Nampula (IKWELI) – A poucos metros da encantadora praia de Chocas Mar, localizada no distrito de Mossuril, em Nampula, famílias que tiveram suas casas destruídas aquando da passagem da tempestade tropical severa JUDE, no mês de março do corrente ano, continuam a viver em condições precárias.
Tudo o que se pode ver em Mossuril, são rachas grossas, casas sem teto e até algumas sem paredes, cenário que contrasta com o encanto carregado por aquela vila que atrai aos finais de semana, feriados, e transições de ano, milhares de turistas, entre nacionais e internacionais.
Histórias como a da senhora Agira Abudo, de 60 anos de idade, mãe de 9 filhos, que hoje vive graças a boa vontade vizinhos, são as mais comuns no atrativo distrito de Mossuril. ” Quando veio a primeira chuva, apenas tinha caído uma parede e cozinha, conseguimos colocar plásticos, mas a segunda chuva derrubou toda casa, era por volta das 17 horas que a casa caiu, uma vez que a casa era de 4 águas. Esta casa onde estou a viver com a minha família fui emprestada com pessoas de boa fé.”
Além da casa, dona Agira perdeu suas criações, e até documentos, por isso clama ” Gostava de pedir ao governo que nos ajudasse com a questão de casas, essas casas que estamos a viver agora fomos emprestadas, estamos a viver só, mas com receio.”
Durante a queda da casa, o filho da dona Agira contraiu ferimentos, uma experiência que a cria tristeza e no fundo um sentimento de alívio, pois entende que o pior poderia ter acontecido.
Dona Alima Cohaua de 33 anos de idade, também teve sua casa destruída pela fúria do Jude. Com três filhos menores, a nossa entrevistada teve que refugiar-se na escola primária de Chocas Mar, de onde teve que sair por pressão dos directores e encarregados de educação. “fui me alojar na escola primária, fiquei muito tempo lá. Recebemos mantas, lonas, lanternas, cerrote, panelas e pratos. Agora muitas pessoas tiveram que sair da escola, porque a educação estava reclamando por conta de espaço para os alunos estudarem.”
Para a nossa entrevistada, o governo deveria traçar um plano de dar empréstimos a população de modo a ajudá-los na reconstrução de suas residências “Se o governo tivesse formas, poderia pelo menos nos dar empréstimos para construirmos as nossas casas, porque para eu me sustentar tenho que vender pedras, um balde de 10 litros faço 20 meticais, é a única fonte de renda que garante a alimentação da minha da minha família.”
Mariamo Asmi de 21 anos, mãe de dois filhos é outra que teve sua casa destruída pelo Jude e devido a isso até ao momento vive na escola primária de chocas com seus dois filhos menores. “Minha casa caiu, perdi meus documentos como cartão de recenseamento, cartão de saúde das crianças e até agora ainda não consegui tratar os documentos, porque isso tudo requer dinheiro.”
Asmi, reconhece que contou com sorte, porque se assim não fosse, a parede teria caído por cima de um dos seus filhos. “Por sorte, aquela parede não caiu por cima das crianças, quando fomos nos acomodar, recebemos arroz, óleo, mantas e lonas.”
E acrescenta, “Gostava de pedir que o governo nos ajudasse não só na questão de casas, mas também na questão de documentos para nós que perdemos, seria bom que não cobrassem no registo para facilitar-nos nestes documentos. Por exemplo, por causa das minhas filhas serem menores, não posso ser atendida por não ter cartão de saúde, eu acabo dando paracetamol para ver se as dores passam. Às vezes dou medicamentos e tenho medo que em algum momento possa fazer mal as crianças.”
“Perdemos nossas comidas, cama, assim como nossas roupas, no tempo que aconteceu isso tudo, corremos para escola primária chocas mar, ficamos lá cerca de 20 dias. Passando aqueles dias, vimos melhor voltarmos para a nossa casa e tentar reorganizar, aproveitamos aquela corda que tínhamos recebido lá na escola, estamos a tentar pouco a pouco, mas sei que não será fácil uma vez que não temos um valor para comprar material de construção,” disse ainda Fátima Eriacaro, de 40 anos de idade, uma família composta por 6 pessoas.
Outro que deu entrevista ao nosso jornal é o senhor Ernesto De Sousa, de 57 anos de idade, pai de 6 filhos. O Senhor Sancar é um exemplo doloroso das adversidades enfrentadas pelas famílias afectadas pelo Jude, “perdi minha casa, 12 patos e 10 galinhas, não tem sido fácil, mesmo agora estou aqui a tentar reorganizar minha casa, estes mestres não foram pagos, me deram vale, então é complicado, dói muito mesmo.”
Para agravar o problema, ele conta que o apoio prometido nunca chegou, pois o secretário do bairro alegava que a pesca seria renda suficiente para que ele pudesse reerguer-se. “O secretário tinha amigos dele que e ele apostava somente a eles, quando eu perguntava, sempre me dizia espera, estou a fazer lista de velhos, você é jovem e tens trabalho.”
Entretanto…
A chefe do posto administrativo de Chocas Mar, Carolina Bizarde, explicou ao Ikweli que o governo do distrito não tem no momento um plano de rebilitação de casas para a população. “O plano que temos é sensibilizar as famílias a construírem modelos mais resilientes, mas plano de construção mesmo, o governo não tem, desde que começou o ciclone, dependemos de parceiros.”
E ainda declarou,” O plano de construção de casas resilientes em exercicio está a ser financiado por um parceiro, em Muanona 2, onde contamos com 69 casas planificadas, e até agora 30 já estão a ser erguidas para vítimas de inundações, depois vamos mostrar o modelo as outras comunidades para que sigam o mesmo.”
Segundo o INGD, o ciclone Jude destruiu parcialmente 32 229 casas, 32 934 totalmente destruídas, entre outras infraestruturas públicas e privadas afectadas. (Atija Chá e Felismina Maposse)