Em consequência das manifestações: Empresários continuam a navegar em águas turvas em Nampula

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Nampula (IKWELI) – Os comerciantes e empresários da cidade de Nampula continuam ainda sem horizonte para reorientar-se das perdas e danos decorrentes das manifestações políticas de repúdio de resultados eleitorais que tem grassado o país.

Uma das áreas mais afectadas durante as diversas fases de manifestações, é a do comércio, pois durante as etapas, diversos estabelecimentos comerciais foram saqueados e alguns reduzidos a cinza por supostos manifestantes. 

Alguns comerciantes do maior círculo eleitoral do país, Nampula, contaram ao Ikweli que os prejuízos foram inúmeros e a incerteza quanto ao futuro é o que reina no seu meio. 

A título de exemplo, Chauale Paulo, de nacionalidade moçambicana, conta que “as manifestações afectaram muito mal a área comercial, também criou luto nas famílias, para o meu caso particular, o meu estabelecimento tinha mais de 220 mil quilogramas de produtos diversos e foram vandalizados, arrombaram o meu portão e por isso perdi toda mercadoria. Também recordo-me que desde o início da prática comercial, muito antes das manifestações, vinha sofrendo ameaças de roubo na minha loja e era obrigado a procurar outro jovem para empregar com a intenção de garantir segurança e mesmo assim tudo isso foi em vão.”  

Chauale recorda, com dor, o fatídico dia em que todo o esforço empreendido durante anos foi abaixo. “Tudo aconteceu no período das 16h, depois do anúncio final dos resultados eleitorais, daí que maior parte das barracas foram vandalizadas, então ainda há um medo de voltar a investir na loja que muitas vezes ajudava no sustento familiar, para além do acesso a educação, entre outas necessidades básicas.”

Cidadãos de nacionalidade estrangeira, que migraram a Moçambique com o intuito de praticar a actividade comercial, também não escaparam à empreitada dos supostos manifestantes.

Amado Ramadan é refugiado, oriundo do Níger, e é praticante da actividade comercial desde 2013. O nosso interlocutor está preocupado, porque tudo está destruído. “Estou em Moçambique desde 2007 e em 2013 consegui abrir uma loja de venda de produtos alimentares, agora com a crise em todo o país por causa das manifestações a situação é preocupante, porque o meu estabelecimento comercial foi vandalizado”.

Mesmo tendo sido vítima de vandalização, Ramadan conta que continua a pagar impostos. 

Outro comerciante é Joseph Nyabenda, de nacionalidade burundesa, o qual descreve uma queda drástica na sua receita diária. “O meu estabelecimento foi parcialmente destruído por causa das manifestações, perdi dinheiro.”

Shakeel Ahmed Janmahomed, empresário.

Em representação dos empresários de Nampula, Shakeel Ahmed Janmahomed, admite que as manifestações paralisaram significativamente o sector empresarial, pois “certas alegações que não tinham cabimento, entre outras revindicações, afectaram-nos bastante e está a custar muito a gente voltar a actividade comercial na província de Nampula e não só”.

“Muitos empresários de pequena dimensão, principalmente nos mercados informais, sofreram bastante, actualmente estão sem nada, dai que é um desafio alavancar, esperamos ajuda do actual governo e parceiros no acesso ao financiamento,” fincou Shakeel. 

As marcas das manifestações preocupam a Associação de Refugiados em Nampula e segundo o seu director executivo, Ismael Luc Abraham, a nível local, mais de 300 estabelecimentos comercias foram destruídos de forma total e parcial, 30 pessoas refugiadas feridas gravemente, sendo que destas 2 por baleamento pela Polícia da República de Moçambique e os restantes por agressão física protagonizada por supostos manifestantes.

“Nos preocupam os relatos que recebemos através de fontes seguras de que os refugiados são vítimas de ataques nas suas residências,”, denunciou.

Abraham sublinhou ainda que, em todo o país, perto de 800 estabelecimentos comerciais de refugiados foram afectados parcial e totalmente.

IPEME ainda em levantamentos

Octávio Gregório, Delegado do IPEME em Nampula.

O delegado do Instituto de Pequenas e Médias Empresas (IPEME) em Nampula, Octávio Gregório, afirma que decorre um trabalho de levantamento após os danos causados pelos tumultos com vista a recuperação dos empreendimentos.

“Embora não temos números das PMES afectadas, mas há um trabalho em coordenação com outros sectores de actividades para fazer levamento das infraestruturas económicas, materiais e operacionais. É verdade que a nossa componente é estrutural, apoio de assistência técnica e acesso ao financiamento.”, explica. (Nelsa Momade)

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