Nampula (IKWELI) – Um grupo de munícipes da cidade de Nampula decidiu invadir na manhã desta quinta-feira (9) uma área pertencente ao seminário filosófico dos padres diocesanos, para alegadamente construírem casas para habitação, para além de reduzir a onda de criminalidade na referida zona.
Trata-se de uma extensa área localizada na zona de Mutava-Rex, posto administrativo municipal de Namicopo, mesmo ao longo da estrada nacional número um, para ser mais preciso, na zona mais conhecido por antigo controle, na cidade de Nampula.
A mesma área é adjacente a nova zona residencial conhecida por Brito, que também resultou da invasão levada a cabo pelos populares, há sensivelmente oito anos. Trata-se de parte de mais de 100 hectares, actualmente ocupados pelos padres. Inicialmente a área era estimada em mais de 200 hectares, mas que fruto da invasão se reduziu a metade.
Os invasores reafirmaram que a invasão ao espaço visa mesmo erguer habitações para evitar dependência das casas arrendadas e que muitas das vezes eles não dispõem de verba para honrar com o compromisso. Aliás, disseram que mesmo com a presença policial não vão largar o espaço que, inclusive, os mesmos já parcelaram.
“Estamos aqui porque não temos onde viver, mas essas irmãs [missionárias] aqui ocuparam esta vasta área, faz acima de 30 anos. Por causa desta mata, aqui matam muitas pessoas, recuperamos muitos corpos de pessoas aqui, por exemplo antes de ontem nossos colegas que estão atrás daquela montanha apanharam ossos e não sabem se foi um boi ou uma pessoa. Então, nós decidimos invadir esta mata, porque não temos por onde morar. Por exemplo eu vivo numa casinha com oito pessoas, estou a arrendar aquela casa, não é minha. Então, decidimos invadir aqui para construirmos nossas casas, não é para vendermos, é para construir casas para viver. Já consegui um espaço aqui e é suficiente para viver com os meus filhos. Mesmo os polícias virem aqui disparar, não vamos fugir, nós vamos morrer aqui mesmo, os nossos filhos é que ficarão a viver”, disse um dos invasores que se identificou como Adolfo.
“Falando a verdade, nós decidimos que se a polícia chegar aqui, como eles utilizam arma, nós também temos as nossas próprias armas. Se eles chegarem nós vamos recuar, porque recuar não é ter medo, vamos recuar e tomar nova posição, depois vamos atrás deles, também nós vamos lhes cortar com as nossas catanas”, acrescentou.
“Não estão a fazer nada neste espaço. Este espaço sendo deles, então devem fazer alguma coisa. Nós temos muitas crianças órfãos, como é eles não constroem aqui para aquelas crianças, porque eles não fazem isso. Então, é por isso que nós pensamos ser melhor entrarmos aqui. Não temos onde viver, eu sou pai de cinco filhos, estou a alugar de casa em casa. Nós não temos armas para confrontar com a polícia, mas acreditamos que não vamos sair daqui, e nós sabemos que a polícia o trabalho deles é matar, que nos matem assim mesmo, mas nós não vamos afastar, nós podemos morrer, mas o que queremos é construir para deixarmos com os nossos filhos”, referiu um outro invasor que não deixou sua identificação.
“Para eu vir aqui invadir é porque não tenho espaço para viver, então, nesta mata muitas pessoas são agredidas e mortas por malfeitores. Por isso, para acabarmos com isso, vamos construir casas aqui. São mortas as crianças aqui, nas tardes ninguém pode circular livremente porque os malfeitores fazem e desfazem nesta mata, então isso tem que acabar”, acrescentou.
Mariamo José é uma jovem mãe que se juntou ao grupo para conseguir um espaço para a construção da sua moradia. Até o momento da entrevista, Mariamo não tinha conseguido a parcela, mas estava convicta de que alcançaria o seu objectivo.
“Eu ainda não consegui terreno, assim estou a lutar e acredito que vou conseguir porque esta mata é vasta. Nós não temos aonde viver, e nesta mata apenas são mortas as pessoas, quando vamos ao poço não passamos livremente aqui. Por isso não temos maneira, invadimos aqui para cada um ter seu terreno e construir sua própria casa”, referiu.
Para Irene Assane, outra jovem, “nós estamos aqui para termos espaço para vivermos. Nesta mata somos agredidas pelos malfeitores, as pessoas são mortas nesta mata das irmãs, por isso queremos construir aqui habitação para nós mesmos”.
“Tenho seis filhos em casa, queremos que esta mata acabe, queremos construir casas aqui para acabarmos com bandidagem. As pessoas sofrem muito nesta mata, nós não podemos circular livremente nesta mata, porque esses bandidos se escondem aqui mesmo. Então, isso tem que acabar”, disse a dona Ângela João
A situação acolheu de surpresa a liderança do Seminário Filosófico de Nampula. Aliás, Padre Simone, reitor do Seminário, descreveu aquele grupo como sendo instrumentalizado, e que as alegações deles são infundadas.
Recordou que aquele espaço é propriedade privada pelo que deve ser respeitada. Acrescentou que ao longo da área existem benfeitorias pertencentes ao Seminário, como exemplo de cajueiros, mangueiras entre outros bens, para além de que existem projecto da instituição que devem ser ali implantados a curto, medio ou longo prazo. Disse também que, por ocupar aquela área, a agremiação tem pago impostos correspondentes.
Concluindo, o Padre Simone acredita ultrapassar a contenda mediante um diálogo entre a polícia que se encontrava no terreno e a população invasora. (Atija Chá e Constantino Henriques)