Nampula (IKWELI) – As organizações da sociedade civil estão preocupadas com o nível de desconhecimento e preconceito que gira em torno do uso do preservativo feminino, bem como o índice de seroprevalência do HIV em mulheres na região norte de Moçambique.
Por forma a quebrar tais pensamentos, a província de Nampula acolheu na quinta e sexta-feira da semana passada um Fórum Regional Norte das Redes de Mulheres e Jovens contra o SIDA.
Trata-se de um evento levado a cabo pela Associação Sócio Cultural Horizonte Azul (ASCHA), em parceria com a Kutenga em coordenação com o governo da província de Nampula, que visa, dentre outras matérias, fornecer assistência técnica e mobilizar as organizações de base comunitária lideradas por mulheres e jovens na implementação da estratégia de combate ao HIV e SIDA.
Gilda Jamal, activista social de Angoche, revelou que na comunidade onde reside persistem questões relacionadas com a desinformação, sobretudo nas mulheres em relação ao uso do preservativo feminino, mas também tem pouca decisão quando se trata da sua vida sexual.
“Sabemos que muitas vezes as mulheres é que contraem o HIV porque elas não estão preparadas e tem medo de negociar sobre o sexo antes. Na minha comunidade tem preservativos femininos, mas as próprias [mulheres] não usam, dizem que dói ou que incomoda, elas usam mais para fazer pulseiras”.
Por isso, entende que o fórum poderá lhe ajudar a ter mais informações sobre o método por forma a engajar mais mulheres a tomar uma decisão no uso do preservativo para reduzir o índice de prevalência do HIV/Sida.
Filomena José, ativista no distrito de Rapale, explicou igualmente que uma das dificuldades está relacionada com a falta de confiança do preservativo feminino.
“As outras meninas têm medo que o preservativo penetre e não consigam tirar, dai que pedimos que haja mais aconselhamento, mais explicação na maneira de usar o preservativo para que os homens assim como as raparigas possam confiar mais no preservativo feminino”.
O sheik Abdala Omar, da província do Niassa, fez saber que no passado haviam tabus relacionados com o uso do preservativo, sobretudo na esfera religiosa.
“Houve muita resistência para chegar ao consenso de que o preservativo é um instrumento de extrema importância não só para a prevenção do HIV, mas também a prevenção de muitas outras doenças”.
Entretanto, por conta dos vários movimentos que visam incentivar o uso dos métodos e prevenção já há uma abertura para o seu uso.
“Entendia-se que estão a contradizer algumas escrituras sagradas, mas depois foi se explicando de que o objetivo não é expandir a doença, mas sim prevenir. Esperamos que ao sair daqui haja réplica para que a população ganhe consciência relativamente ao uso do preservativo com instrumento de prevenção”.
Já a diretora Executiva da ASCHA, Dalila Macuacua, explicou que um dos objetivos do fórum é, também, discutir estratégias para o envolvimento efetivo de homens e rapazes em programas de saúde sexual e reprodutiva e criar procura para o uso do preservativo.
“Nós acreditamos que ao refletirmos ao nível da região norte, vamos buscar estratégias sobre como enfrentar essas barreiras que influenciam para que tenhamos índices elevados de HIV, principalmente agora com o fechamento de programas que apoiavam Moçambique para responder as necessidades da comunidade que vive com o vírus”.
Importa ressaltar que o fórum que previa igualmente a presença dos participantes de Cabo Delgado, conta com a presença de 70 delegados provenientes das províncias do Niassa e Nampula, assim como organizações da sociedade civil, lideranças religiosas e comunitárias entre outros. (Ângela da Fonseca)