Nampula (IKWELI) – A província de Nampula, a mais populosa do país, continua a ser fustigada pela desnutrição crónica, sobretudo em crianças menores de cinco anos, bem como mulheres grávidas.
Dados actuais apontam uma prevalência de 46,7%, isto é, em cada 100 crianças 47 menores de idade sofrem da desnutrição crónica.
Apesar destes dados representarem uma tendência de redução em relação a 2013, que era de 50,1%, o governador de Nampula, Manuel Rodrigues, entende não fazer sentido que a província continue a ser vítima deste mal, uma vez ser uma das maiores produtoras agrícolas do país, para além da produção animal.
Na explicação para as altas taxas de prevalência da desnutrição crónica na província de Nampula, estão os hábitos alimentares, pelo que o governante reitera a necessidade do contínuo envolvimento de todos actores da sociedade para estancar este mal, através da difusão de mensagens nas comunidades.
Manuel Rodrigues salientou esta ideia posição no decurso da quarta sessão do Conselho Provincial e Segurança Alimentar e Nutricional (COPSAN) que teve lugar nesta terça-feira (12) na cidade de Nampula, que tinha em vista a reflexão sobre o quadro geral de segurança alimentar e nutricional da mais populosa província de Moçambique.
“A questão da desnutrição crónica na nossa província de Nampula é aquela que apoquenta principalmente os menores de 5 anos, mas também mulheres grávidas, e é este grupo que naturalmente demonstra e nos garante o futuro desta província de Nampula. Aliás, não nos esqueçamos que na nossa província o número de crianças ronda os 3,4 milhões, cerca de 52% do total da população na nossa província, que representa 21% da população total do nosso país”, referiu o governador.
“Uma situação que é muito mais desafiante por reconhecermos que a nossa província, em termos de disponibilidade de alimentos, não pode ser considerada como um grande condicionante, porquanto, só na campanha agrária passada registamos uma produção global de mais de 12 milhões de toneladas de produtos agrícolas diversos. Portanto, nós produzimos muita comida, temos a disponibilidade produtos nutritivos como ovo, temos uma costa banhada por 10 distritos, onde o pescado é muito capturado, o que quer dizer, por outras palavras, que não é por falta de alimentos para a prevalência da desnutrição crónica em crianças menores de 5 anos, mas também em adultos na província de Nampula”, prosseguiu o chefe do Conselho Executivo Provincial.
Rodrigues avança que “assumimos que estão em jogo, neste processo de prevalência da desnutrição crónica na nossa província, os mitos e os tabus alimentares. Por isso, vem em nós a necessidade de conjugação de sinergias entre o sector público, os nossos parceiros, aos líderes comunitários, religiosos, a sociedade civil, incluindo os nossos parceiros de comunicação social para a disseminação massiva de mensagens sobre a boa confecção de alimentos para a nossa população.
A mesma preocupação, também, foi manifestada pelo Secretário de Estado na Província de Nampula, Jaime Neto.
“Por isso esperamos de todos participantes bom debate e reflexões que possam nos permitir terminar a nossa sessão com os objectivos cumpridos olhando sobretudo o período da época chuvosa que se avizinha que é caracterizada pela ocorrência de ventos extremos e que muitas vezes colocam em causa a segurança alimentar e nutricional das populações nas zonas afectadas”, disse Jaime Neto no seu discurso de abertura da referida sessão.
Enquanto isso…
A embaixada da Noruega assinou, ainda nesta semana, dois acordos no valor total de NOK 63 milhões (aproximadamente US$ 6 milhões) com os parceiros GAIN e Fundação Aga Khan.
Esses fundos adicionais destinam-se ao apoio à segurança alimentar e são uma resposta directa à crise alimentar provocada pela guerra na Ucrânia que afecta especialmente as economias em desenvolvimento como a de Moçambique.
O anúncio desse pacote extraordinário foi feito pela Ministra de Desenvolvimento Internacional da Noruega, Anne Beathe Tvinnereim, durante a sua visita a Moçambique em maio deste ano, e demonstra o compromisso do seu país Noruega em apoiar países que enfrentam desafios significativos em termos de segurança alimentar devido a eventos globais.
“Temos o prazer de dar seguimento a este compromisso com a assinatura hoje de dois acordos com a Fundação Agha Khan e a GAIN, e estamos ansiosos em ver os resultados concretos destas intervenções,” diz o Embaixador, Haakon Gram-Johannessen durante a cerimónia de assinatura.
O Diretor Nacional do GAIN, Gaspar Cuambe, enfatizou “Desde que começamos a colaborar com a embaixada, temos estado activos em diversas áreas, destacando-se a construção de mercados e o apoio financeiro às pequenas e médias empresas. Também estamos empenhados em mobilizar todo o setor privado em Cabo Delgado para impulsionar a produção de alimentos nutritivos e seguros.”
“A fundação Aga Khan agradece à Noruega pela colaboração duradoura que remonta a 2004, quando decidimos unir forças para apoiar a província de Cabo Delgado. Com grande orgulho e satisfação, posso afirmar que, desde então até hoje, mantivemos uma sólida parceria. Esta assinatura representa mais um bloco na construção contínua deste edifício conjunto que estamos a construir,” declarou Agostinho Momade, Director Nacional da Fundação Aga Khan. (Constantino Henriques e Redação)