Viúvas lutam contra o abandono e a carestia da vida em meio às manifestações

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Nampula (IKWELI) – As ruas vazias e os bloqueios provocados pelas manifestações não representam apenas um impacto político, mas também agravam o sofrimento silencioso de muitas famílias, especialmente as lideradas por mulheres viúvas. Sem alternativas seguras de renda, elas enfrentam o desafio de sustentar os seus filhos e manter a dignidade diante de um sistema que parece tê-las esquecido.

Marta Oliveira, de 42 anos de idade, perdeu o marido para uma doença grave há 2 anos. Desde então, ela sustenta os filhos com a venda de comida no “ponto da descida”, mas a queda no movimento provocada pelas manifestações trouxe ainda mais dificuldades. “Quando ele estava aqui, as contas eram difíceis, mas havia esperança. Agora parece que tudo desmorona a cada dia. Nem sei como vou fazer para pagar material escolar dos meus filhos para próximo ano, se até comida temos dificuldade de colocar na mesa”, expressou Marta, visivelmente abatida, acrescentando que “não consigo pôr comida na mesa, está difícil para nós, porque dependemos totalmente do comércio para sobreviver”.

Para Joana Silva, vendedeira de pão, de 37 anos de idade, as viúvas estão totalmente abandonadas, ninguém se importa com os desafios que enfrentam. “Já passei dois dias inteiros sem vender nada. Eu acordo cedo, preparo tudo, mas ninguém aparece para comprar por causa do medo e da confusão nas ruas. O que vamos fazer? Quem se importa com a gente?”, questionou.

“Depois que ele se foi, ficou tudo nas minhas costas. Agora com essa crise, me sinto ainda mais sozinha, parece que ninguém percebe o que passamos para sobreviver”, lamenta Lúcia Almeida, de 49 anos de idade, mãe de dois filhos.

Além das dificuldades diárias, as mulheres viúvas reclamam da falta de apoio governamental e por isso pedem algum apoio para trabalhar. “Nós não queremos esmola, só queremos condições para trabalhar. Mas quem olha para a gente? Viúva parece que não tem voz”, desabafa Fernanda, que sustenta quatro filhos vendendo comida confeccionada na cidade de Nampula.

Enquanto umas reclamam por não conseguir vender, outras tiveram suas mercadorias estragadas durante as manifestações. “Apesar da situação não estar bem, eu fui vender no meu ponto, quando de repente ouvimos disparos, e os clientes que estão ali saíram correndo, minha bacia acabou caindo e alguns pratos foram partidos”, conta Fátima Momade, acrescentando que “não fui eu apenas a perder alguma coisa, por conta dessas corrias”.

Para essas viúvas, a sobrevivência não é apenas uma questão de coragem, mas de justiça. “Só queremos que alguém nos veja, que nos dê uma chance, perdemos nossos companheiros, mas não podemos perder a esperança de um futuro para nossos filhos”, conclui Marta. (Ruth Lemax)

 

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