momento vão ocupar cargos, mas que faz sentido. Não ocupar cargo, por exemplo de ministro, apenas para fazer aquilo que é seu benefício, construir sua mansão de sonho, comprar seu carro de sonho, enquanto aquele que está a correr todos os dias, que faz o bem para o país, tanto no interior como no exterior, continua descalço, não faz sentido”.

“Acho que estamos num bom momento, é o início de um novo governo e precisamos associar o útil ao agradável para que, naturalmente, consigamos ter algum retorno a partir do que fizemos como atividade artística. Veja só que existem muitos fazedores das artes que não têm outra actividade fora daquilo que fazem. Eu conheço muitos que vivem com base na atividade artística e, veja só, que desde o mês de Outubro [de 2024] não há nenhum concerto, não há nada, como é que ficam? Eu acho que é o momento em que o país deve intervir nesta questão.” sugeriu.

O artista acredita na melhoria da atuação do novo governo liderado por Daniel Chapo, desde que não haja interferências do partido que lhe suportou. “Eu tenho anseio neste novo governo, embora é um governo que vem do mesmo partido que já conhecemos, há sempre algum descrédito, mas é preciso sonharmos um pouco alto porque o próprio presidente Chapo disse que ele pretende fazer diferente. Então, o nosso sonho é que esse fazer diferente, a tal expressão vamos trabalhar não seja teórica, para que faça sentido. Agora falar só por inglês ver, acho que vamos colocar o país mais do que estava. Nós vimos como é que o país estava e como é que o país ficou com a saída do presidente cessante. Toda gente está a reclamar, muito tumulto, então, gostaria de pedir que olhe a cultura, porque nunca foi olhada como área prioritária”, prosseguiu.

“Infelizmente, as áreas prioritárias sempre são as mesmas, ouvimos sempre educação, saúde, agricultura, e nem essas áreas que dizem prioritárias em algum momento também não são prioritárias, porque você acompanha os médicos e enfermeiros a lamentar, os professores lamentam, os homens da agricultura lamentam, então, que prioridade é essa? Significa que nós fazedores da cultura que não somos mencionados estamos na lama, num sítio em que não vale a pena”, anotou.

 “Ao Tio Salim, não olhe a cultura só para aqueles que correram com ele no processo da campanha”

Falando especificamente ao novo governo de Nampula, chefiado por Eduardo Mariamo Abdula, carinhosamente tratado por “Tio Salimo”, Elcídio de Oliveira antevê que na sua governação não fique limitado aos artistas com quem correu durante a campanha eleitoral, pois a cultura não é partidária.

“Estou a dizer para que não olhe a cultura só para aqueles que correram com ele no processo da campanha. Olhar para a cultura, eu sei que existe aquilo que se chama de favoritismo, ah tenho o meu grupo atrás, automaticamente não vai acontecer nada de diferente. É preciso também começarmos a despartidarizar, quando falamos da cultura não estamos a falar de nenhum partido aqui no meio, estamos a falar daqueles que asseguram o nosso património. Veja só que o Aly Faque teve muitas dificuldades quando esteve num outro partido (Renamo), ele não conseguia nem meter a sua carta de pedido de apoio às empresas porque diziam que esse vinha doutro lado, logo risco. Afinal, para aonde estamos a ir? Eu acho que temos que começar a olhar a coisa num sentido muito diferente, muitos fazedores das artes, independentemente aonde eles se associam, é para o bem da cultura”, rematou o artista. (Constantino Henriques)

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