Nampula (IKWELI) – O sector de saúde em Nampula está preocupado com o consumo de drogas na província, e por conta disso, quer reduzir os danos nos usuários com a implantação de uma clínica que será inaugurada no próximo dia 28 do mês em curso.
A informação foi tornada pública esta quarta-feira (26), durante uma conferência de imprensa, onde o Chefe do departamento de Assistência Médica no Serviço Provincial de Saúde, Carlos Samuel, disse que a implantação da clínica surge no âmbito do Plano Nacional de Combate a Droga e Redução de Danos.
Em Nampula, por exemplo, só no ano 2024, mais de 23 mil utentes procuraram por consultas de psiquiatria por conta de perturbações mentais decorrentes do consumo de drogas e substâncias psicoativas como álcool e tabaco. E por se tratar de um problema de saúde pública, o sector de saúde em coordenação com o gabinete de combate a drogas e o núcleo provincial de combate ao HIV/Sida, a fundação de desenvolvimento comunitário incluindo um parceiro comunitário com o nome UNIDOS, estão a levar a cabo as intervenções de redução de danos, sobretudo para usuários de drogas injetáveis.
Segundo a fonte, nesse local será feita a administração de Metadona diariamente aos usuários de droga como a heroína, apenas de forma voluntária, com vista a criar desinteresse pelas substâncias pesadas.
“É um tratamento de manutenção que substitui a heroína e pouco a pouco vai criando esse desinteresse dos usuários e provavelmente dois ou três anos depois eles podem por si só parar de consumir. Para além da oferta desta substância substitutiva, também tem um pacote que nós chamamos de paragem única, onde faz-se o rastreio de tuberculose, hepatites e o próprio manejo.”
Carlos Samuel, igualmente, partilhou que do mapeamento feito pela UNIDOS em 2022, foram rastreados 3.675 consumidores e desse número, apenas 17 voluntariam-se para aderir ao serviço.
“Esse número é assustador, por isso mesmo a estratégia de redução de danos, não é para exigir uma paragem brusca, porque pode criar danos avultados, razão pela qual há essa administração do medicamento de forma de manutenção e a pessoa precisa ir todos os dias e se for algo forçado não vai funcionar.”
Durante a entrevista, a fonte clarificou ainda que a introdução da Metadona, não significa que o sector esteja a promover o uso de drogas, mas sim visa reduzir os danos do consumo tanto no usuário, bem nas pessoas ao seu redor, como familiares, amigos.
Além da clínica, prevê-se ainda montar um centro comunitário no local onde há boca de fumo onde os usuários partilham as mesmas seringas o qual será instalado no bairro de Napipine. Neste momento, decorre a recolha das seringas usadas para posterior distribuição de um kit de parafernália composto por seringa descartável, agulha e caixa incineradora.
“Sabemos que neste grupo específico por causa desta prática, o índice de infecção por HIV e Hepatites é extremamente alto e isso pode dar sobrecarga ao sector de saúde e não só, a forma como se faz o descarte dessas seringas tem algum impacto ambiental (…) por isso mesmo, para além dessa clínica, temos a distribuição de parafernália, caixa incineradora para o descarte organizado depois do uso da agulha. Nessa equipa, teremos uma equipa composta por psicólogo clínico, agentes de comunicação e de limpeza que farão a recolha do material usado.”
Vale realçar que a clínica que será inaugurada nesta sexta-feira (28) pelo Secretário de Estado da província, foi instalada no recinto do centro de saúde 25 de Setembro, sendo que a província de Maputo já conta com quatro unidades similares. (Ângela da Fonseca)