“Para combater o extremismo violento é preciso desfazer a ideologia extremista”, defendem líderes religiosos do norte de Moçambique

Nampula (IKWELI) – Os líderes de diversas congregações religiosas, baseados na região norte de Moçambique, entendem que para erradicar o extremismo violento que se regista na província de Cabo Delgado e um pouco pela província do Niassa, não basta apenas a intervenção do Estado no contexto militar, tanto como carece de desconstruir o idealismo extremista no seio da sociedade afectada e não só.

É nesta linha de pensamento que nestes dois dias, terça-feira e quarta-feira (12 e 13), os líderes juntaram-se em plenária, na capital provincial de Nampula, para construir narrativas de paz, justiça e reconciliação, através da cooperação inter-religiosa, onde participam líderes religiosas da Nigéria e Quénia. Aliás, naquele encontro prevê-se discutir sobre as teorias e conceitos básicos de conflitos, mediação e negociação, tudo com vista a desenhar estratégias de prevenção e mitigação de actos violentos que desestabilizam o Estado moçambicano, para além de resolução de conflitos inter-religiosos.

“O que acompanhamentos sobre o terrorismo em Cabo Delgado, neste momento, é a intervenção do Estado no contexto militar”, referiu Saíde Abibo, do Conselho Islâmico de Moçambique, o qual adianta que, “mas nós precisamos penetrar na ideologia, ver como é que ela foi construída e como recruta os nossos concidadãos e, a partir de dentro, começar a desfazer essa ideia trazendo alternativas. Portanto, esse ponto é essencial. Trabalhar com a ideologia, a doutrina extremista”.

Em entrevista, o líder Saíde Abibo sublinha que um encontro igual não constitui novidade para o mundo actual, principalmente os países que vivem o extremismo violento, esses Estados já desenham programas que visam combater o fenómeno que, segundo as suas palavras, não tem religião nem nacionalidade, trata-se de um fenómeno global.

Então, “a acontecer aqui no nosso país, precisamente aqui em Nampula, é uma iniciativa a louvar na medida que permite o envolvimento e a intervenção de vários sectores e extratos da sociedade, porque isso não é apenas tarefa do Estado. Neste tipo de encontros aproveitamos discutir com profundidade aquilo que seriam as medidas apropriadas para fazer face ao fenómeno”, observou.

Tal como o líder Abibo, o bispo Manuel Ernesto, da igreja anglicana, a reunião dos religiosos provenientes da região norte do país e outros países africanos pretende discutir e alargar os planos referentes ao diálogo comunitário, um dos mecanismos rumo à prevenção e combate ao extremismo violento.

Para Manuel Ernesto, a desconstrução das ideias no seio da sociedade vai fazer com que haja percepção dos males que os actos violentos causam à própria população e alerta, igualmente, o envolvimento directo da comunidade religiosa para mitigar não só os efeitos do terrorismo, quanto o seu combate.

“A nossa convicção é de que espaços como estes podem facilitar e ajudar para dissiparmos percepções, e cada comunidade veja o quê é que a outra comunidade tem, como sentimento, e juntos termos visão única da realidade. As percepções por vezes sufocam a realidade e as interpretações podem ser mais fortes do que se espera”, acrescentou o bispo da diocese anglicana de Nampula e Cabo Delgado, Manuel Ernesto falando em entrevista na cidade de Nampula. (Esmeraldo Boquisse)

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