Nampula (IKWELI) – As raparigas que são exploradas no comércio informal e ambulante na cidade de Nampula, no norte do país, queixam-se de estarem a ser vítimas recorrentes de assédio sexual por parte dos seus clientes.
Umas resistem, mas outras nem por isso, sendo que muitas vezes não sabem onde recorrer para pedir ajudar.
O Ikweli conversou com várias vítimas, as quais lamentam estarem a passar por situações dramáticas.
De 12 anos de idade, Manuela Estêvão, aluna da 6ª classe, disse que recorreu ao comércio informal por conta de não ter quem possa ajudá-la, pois a mãe, com quem vive, é desprovida de meios.
Esta menor diz que, quase todos os dias, lida com situações de assédio, pois há gente que se dirige a ela “com insultos e tentam, sempre, tocar-me em lugares impróprios. Quando tento repudiar, os rapazes insistem, isso não acontece apenas comigo, mas também com as outras meninas que praticam a atividade comercial nas ruas”.
Outra adolescente que se expõe a esses riscos na rua é Joana Alberto, de 15 anos de idade, órfã de pais, que vende banana e anánas no mercado grossista do Waresta. Esta menor vive com a sua avó e mais dois tios, os quais não produzem para a família, sendo que ela é obrigada a alimentá-los.
“O problema é ter que viver assédios todos os dias, com todo tipo de homem, principalmente os vendedores que, por vezes, quando me recuso a estas brincadeiras recorrem a insultos. Este comportamento tem sido desagradável para mim, tenho amigas que também praticam a venda de alguns produtos nas ruas e elas deixam-se violar por homens porque são seus clientes que tem ajudado”, disse esta adolescente.
Luísa Jaimito, de 17 anos de idade, não escapou destas investidas maléficas, tanto é que ficou grávida e agora tem um filho de 10 meses. “A gravidez foi resultado da vida do comércio, porque quando eu vendia era obrigada a fazer qualquer tipo de negócio para alimentação, temos muitas outras mulheres e meninas que vendem nas ruas e que sofrem assédio sexual e o mais triste é que os praticantes do assédio sexual que, por vezes resultam em gravidez precoce, não assumem a sua responsabilidade”.
Esta menor diz-se triste com o que lhe aconteceu, pois terminou ainda, em tenra idade, o ensino básico, mas, sem esperança, teve de abraçar o comércio informal.
Mariamo Julião, de 15 anos de idade, frequentando a 9ª classe, vive com os seus pais, mas o progenitor é o único com rendimentos na família, por isso ela vê-se obrigada a contribuir praticando o comércio informal. “Já sofri assédio e agora não admito, apesar de tudo, primeiro tenho ido à escola e depois me dedico a venda de produtos na sipal, mas as vezes é difícil fazer os trabalhos da escola”.
O Conselho Executivo Provincial de Nampula, através da direção provincial do Género, Criança e Acção Social, está ciente desta problemática, ainda que não tenha denúncias recorrentes e que possam ajudar a construir uma estatística sobre o fenómeno.
“Estamos muito preocupados com esta situação”, afirma a directora do sector, Albertina Ussene, prosseguindo que “a cada dia cresce o número de raparigas, aliás, crianças no seu todo, que praticam o comércio infantil nas ruas”.
“De acordo com os nossos estudos e análises, as crianças são expostas por várias razões porque cada uma delas vem de origens muito diferentes e outras a mando dos seus pais”, explica Ussene, que anota existir “outras que por iniciativas próprias e influência garantem a sua sobrevivência. Temos outras crianças que vêm dos distritos mais próximos, com a expectativa de viver com algum parente e acabam recorrendo as ruas da cidade de Nampula”.
Albertina Ussene anota ainda que “temos casos de raparigas que, infelizmente, foram vítimas de violação sexual, porque eram comerciantes. Nós fizemos um acompanhamento, em parceria com uma organização, no entanto, em conversa com as meninas elas dizem que ficam até tarde para vender porque saem de casa com uma determinada meta e ficam expostas a violação sexual e os violadores vem como oportunidade esta prática”. (Nelsa Momade e Ruth Lemax)