Malema: Trabalhadoras de sexo beneficiam de cursos profissionalizastes

Malema (IKWELI) – Trabalhadoras de sexo do distrito de Malema, na província de Nampula, têm vindo a beneficiar de cursos profissionalizantes, de forma a garantirem o seu auto-emprego para a independência financeira.

Em Malema, as trabalhadoras de sexo são, maioritariamente, adolescentes e jovens, com idade compreendida entre os 14 e os 30 anos.

Trabalhadora de sexo há mais de 10 anos, a jovem Angélica (nome fictício), de 28 anos de idade, justifica ter enveredado por esta prática pelo facto de não dispor de condições financeiras para sustentar a sua família.

“A minha vida foi e tem sido tão difícil, sou mais velha de 3 irmãos menores de idade, todos nós órfãos e, por causa de não ter oque comer, então cedo comecei a procurar namorados que podiam ajudar, pelo menos, no sustento e até consegui inserir os meus irmãos na escola e actualmente estão todos eles grandes, mesmo não sendo fácil, com esta actividade consigo ter alimentação diariamente e agora tenho uma filha e não consigo localizar o pai”, narra, prosseguindo que “para além de procurar namorados nas ruas durante a noite, o meuobjetivo foi sempre de conseguir um emprego que pudesse tirar-me daquela vida, por isso consegui fazer parte de um projecto de saúde, como activista, e a ideia era mudar o meu estilo de vida e mesmo assim não consegui. Mas através do governo do distrito, uma parte das mulheres trabalhadoras de sexo beneficiou de cursos profissionalizantes e esta oportunidade foi bem acolhida por parte de algumas mulheres e assim como é o meu caso, agora consigo fazer um fogão e vendo no valor de 150,00Mt (cento e cinquenta meticais), e a minha vida esta evoluindo”.

Uma outra trabalhadora de sexo que não quis identificar-se salientou que o apoio do governo de Malema tem sido vital para que algumas delas estejam empoderadas e possam abandonar esta actividade.

“Este trabalho (venda de sexo) tem me ajudado muito para sustentar a minha família. Pratico esta atividade desde 2018 e em vários pontos do distrito de Malema e a minha intenção é poder conseguir dinheiro para desenvolver negócios e ter um parceiro que possa formarum lar, outro desejo é poder beneficiar de cursos, talcomo aconteceu com as outras mulheres”, explicou, recordando ter perdido a virgindade aos 12 anos de idade por violação protagonizada por um vizinho.

Nesta actividade, as profissionais mostram preocupação em relação aos homens que não aceitam o uso de métodos de protecção, sobretudo o preservativo.

“Não está fácil negociar o uso de métodos de prevenção com os nossos clientes, porque precisamos de dinheiro,deixamos que tudo aconteça do jeito que eles querem”, disse uma das trabalhadoras de sexo na vila municipal de Malema, referindo que “manter relações sexuais com o preservativo o dinheiro cobrado varia entre 150,00Mt e 200,00Mt, enquanto sem o preservativo parte de 500,00Mt”.

Aluna em uma escola secundária da vila de Malema, uma adolescente de 17 anos, que, também, é trabalhadora de sexo, explica ser muito difícil convencer os clientes a usarem métodos de prevenção durante o acto.

As campanhas de sensibilização

A Associação Ovarelelana tem sido uma das agremiações que trabalham na sensibilização das mulheres trabalhadoras de sexo, incluindo os seus clientes, para observarem a protecção contra as infecções de transmissão sexual, assim como o HIV/Sida.

Ilda Guilherme, activista desta organização, explica que tem sido um desafio enorme a mudança de comportamento do grupo alvo, mas reconhece que “por causa do trabalho de sensibilização, temos mulheres trabalhadoras de sexo que se beneficiam dos serviços de saúde para prevenção de HIV/SIDA e outras doenças”.

Esta fonte lamenta o facto de haver “casos de mulheres renitentes no uso de métodos contraceptivos por desconhecimento dos perigos que passam, mas nós continuaremos a trabalhar e disponibilizando os meios de prevenção”.

Uma outra preocupação para com as mulheres trabalhadoras de sexo em Malema é a descriminação, tal como descreveu a paralegal de Direitos Humanos, Soraia Carimo. “Algumas mulheres sentem-se sozinhas por causa da discriminação e porque são atribuídas vários nomes”, disse, anotando que tem vindo a sensibilizar as mulheres que passam por essas situações a denunciarem.

Esta nossa fonte situa que “anualmente, nós temos recebido, pelo menos, 50 casos e estes são levados a barra da justiça, sendo que alguns são resolvidos e outros dependendo do tipo de crime são resolvidos de forma demorada”.

Venda de sexo vs HIV/SIDA

Laidino Savaio, médico no Hospital Distrital de Malema,

As autoridades locais da saúde entendem que esta actividade pode concorrer para o aumento de casos de HIV/SIDA no distrito, por isso mesmo há esforços para que as pessoas que padeçam da doença cumpram, rigorosamente, com o tratamento.

Laidino Savaio, médico no Hospital Distrital de Malema, disse ao Ikweli que durante o primeiro trimestre do corrente ano, aquela unidade sanitária registou um cumulativo de 9.295 casos de Tratamento Antirretroviral (TARV).

“Os casos registados no pressente ano são preocupantes,comparativamente ao ano passado, pese embora não tenha que avançar”, disse, explicando que em Malema, pela sua localização geográfica, há muitos hotspots para garantir maior sensibilização das comunidades, tanto é que “temos parceiros que trabalham na componente comunitária para sensibilização das mulheres trabalhadoras de sexo”.

O desejo do Governo

Segundo o administrador do distrito de Malema, Morchido Momade, pelo menos, 3 mulheres trabalhadoras de sexo (MTS) beneficiaram de cursos de curta duração, nos ramos de serralharia, soldadura e eletricidade, promovidos pela Nacala Logistics, em parceria com o Instituto Industrial e Comercial de Nampula, no âmbito do projeto de preparação para o mercado de trabalho edição 2024.

“Nós estamos a integrar as mulheres trabalhadoras de sexo nos cursos profissionalizantes e, em parceria com a Nacala Logistics, numa primeira fase arrancamos com 20 formandos e entre estes 3 abandonaram e ainda não sei quais foram as razões, contudo temos 17 formandas,incluindo o grupo chave que chegaram o fim do curso de serrilharia e estas receberam um kit completo para garantir o autoemprego”, disse o governante.

Por outro lado, o governo do distrito de Malema afirma que vai garantir a proteção dos direitos e integração no mercado de emprego as mulheres e raparigas trabalhadoras de sexo, por forma a contribuir no desenvolvimento do país, de forma geral. (Nelsa Momade)

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