- Mas Namicopo não deixou créditos em mãos alheias, até há óbitos.
Nampula (IKWELI) – Ao cair da noite da última terça-feira (12), o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, convocou a imprensa para apelar aos trabalhadores, funcionários públicos e toda a sociedade para não parar com as suas actividades nesta quarta-feira em que, alegadamente, inicia a 4ª fase das manifestações de repúdio dos resultados eleitorais.
Venâncio Mondlane, candidato suportado pelo partido PODEMOS, que ficou em segundo lugar nas eleições de 9 de outubro passado, segundo resultados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), é quem convoca as manifestações, pois, no seu entender, venceu o escrutínio, por isso deve ser proclamado Presidente da República.
“Queremos convidar todos aqueles que trabalham, que vamos trabalhar amanhã, as crianças vão fazer exame amanhã, porque aqueles que atacam a ordem e segurança pública estão a nos ouvir e nós estamos a dizer basta”, disse Rafael, prosseguindo que “se for necessário nós vamos responder, mas também eles vão responder, se o caminho é o Tribunal Penal Internacional eles também têm que ir para lá, em nenhum país do mundo se permite que um cidadão quer golpear e nem na democracia mais antiga, Grécia, não há isso”.
Para convencer aos cidadãos para saírem de suas casas, esta fonte assegurou que a “Polícia da República de Moçambique garante a ordem e segurança para os moçambicanos que vão se fazer sentir aos seus locais de trabalho, também, incluindo objectos tecnológicos económicos, sociais a partir da quarta-feira (13), colocando basta as manifestações ao nível do país”.
Entretanto, na cidade de Nampula, capital do maior círculo eleitoral do país, apesar de algum foco de desestabilização da ordem pública, a vida corre no seu normal.
O comércio, tanto o formal, assim como o informal, flui. As unidades sanitárias estarão a receber pacientes e nas escolas os alunos realizam os exames finais.
“Vim a escola porque tinha que vir receber os testes que fiz”, disse ao Ikweli um aluno na escola secundária de Nampaco, o qual avançou que “muitos dos nossos colegas vieram, a vida aqui na escola está no seu normal”.
Declaração idêntica acolhemos na escola básica dos Limoeiros, onde o aluno Zacarias Martins anotou que “tinha que vir na preparação de exames, preciso estudar para me formar”.
O mesmo cenário notamos na escola mais populoso do país, Mutomote, no mítico bairro de Namutequeliua.
Enquanto isso, um grupo de manifestantes amotinou-se e bloqueou a rua da França com barricadas e pneus queimados, nos arredores da cidade de Nampula.
Segundo apurou Ikweli, a situação resultou em gritos, choro da população, enquanto as crianças a correrem de um lado para outro, sobretudo saindo da escola primária.
A agitação dos manifestantes obrigou a chegada dos agentes da lei e ordem e de seguida a rua da França se transformou quase em deserto, pois começou tiroteio e lançamento de gás lacrimogéneo com vista a dispersa a multidão.
A nossa equipa de reportagem vivenciou, “in loco”, um cenário de famílias que abandonaram as suas residências na rua da França com medo de ser alvejado por balas perdidas.
Óbitos em Namicopo
Mas nem tudo é um mar de rosas, pois depois da contenda na rua da França, as unidades especiais da PRM começaram a “caçar” possíveis líderes dos manifestantes no bairro de Namicopo, onde, indiscriminadamente foram atirando contra indefesos e nos seus quintais.
Dados colhidos no terreno apontam o baleamento mortal de uma pessoa e perto de 5 vítimas contraíram ferimentos graves.

Uma das vítimas de baleamento é um pedreiro, que encontrava-se a trabalhar numa casa, portanto, sem ligação com o movimento das manifestações. (Aunício da Silva, Malito João e Virgínia Emília)