Na complexa tapeçaria das finanças globais, os movimentos de mercado raramente mentem. Eles são o barómetro mais frio e imparcial da saúde de uma nação. E o que os mercados internacionais nos disseram esta semana, de forma inequívoca, é que Moçambique está a viver o seu momento de viragem mais decisivo desde a reestruturação de 2018.
A recente valorização extraordinária dos nossos títulos de dívida soberana (Eurobonds 2031) não é um acidente estatístico; é um “choque positivo” de confiança. Com os rendimentos (yields) a caírem abruptamente 24 pontos-base para se fixarem em 12,5% – o nível mais baixo desde Novembro de 2022 – e o diferencial (spread) face aos títulos do Tesouro norte-americano a quebrar a barreira psicológica dos 1000 pontos-base, os investidores estão a enviar uma mensagem clara. Saímos da zona de “stress financeiro agudo” para entrar no território da recuperação credível. Este ajustamento técnico valido, em tempo real, que a liderança do Presidente Daniel Chapo inaugurou um novo ciclo de rigor, pragmatismo e esperança.
Como historiador, habituei-me a olhar para os ciclos longos, mas como estratega, sei identificar os pontos de inflexão imediatos. Estamos a viver o “Efeito Chapo”: um fenómeno onde a credibilidade da liderança antecipa a estatística económica.
A tríade da confiança: o “Efeito Chapo”, o gás e a gestão profissional
Esta recuperação assenta em três pilares robustos que o nosso governo ergueu com mestria diplomática e técnica.
1. O “Efeito Chapo” e a Âncora do FMI
O catalisador primário desta recuperação foi a clareza estratégica demonstrada pelo Presidente Daniel Chapo. Ao confirmar, em entrevista à Bloomberg, a retoma das negociações formais com o Fundo Monetário Internacional (FMI) logo no início de 2026, o Chefe de Estado ofereceu aos mercados a “âncora” de que precisavam. Os investidores, num movimento de antecipação racional, não estão a olhar apenas para o presente; estão a “comprar” a disciplina fiscal e as reformas estruturais que este novo programa garante. A “Nova Visão” é um compromisso quantificável com a ortodoxia financeira que já está a ser precificado positivamente por gestores de activos de Nova Iorque a Londres.
2. O Desbloqueio Energético: TotalEnergies e Coral Norte
A confiança financeira é alicerçada na economia real. A par da autorização para o reinício dos trabalhos da TotalEnergies em Cabo Delgado, tivemos a aprovação estratégica do projecto Coral Norte pela Eni. Não estamos dependentes de uma única aposta; estamos a construir um ecossistema energético diversificado na Bacia do Rovuma. Para os detentores da nossa dívida, isto traduz-se numa garantia de solvabilidade futura: os fluxos de divisas necessários para honrar os compromissos de longo prazo estão a ser assegurados hoje, graças à estabilização da segurança e à diplomacia económica do governo.
3. Gestão Profissional da Dívida
A decisão de contratar a consultora de renome global Alvarez & Marsal para desenhar a Estratégia da Dívida 2026-2029 sinaliza sofisticação, não fraqueza. Estamos a tratar os nossos credores com seriedade e transparência, focando-nos numa gestão inteligente de maturidades (reprofiling) e não em incumprimentos. Moçambique está a agir com a maturidade de um Estado que conhece o seu potencial e sabe negociar o seu futuro.
Um Convite ao Investimento
Moçambique não está a pedir complacência; está a oferecer oportunidade. Somos uma economia que, apesar dos desafios fiscais de curto prazo, demonstra uma resiliência notável. O mercado já percebeu o que muitos ainda debatem: a volatilidade ficou para trás.
Aos nossos parceiros e credores internacionais, a mensagem é simples: o “Sinal de Maputo” está ligado. A combinação de liderança política credível, riqueza energética desbloqueada e rigor financeiro criou uma janela de oportunidade única. O momento para acreditar em Moçambique – e lucrar com o seu crescimento – é agora.
PS: Para o contexto, ler
https://tinyurl.com/eurochapo (Obrigações de Moçambique disparam com otimismo dos investidores face à aproximação ao FMI)
Sumário da notícia
Os títulos da dívida moçambicana lideraram os ganhos nos mercados emergentes depois de o Presidente Chapo confirmar um novo programa do FMI para o início de 2026. Os investidores reagiram com euforia a este compromisso com a disciplina fiscal, o que fez os juros das obrigações de 2031 caírem para mínimos de novembro. Esta aproximação sinaliza a ortodoxia financeira necessária para recuperar a confiança internacional e estabilizar a economia após as tensões pós-eleitorais. O mercado interpreta esta manobra como a garantia crítica de suporte técnico e liquidez que o país precisa urgentemente
Por: Egidio Vaz | Historiador | Estratega de Comunicação | Deputado da Assembleia da República – Comissão do Plano e Orçamento, II Comissão | egidiovaz.com





