Artistas de Nampula se queixam da exclusão dos projectos de assistência e patrocínio criados pelo governo

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Nampula (IKWELI) – Fazedores de artes e cultura baseados na província de Nampula, no norte do país, queixam-se da sua exclusão no benefício dos projectos de assistência e patrocínio criados pelo ministério moçambicano da Cultura e Turismo.

A titular da área, Eldevina Materula, esteve em visita de trabalho no maior círculo eleitoral do país, e foi num encontro realizado com os artistas que estas queixas vieram à tona, incluindo a ideia de que apenas artista do centro e sul do país são os que se têm beneficiado.

O projecto “Arte no Quintal” foi um dos casos bastantes criticado na referida reunião havida na última sexta-feira (30 de Abril). Esta iniciativa foi lançada em 2020, por forma a alavancar os artistas dentro do período da pandemia da covid-19 que não permite a actuação destes.

Para este ano, 2021, o ministério da Cultura e Turismo se propõe a desenvolver o projecto “Cantante”.

“O que eu fiz referência é que os projectos são bem-vindos nas províncias, tendo em conta a situação da pandemia da covid-19, onde começamos a fazer o uso das tecnologias de ponta, sobretudo, a Internet para a divulgação dos nossos trabalhos. Mas, para o caso da província de Nampula, tal como as outras, temos artistas nos distritos recônditos que não usam telefones com sistema Android, não usam essas plataformas digitais, como é que será para estes artistas? E nós como Associação provincial havemos de ser questionados sobre isso. O que diremos? Então, estávamos a chamar atenção no sentido de se olhar, também, os artistas que estão nas zonas recônditas, de modo que sejam beneficiários destes projectos”, disse o músico e compositor Sebastião Damas.

Para sustentar a sua preocupação, Sebastião Damas que, também, é secretário geral da Associação dos Músicos de Nampula (AMUNA) usa o projecto “Arte no Quintal” que, segundo ele, “este projecto foi difícil. Nós tentamos concorrer e nenhum de nós conseguiu. Como sabe, o domínio da Internet alguns começaram agora, pelo menos eu não tenho nome de nenhum artista daqui de Nampula que tenha conseguido se inscrever no Arte no Quintal, por isso chamo mais atenção a ministra para que se possa rever a criação e implementação destes projectos”.

Damas que já está na carreira há mais de 20 anos, avança mais que a falta de um fundo de apoio as iniciativas culturais, constitui mais uma outra preocupação dos fazedores das artes e cultura, uma vez, de acordo com ele, os artistas precisam de editar os seus trabalhos e não têm como por falta de fundos.

Então, “se houver um fundo de apoio as iniciativas culturais, mas que esteja descentralizado a nível das províncias para permitir que o artista possa beneficiar, seria bem-vindo para os artistas. Esta é a maior preocupação, o artista quer algo que possa lhe sustentar e dar alavanca aquilo que é a sua actividade”, referiu Sebastião Damas, para quem “daquilo que é a minha experiência de pouco mais de 20 anos nunca ouvi e vi que alguém de Nampula teve acesso ao financiamento directo, por isso nos questionamos o que está a se passar. Creio que há outras províncias que devem estar na mesma situação”.

Outro artista que considera como sendo superficiais os projectos do Ministério da Cultura e Turismo é Dias Vasco Coutinho, escritor, declamador e músico da cidade de Nampula. Para ele, seria um júbilo por parte dos artistas quando se desenha um projecto, mas que tudo vai continuar na mesma porque vários projectos lançados morrem nas gavetas, ou seja, apenas são anunciados e não beneficiam aos artistas.

Com o projecto CANTANTE anunciado pela Edelvina Materula, Dias Vasco Coutinho ou simplesmente Jacaré, continua a ser pessimista ao afirmar que “em relação a este projecto digo que não sou optimista, só posso acreditar quando estiver a acontecer, isto porque já tivemos Arte no Quintal que foi lançado e que não vimos o cumprimento deste projecto. É uma tristeza saber que se fez lançamento de um projecto, mas que o mesmo não beneficia os próprios artistas”.

“Muitas vezes os projectos são lançados para os moçambicanos e, infelizmente, uma pequena parte dos moçambicanos se beneficia desses, são aqueles que não se encontram cá em Nampula, maior parte está na capital do país. Eu faço parte dos escritores e músicos, esta camada toda anda atrás dos financiamentos, mas em nenhum momento beneficiam. Temos os poetas, artesãos, músicos, modelos, entre outras manifestações artístico-culturais que não se beneficiaram. As vezes as pessoas chegam aqui na província parece uma questão de apenas cumprir uma agenda política e basta, chegam e produzem os seus relatórios triunfalistas enquanto os artistas continuam na mesma, com suas obras apenas cá em Nampula e não vão mais longe”, rematou.

Tal como os outros artistas entrevistados pelo Ikweli, Alex Júnior, músico e presidente da Associação dos Músicos de Nampula (AMUNA), é um dos que se mostra ressentido ao recordar que “nós tivemos o fundo de apoio as iniciativas culturais e o Arte no Quintal, são projectos criados pelo governo para apoiar a classe dos artistas a nível social, mas nenhum artista se beneficiou com estes projectos. Portanto, são projectos muito bem desenhados, mas que não nos beneficiam aqui”.

Para Alex Júnior a província de Nampula criou a Associação dos Músicos de Nampula no sentido de se descentralizar as actividades no sector da arte. De acordo com ele, o que acontece é que a província de Nampula está longe da capital moçambicana, o que faz com que os projectos elaborados pelos artistas desta região demorem chegar e, consequentemente, não sejam aprovados.

A estas e outras inquietações, a governante não se predispôs a responder. O Ikweli tentou entrevistá-la a respeito, mas ela se fez de rogada, limitando-se apenas a falar dos objectivos da sua visita a Nampula. (Esmeraldo Boquisse)

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