Reintegração social em Nampula: Jovem busca dotar crianças de rua em habilidades técnicas para a vida

0
418

Nampula (IKWELI) – É sabido que muitas vezes os meninos de rua são vistos e considerados como marginais e drogados, tudo porque alguns deles abandonam suas casas por diversas situações ligadas a vulnerabilidade em que as suas famílias se encontram.

Um cenário que, muitas vezes, coloca em risco a vida das próprias crianças, uma vez que acabam por estar expostas a situações de perigo iminente.

Em meio a muitas dificuldades e desconfiança, eis que uma luz no fundo do túnel decidiu mostrar o seu brilho para esse grupo social.

Trata-se de Ali Mussa, um jovem, estudante universitário, que decidiu usar as suas habilidades para desenvolver um projecto denominado “Aprenda” para educar e reintegrar crianças de rua, com vista a quebrar certas práticas por estes abraçados.

Mais conhecido por professor de rua, Ali revelou que um dos desafios foi de convencer os pequenos a aceitarem e assumirem o compromisso de estudar. Apesar das dificuldades, nunca pensou em desistir, pois sempre foi o seu sonho tirar as crianças da rua.

“Trabalhar com essas crianças é minha prioridade. Eu tive que fazer estudo de campo para perceber porque é que essas crianças estão aqui, o que é que está a falhar em casa para que elas estejam nas ruas, foi aí que notei que é por falta de diálogo, por isso que me desafiei a levar esse diálogo para essas crianças, é isso e mais estratégias que venho aplicando para manter nossa amizade sustentável, transparente e de confiança, motivo pelo qual elas são abertas comigo, quando ficam doentes chegam até mim para ter ajuda”.

Ali Mussa olha para a forma como as crianças têm sido integradas nas suas famílias como algo improdutivo e estático, visto que pouco tempo depois, são as mesmas que regressam as ruas.

Por isso, segundo Ali, urge a necessidade de dotar as crianças de habilidades técnicas para a vida, pois, os meninos encontram-se nas ruas em busca de oportunidades, daí que sentiu a obrigação de formá-las em matérias de auto-sustento, através de conhecimentos básicos sobre a electricidade instaladora.

“Levar essas crianças, simplesmente, para a sua casa elas irão posteriormente voltar a rua, daí a ideia de criar um plano de capacitar e dar habilidades para a vida. Este programa de electricidade instaladora para crianças tem como finalidade formá-las para que depois possam ter um sítio onde vão estagiar e, quiçá,  ter direito de certificado”.

Para além de formá-las, Ali Mussa sonha em encontrar parceiros que, possam ajudar a disponibilizar kits para cada uma delas, pois, acredita que só assim elas poderão manter-se nas suas residências e deixar as ruas de uma vez por todas.

“Isso permitirá que elas saibam o que fazer quando estiverem em casa e também pode servir como uma maneira de se desculpar com os seus pais, dizendo: pai eu sumi, mas na minha ausência eu me formei, por isso vim com esse certificado e esse material, eu já sei trabalhar, e eu prometo não sair de casa”.

Com ajuda de mais dois voluntários, o jovem contou ao Ikweli que, neste momento, não dispõe de apoio de organizações, contundo, revelou que a única instituição que lhe abriu as portas para a materialização do sonho é a Direcção Provincial do Género, Criança e Acção Social.

“Nós estamos a lutar para ajudar essas crianças, porque se não fizermos isso, são elas que amanhã vão vender drogas e agredir os outros, não abraçar essas crianças estamos a contribuir com que as noites sejam mais escuras para elas. Agradeço a acção social que, oportunamente, chamou-me junto com a equipe dos professores para felicitar o trabalho e abrir um espaço de parceria para que possamos trabalhar em colaboração no sentido de convencer as crianças a voltar para casa e, se tiverem casos de violência na rua encaminhar a instituição”.

Actualmente, Ali Mussa conta com mais seis professores voluntários que se disponibilizaram a abraçar a causa.

Com idades compreendidas entre os 15 e 18 anos, os meninos contam igualmente com actividades extracurriculares como dança, desporto e teatro.

“Governo sentiu-se forçado a satisfazer o público

Recentemente, o governo através da Direcção provincial da Educação, veio a público para afirmar que se compromete em disponibilizar um espaço seguro para que o professor possa continuar a ministrar as suas aulas aos meninos de rua, uma vez que neste momento, as aulas são dadas no meio ao relento, (passeios).

Entretanto foram promessas que não passaram disso mesmo, pois de acordo com o professor, nunca foi procurado pela direcção da Educação. Para ele, o governo apenas sentiu-se forçado a satisfazer o público.

“Eu vi a notícia eles a dizerem que tem conhecimento do trabalho que tenho feito com as crianças e que iriam oferecer uma turma, te garanto que não fui procurado, ninguém veio aqui falar comigo sobre isso, eu esperava que um dia seria solicitado, até fui para a direcção da Educação, mas poucos sabiam do assunto, o governo simplesmente falou aquilo porque sentiu-se forçado porque tinha que satisfazer o público”.

Apesar disso, o jovem garante que continuará firme na busca para o melhor dos meninos e que, em nenhum momento, condenou o governo pelas promessas vazias, ainda sim, pedi que o voto feito ao público seja realizado.

“Não perdi a esperança, permaneço firme e continuo lutando, não condeno o governo porque eu notei que o trabalho que temos vindo a fazer é bem-vindo aos olhos deles e, dizer que mesmo o governo passa por dificuldades, por isso que eu não quero apontar e dar culpa a ninguém, se prometeram oferecer um lugar que ofereçam este espaço que não será para mim, mas sim para estas crianças”.

DPE limita-se em convidar o professor a procurar o sector

Por outro lado, em entrevista ao Ikweli,  Faruk Carim, porta-voz da Direcção Provincial de Educação (DPE), limitou-se apenas em convidar o professor a dirigir-se ao serviço distrital de Educação para que seja direccionado a uma Zona de Influência Pedagógica (ZIP).

“A ZIP vai dar um espaço a este professor para que leccione as suas actividades a este grupo de pessoas, este professor ao fazer isso não será negado porque ele acaba dando sustentabilidade aquilo que é o programa de alfabetização, este professor terá acesso ao material didáctico para os alunos e ainda terá direito a um subsídio de alfabetização. O que eu aconselho de forma imediata ao professor é aproximar-se aos serviços distritais ou mesmo a direcção provincial de educação para que seja orientado a sair da rua para um sítio apropriado”.

Faruk disse ainda ao Ikweli que a DPE não teve espaço ainda para fazer uma supervisão de forma a perceber o currículo usado pelo professor. Apesar disso, congratulam o professor pelo facto de ter introduzido cursos profissionalizantes para os petizes.

E mais uma vez, prometeu trabalhar com o professor, “vamos fazer sim um trabalho, neste momento os colegas responsáveis estão todos nos distritos, mas logo que eles voltarem, uma equipa irá ter com o professor”.

Faruk Carim, Porta-voz da Direcção Provincial da Educação, Nampula

“Prometemos sim, trabalhar com o professor porque preocupa-nos os currículos”.

Se houve promessa ou não, os meninos sentem-se satisfeitos com o processo de alfabetização e prometem seguir com o ensino.

Tal como explicou Ildo, um dos meninos de rua e aluno do professor Ali, o qual contou ao Ikweli que é natural da província do Niassa e que veio a Nampula para viver com a sua tia, entretanto, viu na rua uma oportunidade para melhorar a sua condição.

Foi na rua onde conheceu o professor Ali e através das suas aulas aprendeu a ler, falar inglês, bem como o espírito do perdão ao próximo.

Numa cadeira de rodas, Ildo faz-se presente diariamente as aulas do professor para poder aprender cada vez mais. Por isso, aconselha aos demais a aproximarem de forma a adquirir conhecimentos.

“Não sabia falar inglês, muito menos técnicas sobre a electricidade, nem ler não sabia, não sabia perdoar meu amigo, mas agora que eu sei. É melhor aproximar aqui na escola para aprender”.

Faisal Alberto é proveniente de um dos bairros mais conhecidos da cidade de Nampula, Namicopo, mas actualmente tem como residência, a rua.

Faisal disse sentir-se satisfeito com as condições em que as aulas são administradas visto que anteriormente, “não tínhamos quadro, cadeiras e cadernos, mas agora já temos. Antes não sabia falar bem português e muito menos inglês”.

Albertina Ussene, directora do Género Criança e Acção Social (DPGCAS), olha com bons olhos a iniciativa do professor de rua, por isso afirmou estar a trabalhar com o mesmo no sentido de manter as crianças longe do perigo.

Segundo Albertina, o DPGCAS disponibilizou uma tenda para que os mesmos passem a usar como sala de aulas.

“Nós tiramos eles da rua e disponibilizamos uma tenda para passarem a ter aulas, assim temos melhor controlo, porque muitas vezes as pessoas aproveitam-se dessa situação para tirar algum benefício e alcançar alguns objectivos”, concluiu a governante. (Ângela da Fonseca)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui