Nampula (IKWELI) – O sistema de saneamento do meio na cidade de Nampula, maior centro urbano do norte de Moçambique, está cada vez mais degradado, uma situação que se agudiza com a não recolha de resíduos sólidos.
A cidade cimento, assim como a periferia, está infestada de lixo, numa altura em que a urbe é assolada pela cólera.
O conselho autárquico, que tem o seu presidente Paulo Vahanle, suspenso de funções por ordens judiciais, nada faz para reverter o quadro de imundície que caracterizada aquela cidade.
As interpretações sobre o lixo nas ruas e nos bairros são diversas, mas há quem defende que, também, a fraca alfabetização dos munícipes pode estar a contribuir para o caos instalado.
Carlos Ramos, biólogo e ambientalista ao serviço da Associação de Educação de Jovens e Adultos de Nampula (ASEJANA), defende a necessidade da educação dos cidadãos para saberem lidar com resíduos sólidos.
Esta fonte entende que o não manuseamento devido do lixo pelos munícipes, também, tem a ver com o desconhecimento e negligência do impacto real da falta de higiene na saúde pública e ambiental.
“O analfabetismo ambiental está em muita gente, independentemente de nível [de formação]. O lixo que temos na nossa cidade de Nampula é resultado do analfabetismo ambiental, porque as pessoas não percebem o impacto dos resíduos na saúde da população e há situações que até o lixo devia ser tratado em casa, mas as pessoas não têm conhecimento e consciência do impacto dos resíduos sólidos”, elabora Ramos, recordando que estas situações resultam em problemas de origem ambiental nas comunidades.
No entender deste nosso interlocutor, se os munícipes tivessem conhecimento e vontade de gerir o lixo, a situação não estaria tão crítica na cidade de Nampula, pois, sobretudo os bairros periféricos, não teriam muitos resíduos sólidos, porque a população tratá-los-ia nos seus próprios quintais.
Por exemplo, nos bairros de Carrupeia e Namicopo, o Ikweli observou vários montes de lixo, os quais não são removidas há mais de 3 meses.
“Nesta área, em condições normais, o lixo não tinha que ficar por muito tempo, até ao ponto de estar espalhado no chão, cria mau aspecto”, comenta Alfredo Gabriel, morador de Carrupeia, recordando que “por exemplo, os grandes chefes passam daqui para chegar ao aeroporto. É muito triste e vergonhoso, mas mesmo eles conseguem ver e não resolvem nada. Eu não sei se é devido a falta de material de recolha de lixo, porque não faz sentido a cidade ficar tão suja sem nenhuma justificação”.
Em alguns casos, para resolver o problema, esta fonte disse que, com recursos próprios, tem pago a catadores de lixo no sentido de enterrarem parte do mesmo para que não invada o seu quintal, por isso apela aos gestores da autarquia para tomarem consciência sobre esta situação.
No bairro de Namutequeliua, o cenário não é diferente, tal como comenta Joana Taibo, que reside na não menos conhecida zona do campo dos macondes. “Esse lixo está acumulado aqui desde março de 2023 e o município não tira. As nossas crianças passam sem chinelos, e com as garrafas depositadas no mesmo lugar podem picar nos pés deles, e com a chuva que cai piora a situação”, disse, recordando o cheiro nauseabunda expelido pelo lixo.
Ali Manuel, que, também, reside em Namutequeliua, exige que a edilidade tome as rédeas e recolha o lixo. “Eu quero que o município tire o lixo para a cidade ficar limpa, porque não é aqui só onde há muito lixo, em todo o lado há, nas ruas e avenidas e, está a provocar moscas pelos cantos da cidade de Nampula, e acabam entrando nas nossas comidas, até a gente tem medo de falar quando caminhamos com medo de entrar moscas na boca, e pior ainda não há contentores para os munícipes poderem depositar o lixo”.
Enquanto nada acontece para a retirada do lixo, a cidade vai oferecendo a imundice como cartão-de-visita. (Nelsa Momade e Virgínia Emília)
