Nampula (IKWELI) – Pode ser o último truque que o partido Renamo encontrou para forçar seus membros a serem fiéis às ideologias da agremiação que, ultimamente, até desconfia da sua própria sombra. Antes da tomada de posse para a presente legislatura na Assembleia Municipal da Cidade de Nampula, o partido liderado por Ossufo Momade obrigou a todos membros eleitos para aquele órgão de fiscalização e deliberação a assinar uma carta de renúncia ao cargo.
O objectivo da assinatura antecipada da carta de renúncia de mandato na Assembleia Municipal era no sentido de que cada membro continuasse dentro dos carris de Ossufo Momade e seus pares na liderança do então segundo maior partido na política moçambicana e quem ousasse descarrilar e cometer indisciplina seria o fim do seu pão.
Todos os membros assinaram a tal carta de renúncia e foram orientados a não colocar a data, e a má sorte bateu a porta de Pedro Casimiro Mussa. A referida carta assinada em fevereiro de 2024, muito antes de tomarem posse, só viria a ser autenticada no passado dia 24 de Junho de 2025, mas sem o conhecimento do renunciante. Portanto, o notariado recebeu e autenticou sem a presença nem a documentação original do visado.
Ao assinar a carta de renúncia antes de tomarem posse, Pedro Casimiro Mussa explica que foi devido ao medo, pois no seio da agremiação nenhum devia dizer “nho” perante a liderança do partido, sob risco de naquele mesmo momento ser substituido.
“Nós não percebíamos qual era o teor daquela renúncia. Mas, na semana passada eu fui ligado pelo meu chefe da bancada para um encontro, não pude comparecer porque estava na prova de vida na instituição onde trabalho. Então, percebi porque as pessoas que participaram na reunião disseram-me que lá houve alguma proposta de as pessoas serem retiradas da Assembleia Municipal, porque a delegada provincial da Renamo disse que deviam retirar essas pessoas. Não sei porque, se for assunto de quota, por exemplo, não pode afectar um membro,” começou por contar Pedro Casimiro Mussa.
“Então, logo ontem aparece oficialmente aquela carta, eu recebi no whatsapp a carta, onde aparece a alteração da data, aliás, fomos ditos para não preencher a data, e o documento aparece autenticado, mas quando estivemos a fazer essa reunião de concertação, no ano passado, não havia autendicidade dessa renúncia aí. Mesmo eu não entreguei nenhuma documentação, nem meu BI para os notariados,” prosseguiu explicando Mussa.
“O que piora a situação é onde apanharam o documento para se entregar lá de uma forma presencial, porque segundo alguns artigos, para reconhecer um documento tem que entregar alguns documentos. Está aqui o problema, eu não reconheço que já entreguei algum documento para esse reconhecimento,” indignou-se um dos homens mal vistos na Renamo.
“Eu não parei, vou fazer a minha carta, vou submeter na Assembleia Municipal para ver qual será o posicionamento da Mesa, caso não, vou seguir outros procedimentos legais para repor a ordem dessa situação,” prometeu Pedro Casimiro Mussa.
A Renamo inclusive já apresentou o substituto de Pedro Casimiro Mussa na Assembleia Municipal. Trata-se de Horácio dos Santos Raque, de acordo com um documento que deu entrada na Assembleia Municipal da Cidade de Nampula, na data de 26 de Junho de 2023 (esta data pode ser o erro da pessoa que recebeu o documento na secretaria da Assembleia Municipal), com a referência N/RefoNo030/DP-C/GD/NPL/2025 de 24 de Junho de 2025.
Este acontecimento regista-se a poucos dias da realização de mais uma sessão ordinária da Assembleia Municipal da Cidade de Nampula, portanto agendada para os dias 3 e 4 de Julho do ano em curso. Igualmente, a decisão da Renamo aparece numa altura em que emitiu um comunicado para os órgãos de comunicação social impedindo aos membros da agremiação de prestar qualquer declaração à imprensa, sem que seja credenciado para o efeito.
Sobre esta matéria a Renamo ao nível da cidade e província de Nampula ainda não se pronunciou. Aliás, segundo apuramos, o partido provavelmente poderá falar à imprensa neste sábado. (Constantino Henriques)
