Angoche (IKWELI) – Algumas raparigas do distrito costeiro de Angoche, a sul da província de Nampula,estão cada vez mais independentes no que diz respeito a liberdade financeira, isso porque decidiram abraçar o ramo do empreendedorismo para o seu auto–sustento e das suas famílias.
Trata-se de uma realidade que tende a ultrapassar certas barreiras que as mulheres enfrentam no distrito, uma vez que em Angoche é um ponto em que a Violência Baseada no Género é considerada um dos principais desafios sociais, precipitada pornormas sociais conferirem ao homem o poder de decisão no seio familiar, enquanto a mulher, muitas vezes, precisa da aprovação do marido e enfrenta as imposições sociais.
Por conta disso, o distrito de Angoche tem sido um dos locais com elevado índice de uniões prematuras e gravidezes precoces, devido, também, a pobreza extrema.
No entanto, o governo de Moçambique tem vindo a lutar para mudar esse paradigma, por issoimplementa programas e projetos que visam elevar a figura da rapariga na sociedade, por forma a que ela não se sinta e não seja marginalizada. Uma das quais tem sido programas de educação financeira,através de pequenos cursos que posteriormente poderão ajudar na criação de autoemprego.
O Ikweli conversou com algumas raparigas do distrito, que decidiram quebrar tais barreiras e apostaram na formação para o seu bem-estar, como é o caso de Rabia Adamugy, de 22 anos de idade, que após concluir o ensino secundário arriscou em abraçar o curso de agricultura.
A mesma conta que enfrentou preconceito no seu seio, porque alguns vizinhos a pressionavam para se casar, mas ela decidiu, mesmo assim, em apostar na formação.
“Era difícil ouvir pessoas a dizerem que estou a perder tempo. Mas o mais importante para mim é que eu tinha apoio dos meus pais.”
O apoio dos pais fez com que a jovem conseguisse terminar o curso com excelência, e hoje, em dia, conta com um espaço de cerca de 43 hectares, onde consegue produzir mandioca, arroz e milho.
“Com esses produtos consigo ter dinheiro. Por exemplo, por semana, posso ter 1.200,00Mt (mil e duzentos meticais) ou 1.300,00Mt (mil e trezentosmeticais), enquanto que por mês dois a três mil para comprar minhas coisas e ajudar minha família. Hoje eu sou independente, comprei um telefone.”
Adamugy apela as raparigas a lutarem cada vez mais pelos seus direitos, apostando ainda mais na formação.
“As meninas devem preocupar-se em apostar em pequenos cursos para um futuro melhor. Por exemplo, o curso que eu fiz de agricultura me ajuda a ser mais independente.”
Enquanto isso, Ancha Momade, jovem de 26 anos de idade, está a cursar culinária. A mesma justifica que a escolha do curso tem a ver com o desejo de crescer na vida, uma vez que o seu sonho é abrir um negócio que traga mais benefícios ao próprio distrito.
“Eu quero ser a visão para Angoche. Eu notei queem Angoche não tem muito turismo. Apostando na minha formação posso ser útil para o distrito e, assim, poderei ajudar mais raparigas a se afastarem das uniões prematuras.”
Cantina Alfredo Tomossa, de 22 anos de idade, formou-se em hotelaria e turismo e apesar dos desafios que enfrentou, hoje já sorri e se considera um exemplo para o meio em que se encontra, por ter ultrapassado certas barreiras.
“Antigamente eu passava por muitas situações por falta de dinheiro, mas após a formação, fui empregada em uma das estâncias hoteleiras aqui no distrito, lá eu preparo refeições e com o salário que ganho consigo ajudar a minha família.”
Com 25 anos de idade, Dulce Jaime decidiu apostar no curso de pesca, para ter mais técnicas sobre o manuseamento do mesmo, uma vez que antes limitava-se apenas na venda de peixe fornecido pelos pescadores sem nenhum tratamento.
“Quando vi a oportunidade me inscrevi e tive capacitação. Eu vendo peixe na minha comunidade. Eu vendia peixe, mas não sabia como processar para ter mais qualidade. E agora avalio de forma positiva, pois com as técnicas que aprendi tenho tido mais clientes. Vendo muito peixe, não só para o meu distrito, mas para a província toda. Consigo oferecer um produto bom aos meus clientes.”
Por isso, entende que as raparigas de Angoche devem aproveitar as oportunidades que são lançadas pelo governo, assim como algumas empesas privadas, por forma a alcançar a independência financeira e não serem vítimas de uniões prematuras ou abusos relacionados com a violência baseada no género. (Ângela da Fonseca)