Executivo de Nampula preocupado com a falta de programas concretos para que jovens não se “percam”

Nampula (IKWELI) – O Governador da Província de Nampula, Eduardo Mariamo Abdula, reconhece que a falta de planos concretos para a inserção social dos jovens e os Naparamas pode ser, em parte, culpa de alguns dirigentes e da própria sociedade.

Abdula falava à margem da Sessão Ordinária do Conselho Executivo Provincial, alargada aos administradores e presidentes das oito autarquias da província de Nampula.

De acordo com o governante, é urgente que o Governo, a vários níveis, implemente medidas que transformem de forma definitiva a vida dos jovens Naparamas, muitos dos quais continuam sem oportunidades após abandonarem a vida de violência.

A sua intervenção surge meses depois de uma visita de trabalho ao distrito de Malema, concretamente ao posto administrativo de Mutuali, onde se registavam perturbações públicas protagonizadas por homens Naparamas. Após um trabalho de mobilização comunitária liderada pelo próprio governador, os homens aceitaram entregar as armas e outros materiais contundentes, num gesto de confiança e busca de reintegração.

“Aqueles não estavam naquela vida porque gostam ou querem estar naquilo. Nós reafirmamos, aqueles meninos, nós dirigentes, nós que estamos aqui na sociedade, transformamos aqueles meninos em Naparamas. O problema de Naparama é um problema nosso. Os meninos entregaram as armas, devolveram tudo de forma pacífica, eram violentos, sim, mas desde que entregaram até ontem, não tiveram nenhum programa de reinserção na sociedade. Todas as grandes organizações com quem falo mandam 16 pessoas para estudar, voltam; depois de um mês e meio vêm 23 estudar o mesmo assunto. Estou há oito meses a ver isso! Se eu pegasse aquele dinheiro já dava para comprar 10 tratores. Então, o que eu não quero é sermos iguais,” afirmou o governador.

O governante reiterou que o seu compromisso é com o povo e garantiu que vai trabalhar com determinação para tirar a população da miséria.

“Há dias recebi o PMA [Programa Mundial de Alimentação] com grandes projectos e grandes ideias. Estão mais falidos, mas o meu governo abriu-lhes a porta. Agradeci e disse: não preciso do vosso dinheiro. Não tragam nada, vêm aqui, fiquem no hotel, comam, vamos começar a trocar seminários por furos de água. Então, peço: localmente, aqui, não temos PMA, não temos Banco Mundial, estamos nós. O dinheiro é nosso. Em poucos dias, o director da Agricultura e o de Planos e Finanças trabalharam com estas equipas, eles são meus assessores, mas eu quero um plano. Porque, se não me derem um plano dentro dos prazos, eu vou carregar os tratores e vou trabalhar com os meus administradores.”

Eduardo Abdula disse ainda estar cansado de teorias e de projectos apenas no papel, defendendo ações concretas que garantam desenvolvimento real e sustentável.

“Estou cansado de coisas escritas, quero trabalho na íntegra. Estou cansado de teorias, estou cansado mesmo. Como eu disse, a minha idade não dá para esperar muito tempo. Mas eu peço o vosso apoio. Temos boas pessoas, dirigentes com muito conhecimento. Vamos buscar também algumas outras pessoas que trabalham nas organizações internacionais para a área da agricultura e do agronegócio.”

O governador destacou ainda que Moçambique tem um potencial agrícola suficiente para se tornar um grande produtor mundial de alimentos.

“Nós, em Moçambique, temos um horizonte de terra para produzir. A Europa e a Ásia estão a ficar sem espaço de produção. Estou a dizer não porque li, eu vivi lá, fiquei anos a viver. Eles transformaram a terra deles em prédios, desenvolveram autoestradas e perderam espaço de produção, já não produzem comida, e nós não estamos a aproveitar para produzir e vender para eles, ou até para consumo. Sempre que vem aqui um presidente ou ministro, algumas dessas grandes companhias que temos pedem audiências para se queixarem, dizendo que não há divisas para importar girassol. Como dizem na gíria, o colono não levou a terra, não levou a nossa inteligência. Por que é que nós não podemos nos juntar e unir esforços com aqueles que sabem, independentemente da sua filiação partidária ou política? Eu quero ideias de todos. Depois, em 2029, vamos discutir os pesos e ver com quem fica o quê. Mas, para já, vamos produzir comida.”

Na ocasião, Eduardo Abdula apelou à união de esforços entre o Governo, sociedade civil e parceiros locais, defendendo que o desenvolvimento de Nampula não deve depender apenas de apoios externos, mas sim do trabalho colectivo e da valorização do potencial interno da província. Para o governador, o futuro de Nampula e dos seus jovens depende de ações práticas, cooperação e compromisso real com a transformação social e produtiva da região. (Malito João)

Hot this week

Nampula: Frelimo junta-se ao apelo do governador para apoiar deslocados de Memba

Nampula (IKWELI) – O partido Frelimo, na província de...

Giquira “arruma” cerca de mil próteses para munícipes que necessitem

Nampula (IKWELI) – Pela primeira vez, o conselho municipal...

UniRovuma aperta o cerco à corrupção académica

Nampula (IKWELI) – A Universidade Rovuma (UniRovuma) está a...

Escola secundária de Napipine solicita FDS para garantir segurança durante a realização dos exames finais

Nampula (IKWELI) – O director da escola secundária de...

UniRovuma cria sala modelo para reforçar produção de materiais pedagógicos para as classes iniciais

Nampula (IKWELI) – A Faculdade de Educação e Psicologia...

Topics

spot_img

Related Articles

Popular Categories

spot_imgspot_img