Nampula (IKWELI) – Pela primeira vez, o Hospital Central de Nampula (HCN), maior unidade sanitária da região norte de Moçambique, irá levar a cabo uma campanha de cirurgia de cancro de pele para mais de 30 pessoas com problemas de pigmentação de pele, conhecido como albinismo.
Trata-se de uma campanha que terá lugar entre os dias 2 a 7 de junho de 2025, a ser levada a cabo pela organização não-governamental espanhola África Direto, com mais de 30 anos de actuação em países africanos.
A informação foi partilhada em conferência de imprensa nesta segunda-feira (19) pelo médico dermatologista do HCN, Marcelo Banquimane, que explicou que a campanha contará com a presença de duas dermatologistas espanholas, que trabalharão em estreita colaboração com médicos especialistas locais.
Segundo Banquimane, o objectivo da iniciativa é essencialmente identificar e operar pessoas com albinismo que apresentem lesões cancerosas na pele, resultantes da exposição solar prolongada, uma das principais causas de morte precoce nesta comunidade.
“É uma campanha direcionada a pessoas que tem problemas de albinismo. Vamos fazer o rastreio e tratamento das lesões, inclusive cirurgia de cancro de pele. Neste momento temos uma média de 36 pacientes mapeados.”
Numa primeira fase, serão intervencionadas pacientes provenientes dos distritos de Nampula, Moma, Muecate, Nacarôa, Nacala e Larde respectivamente.
“Esta é uma campanha exploratória composta por uma missão de médicos que tem feito essas actividades, principalmente na zona sul já há alguns anos, concretamente Maputo, Gaza e nos últimos anos, estenderam para Tete, Sofala. Sabendo que tínhamos uma grande parte de pessoas vivendo com albinismo em Nampula, solicitamos esta missão para que nos apoiasse no tratamento e eles irão igualmente nos apoiar com a distribuição de protetores solares.”
Em entrevista ao Ikweli, o Coordenador da Associação Amor à Vida, Valter Mussa, partilhou que a nível da província de Nampula o distrito de Moma ostenta maior número de pessoas com problemas de pigmentação de pele e até o momento conta com mais de 40 casos.
“Até hoje, verificamos o distrito de Moma como o que conta com maior incidência de casos, mas há uma parte da nossa associação assim como do governo que estão ainda a receber dados. Mas no momento mais de 40 pessoas com albinismo e que precisam de um acompanhamento um pouco acelerado foram identificados no distrito de Moma,é uma preocupação.”
Segundo a fonte, foram 120 pessoas mapeadas, entretanto, nesta fase piloto 36 é que necessitam de intervenção cirúrgica.
“O restante vai se fazer um acompanhamento, porque tem a parte da cirurgia e das consultas, ou seja, vamos fazer um seguimento para ver o desenvolvimento de cada caso e se formos a verificar de acordo com cada patologia e enfermidade, vai se verificar se alguns desses poderão beneficiar de uma próxima campanha.”
A fonte considera a campanha uma oportunidade para as pessoas com problemas de pigmentação de pele, uma vez que estavam condenadas a viver com essa situação sem que pudessem beneficiar de uma intervenção cirúrgica.
“Trata-se de uma intervenção que vai impactar significativamente na vida dessas pessoas que padecem de diversos problemas dermatológicos e que nunca passaram por um procedimento de intervenção, ou seja, para nós é um salto gigante (…), por isso, queremos adiantar que é uma campanha piloto e vai depender dos resultados que vamos obter para prosseguir com próximas campanhas para atender maior número de pessoas de forma permanente.”
Vale referenciar que o projeto surge no âmbito da missão contínua da África Directo de combater o cancro de pele entre as pessoas com albinismo, uma população extremamente vulnerável, não só do ponto de vista médico, como também social, devido à persistência de mitos e discriminação. (Ângela da Fonseca)