Nampula (IKWELI) – Na cidade de Nampula, algumas mulheres que aparentam ser comerciantes informais, sobretudo de produtos alimentares como bananas e outros géneros, escondem na verdade uma segunda atividade, a prostituição.
Falando ao Ikweli, algumas destas mulheres admitiram que recorrem a esta prática como forma de aumentar os rendimentos e conseguir cumprir com as suas obrigações financeiras, especialmente no âmbito das poupanças rotativas conhecidas por xitique.
“Não te enganem, existem vários tipos de mulheres que fazem esse trabalho, umas estão nas ruas a vender banana, mas quando aparece alguém interessado em sexo, elas aceitam, eu também faço este tipo de negócio, mas só com valores mais altos, nunca por 100,00Mt (cem meticais),” revelou uma das entrevistadas.
Pressão das poupanças comunitárias
Na urbe, é crescente o número de mulheres que participam em esquemas de poupança comunitária (xitique), muitas vezes sem uma atividade comercial sólida que justifique os valores que conseguem juntar. Esta situação levanta desconfiança entre os homens e causa tensões familiares.
Margarida José, participante de um grupo de poupança, afirmou que muitas mulheres recorrem a este expediente porque não recebem apoio dos seus maridos. “Os homens não querem ajudar as suas esposas, por isso muitas acabam colocando chifres nos maridos para conseguir pagar o xitique,” disse.
Nestes grupos, segundo ela, há até uma espécie de competição entre mulheres “quem não consegue poupar muito dinheiro é apontada como matreca,” acrescentou.
Reações da comunidade
Para alguns homens, esta prática põe em causa a confiança no seio familiar.
Paulo Cândido considera preocupante a forma como certas mulheres apresentam ganhos incompatíveis com os seus pequenos negócios
“Não faz sentido uma mulher que, no dia inteiro, vende apenas 500,00Mt (quinhentos meticais) em bananas e, no final, aparece com 2.000,00Mt (dois mil meticais) isso é estranho, precisamos ser vigilantes, porque assim passamos o tempo a ser enganados,” afirmou.
Já Faife Manuel, entende que este comportamento mancha a imagem das mulheres que trabalham honestamente.
“Isso suja as que se esforçam com dignidade para sustentar as suas famílias, muitas fazem xitique escondidas dos maridos e acabam se prostituindo. Seria melhor que pedissem apoio aos seus companheiros, em vez de recorrerem a esses métodos obscuros,” defendeu.
De acordo com relatos recolhidos pelo Ikweli, esta realidade tende a aumentar à medida que nos bairros multiplicam os grupos de poupança. Para muitas mulheres, não participar significa correr o risco de ser considerada “atrasada” ou de menor valor perante as demais. (Malito João)