Nampula (IKWELI) – Andar de transporte semi-colectivo de passageiros na cidade de Nampula virou um autêntico martírio. O fenómeno de encurtamento de rotas ganhou vida, perante um olhar impávido das autoridades municipais locais.
Cumprir uma rota por completo, na cidade de Nampula, virou uma excepção, havendo rotas em que os passageiros são obrigados a apanhar até 4 “chapa-100”, porque os operadores decidem, abusadamente, interromper a viagem.
Por exemplo, a rota Polígono/Mercado Waresta, via avenida do Trabalho, tem vários pontos em que os operadores fazem o encurtamento.
Saindo do Polígono, há quem decida terminar em frente a estação dos CFM, como também nas bombas da Total na interceção entre as avenidas do Trabalho e 25 de Setembro, mais adiante encurta-se a rota na paragem da Sipal e, por fim, na zona da antiga Gorongosa ou então no Trim Trim. O mesmo acontece no sentido inverso.
Igualmente, verifica-se na rota Muahivire Expansão/Mercado Waresta, via avenida Paulo Samuel Kankhomba. Para quem sai do Muahivire Expansão é obrigado a fazer ligações nos pontos de Naloco, Prédios Maconde, Hospital Central de Nampula, CFM, Total, Sipal e Trim Trim.
Para cada um desses pontos, o passageiro é obrigado a pagar 10,00Mt (dez meticais), sendo que uma viagem de ida e volta pode custar entre 60,00Mt (sessenta meticais) a 80,00Mt (oitenta meticais).
O conselho autárquico da cidade de Nampula sabe do fenómeno, mas pouco faz para colocar um fim nesta triste situação.
A justificação tem sido de que os utentes devem denunciar para que os prevaricadores sejam sancionados. Até criou uma linha verde para o efeito, mas ao que tudo indica é pouco publicitada, como também pouco usada.
Enquanto isso, os munícipes somam prejuízos. “Essa situação é horrível. Pagamos muito caro o custo de transporte semi-colectivo aqui na nossa cidade,” comenta a munícipe Jéssica Manuel, que afirma que “se a polícia municipal [e de fiscalização] estivesse na rua a trabalhar bem, essa situação podia mudar”.
“O que mais incomoda é que a polícia municipal nunca está na rua para resolver esses problemas. Quando está na rua, está acompanhando a Polícia de Trânsito e extorquindo os chapeiros,” comenta Pedro Arlindo, que vive em Nampaco.
“Isso é uma autêntica roubalheira. O município faz-se de que não está a ver, mas acredito que sabe muito bem o que se passa e somente não quer agir, parece estar a proteger interesses de alguém,” afirma Daiade Baltazar, que vive em Muahivire Expansão.
Dona Matilde, que vive em Natikiri comenta que “essa situação é complicada. Imagine para nós que temos filhos que estudam no centro da cidade. Devem apanhar, pelo menos, 2 chapa-100, sem excluir a nós que, também, trabalhamos na cidade”.
“Eu trabalho em Muahivire Expansão, sou obrigada a pegar, pelo menos, 3 chapa-100 na ida e igual número na volta. É muito oneroso,” refere Paulo José.
O que dizem os “chapeiros”
“Combustível está caro. As estradas estão podres, se cumprirmos com a rota ficamos sem receita,” justifica-se Pedro, que faz a rota Muhala Expansão/Substação, via Matadouro, prosseguindo que “pelo menos se o município pensa-se em aumentar os preços que cobramos seria bom, poderíamos chegar aos extremos das nossas rotas”.
Juma, que trabalha na rota Polígono/Waresta, via avenida do Trabalho, sabe que está a agir fraudulentamente a encurtar as rotas, mas diz não ter alternativa para garantir o cumprimento de suas metas. “As vezes é porque não temos mesmo alternativa. Precisamos de colocar o pão na mesa, cuidar da nossa família e ainda dar receita ao patrão”.
“O razoável seria ou baixar o preço dos combustíveis ou aumentar o preço de chapa-100, assim não encurtávamos a rota,” concluiu Josué Brito, operador na rota Muahivire Expansão/Substação. (Aunício da Silva)