Nampula (IKWELI) – O governo da província de Nampula deve mais de 50 milhões de meticais em subsídios a mais de dois mil alfabetizadores, entre homens e mulheres alocados nos Centros de Alfabetização e Educação de Adultos e Jovens (AEAJ).
Trata-se de uma dívida contraída desde o segundo trimestre do ano de 2023, período a partir do qual os educadores deixaram de receber os seus direitos.
O Ikweli apurou que, no total, a dívida do governo ultrapassa os 56 milhões de meticais, correspondentes a subsídios em atraso para cerca de 2.900 alfabetizadores voluntários, que lecionam a aproximadamente 85 mil alfabetizandos em toda a província de Nampula.
A situação tem causado enorme preocupação entre os alfabetizadores, que são obrigados a recorrer a empréstimos para cobrir necessidades básicas das suas famílias. Por isso, apelam à rápida intervenção do governo local, no sentido de responder às suas exigências.
Esta informação foi partilhada na tarde desta terça-feira (19), durante uma visita aos Centros de Alfabetização e Educação de Adultos, nos arredores da cidade e do distrito de Nampula.
O diretor provincial da Educação (DPE) de Nampula, William Tunzine, explicou que o não pagamento dos subsídios aos alfabetizadores, também reconhecidos como educadores de adultos, deve-se à falta de fundos no sistema de educação provincial.
“Na província de Nampula, temos cerca de 85 mil alfabetizandos na área de Alfabetização de Jovens e Adultos, apoiados por cerca de 2.900 alfabetizadores voluntários. Reconhecemos que temos enfrentado dificuldades no pagamento dos subsídios a esses alfabetizadores, e esta situação não é exclusiva de Nampula, mas sim a nível nacional. Desde o segundo semestre de 2023 e durante todo o ano de 2024, até julho, não conseguimos efetuar os pagamentos. No caso específico de Nampula, estamos a falar de uma dívida de cerca de 56 milhões de meticais. A falta de pagamento deve-se à ausência de fundos, que deveriam ter sido transferidos para a nossa Direção Provincial da Educação, assim como para os Serviços Distritais de Educação, Tecnologia e Juventude de Nampula,” explicou.
Apesar do cenário atual, Tunzine assegurou que existe uma “luz verde” a nível do sistema educacional que poderá permitir o pagamento dos subsídios já a partir de setembro próximo.
“Existe uma janela que já se abriu a nível do sistema, e provavelmente no próximo mês conseguiremos pagar os subsídios referentes a este ano, assim como saldar parte da dívida acumulada dos anos anteriores,” garantiu.
A equipa de reportagem do Ikweli ouviu ainda alguns alfabetizadores, popularmente conhecidos como educadores de adultos, alocados em vários centros de Alfabetização e Educação de Adultos (AEA) nos arredores da cidade de Nampula, que manifestaram preocupação com a situação, relatando que já estão há mais de três anos sem receber os subsídios, sem qualquer explicação oficial por parte do governo local.
Momade Martino, alfabetizador, disse estar profundamente agastado com a situação, que é do conhecimento das autoridades distritais e provinciais, mas sem que haja qualquer esforço visível para a sua resolução. Revelou que, em 2023, recebia um subsídio mensal de apenas 650,00Mt (seiscentos e cinquenta meticais).
Por sua vez, Sorte Ussufo Ali, diretor da Escola Básica de Namutequeliua, que também acolhe um centro de Alfabetização e Educação de Adultos, destacou que, apesar das dificuldades, os cinco alfabetizadores (quatro mulheres e um homem) continuam a exercer suas funções, mesmo sem receber os subsídios a que têm direito. (Virgínia Emília)