Nampula (IKWELI) – Com pouca aderência do público e com a presença de mulheres sem mussiro na cara, celebrou-se nesta segunda-feira (3) o dia dos Heróis Moçambicanos, efeméride que visa homenagear aqueles que, com bravura, deram suas vidas na luta pela libertação total e completa de Moçambique, no jugo colonial português.
Este ano, diga-se a bem da verdade, a praça dos heróis moçambicanos, localizada mesmo em frente da Academia Militar Marechal Samora Machel, registou uma presença desabitual do público, desconhecendo-se de concreto as reais causas, não se descartando, por outro lado, a hipótese da instabilidade que o país enfrenta, desde que foram divulgados os resultados eleitorais de 9 de Outubro de 2024, os quais deram vitória a Daniel Chapo, como Presidente da República e o partido Frelimo com maioria parlamentar, o que gerou uma série de manifestações.
Nos “anos normais”, a praça dos heróis moçambicanos localizada na capital provincial tem sido inundada de gentes de diferentes extratos sociais, com mulheres a aproveitar o palco para exibirem sua beleza embelezada pelo famoso mussiro (massa branca de uma planta que quando posta na cara confere outro espetáculo nas donas das casas), acompanhado por aquela capulana. Desta vez foi diferente, excepto uma ou duas, incluindo a cantora Dama Bela que cantou e encantou com a sua música que retrata a figura de Marcelino dos Santos, um dos poucos heróis moçambicanos reconhecidos com génese na mais populosa província de Moçambique, Nampula.
Outro dado que merece destacar, é que o 3 de Fevereiro deste ano não contou com gente que usa as cerimónias de Estado para a promoção dos símbolos e cores partidárias. Desta vez, nenhuma bandeira dos partidos políticos foi vista a flutuar a praça dos Heróis Moçambicanos. Mesmo as capulanas e camisas dos partidos, não se fizeram sentir, exceptuando um e outro teimoso que escalou o local com trajes de uma formação política. A Organização da Juventude Moçambicana, OJM, também não teve uma actuação asfixiante e trombosante, comparativamente a outros dias de exaltação dos heróis da pátria amada.
Mas no meio disso tudo, mensagens de esperança de dias melhores para a província de Nampula e seus habitantes não faltaram. Eduardo Mariamo Abdula, governador daquela parcela moçambicana, por exemplo, reafirmou que durante a sua governação tudo fará para dar a dignidade que o povo Nampulense merece, tendo destacado a promoção da empregabilidade e harmonia social, como alguns desafios, mas para isso reitera a necessidade da união, força e determinação de todos.
“A nossa província, a semelhança do país e do mundo, atravessa tempos difíceis. São vários desafios desde alterações climáticas, o combate ao terrorismo, insegurança alimentar e nutricional, vulnerabilidade, desemprego, especialmente no seio da juventude, instabilidade social, dificuldades económicas entre outras”, começou por contextualizar Eduardo Mariamo Abdula, governador de Nampula.
“Estas situações requer de nós, independente da raça, origem étnica, sexo, convicções e opiniões políticas, religiosa ou extracto social, uma união e coesão, como moçambicanos, para colocarmos Nampula no mapa das regiões prósperas e exemplares de Moçambique”, prosseguiu.
Para o timoneiro de Nampula, “esta missão é de todos nós, daí que devemos fazer com união, força e determinação, a missão ontem confiada aos nossos heróis, hoje é confiada a todos nós, cada um no seu sector de actividade, dando a sua valiosa contribuição para o desenvolvimento da província de Nampula. Devemos estar cientes que o contributo de todos nós, é muito valioso para a economia da nossa província, por isso devemos nos manter sempre vigilantes às acções dos nossos irmãos que não querem que avancemos para patamares mais altos desta nossa missão”.
Por outro lado, Eduardo Mariamo Abdula lamenta e condena as manifestações violentas que o país registou que culminaram na perca de vidas humanas e destruição de infraestruturas públicas e privadas.
“Com isso queremos aproveitar esta ocasião para apelarmos aos nossos jovens para que não enveredem às acções de vandalismo que ontem registamos em algumas cidades e vilas da nossa província. Como o Conselho Executivo Provincial, comprometemo-nos a fortalecer o papel dos jovens e das mulheres o desenvolvimento integral, inclusivo e sustentável da província. Vamos promover a empregabilidade essencialmente da camada juvenil e a harmonia social. No geral, vamos trabalhar de forma diferente para alcançarmos resultados diferentes, conforme refere o nosso Presidente, nas diferentes áreas de actividade, de modo a garantir o melhor para a nossa população que tanto espera de nós, pois só assim, estaremos a imortalizar os nossos heróis e garantir bem-estar das gerações futuras”, precisou o governante.
O Secretário de Estado na Província de Nampula, Plácido Nerino Pereira recordou, na ocasião, de que as manifestações violentas só atrasam o desenvolvimento do país.
“As manifestações pós-eleitorais e a forma violenta como estão decorrendo, não contribuem para o fortalecimento e consolidação da nossa unidade nacional que o saudoso Eduardo Mondlane e seus companheiros apregoaram. Elas desvirtuam o sentido da união, alimentam e adiçam a intolerância política e nos tiram do foco da luta comum para o desenvolvimento da nossa província e do nosso país. As destruições das infraestruturas públicas e privadas só contribuem para esvaziar os esforços empreendidos nos últimos anos, pelo Estado e pelo governo, com vista a melhoria das nossas condições de vida e retroceder o nosso desenvolvimento”, disse Plácido Pereira.
Para o governante, “o Estado somos nós todos, ao destruirmos infraestruturas do Estado estamos a autodestruirmos. Ao celebrarmos esta data importante, cada um de nós deve fazer uma Indro inspeção e reflecção individual e colectiva de forma a desencorajar a prática de actos de violência que destroem o tecido social e económico da nossa província e do nosso país no geral, pautando pela busca e valorização do diálogo franco e aberto, como via eficaz para a solução dos problemas que nos afligem”. (Constantino Henriques)