Nampula (IKWELI) – Pelo menos 35 (trinta e cinco) pessoas perderam a vida em consequência da fome que assola o distrito de Muecate, em Nampula, ainda que as autoridades governamentais locais entendam que a causa é ainda desconhecida.
Destas, 25 (vinte e cinco) pertenciam a mesma família, e todas as vítimas residiam na comunidade de Xequixe, tal como informou Florência Alface, administradora de Muecate, durante a sessão do Conselho Provincial de Segurança Alimentar e Nutricional (COPSAN).
Esta fonte refere que as mortes vêm ocorrendo desde o mês de Janeiro do corrente ano, de forma recorrente sem se saber a principal causa, mas não descarta a possibilidade de insegurança alimentar estar na origem dos óbitos, considerando que o distrito que dirige apresenta focos de fome e que a população se socorre do farelo para se alimentar.
Mety Gondola, Secretário de Estado da província de Nampula, fico chocado com a informação, por isso na referida sessão por ele dirigida prometeu que trabalho árduo será levado a cabo para descobrir as reais causas dessas mortes.
“O que vamos fazer dentro de dias é dar a conhecer, com dados eficazes, sobre o que estará por detrás desta situação, e naturalmente vermos que medidas temos que tomar de imediato, por forma a evitar que tenhamos cenários similares no futuro, mas duma forma pontual podemos referir que não é uma situação contínua, é algo que ocorreu e está a se trabalhar no assunto para termos os detalhes, e se estudar medidas a se tomar e o apoio a famílias enlutadas”, garantiu Gondola.
Enquanto isso…
O governo está ciente que a queda irregular de chuvas na mais populosa província do país, desde Outubro do ano passado, 2020, tem vindo a abalar a segurança alimentar da população, e em consequência há distrito que apresentam indícios de bolsas de fome.
Na Iª sessão ordinária do COPSAN, Mety Gondola confirmou que “vão existindo sinais de bolsas de fome, ocorrência de situação de pessoas que estão consumindo frutas silvestres por razão de ausência de disponibilidade de alimentos, por isso era importante juntar todos os actores e cruzarmos a informação. O que temos a dizer, nesse momento, é que se reconhece que ao nível da província de Nampula, de uma forma geral, a situação é preocupante porque as chuvas não ocorreram dentro de uma regularidade que permitisse que a produção pudesse responder positivamente”.
Este governante partilhou que a situação não está a acontecer de forma homogénea ao longo de toda a província, mas que do lado do interior existe um cenário que inspira confiança e do lado costeiro, a situação é diferente, e para a mitigação da situação, deu a conhecer que há um conjunto de acções que estão a acontecer, e fez menção do papel dos parceiros em apoio programático e as organizações que têm estado a disponibilizar insumos agrícolas, para que se possa aproveitar as chuvas que nos últimos tempos vão ocorrendo.
“Nós temos estas intervenções, mas mantém-se ainda a preocupação relativamente a alguns dos pontos e em razão disto, foi adoptado o termo de referência em relação a um trabalho mais aturado que nos permita com toda segurança e detalhes possíveis e dar a conhecer a situação em relação em alguns distritos, postos administrativos e localidades”, acrescentou.
Durante a reunião, alguns administradores dos distritos confirmaram a existência de famílias nos seus territórios que devido a falta de comida, vão ingerindo, como comida, coisas que até no ano passado não eram comestíveis.
Abduremane Selemane, administrador de Nacala-A-Velha, confirmou que no seu distrito, existe um universo de 600 famílias que devido a falta de comida, estão a consumir uma espécie de capim para, pelo menos,enganar o estômago uma vez por dia.
“As famílias levam aquele capim, pilam e depois levam a farinha que sai para fazer papas e comer com as crianças”, disse Selemane.
“No meu distrito muitas famílias estão a consumir farinha de farelo, porque não há comida e durante uma visita que efectuei numa delas, serviram para mim e comi pensando que era de milho e só fui descobrir depois de algumas complicações que tive, que na verdade se referia de uma farinha de farelo”, afirmou a administradora de Nacarôa. (Alfredo Célia)