Nampula (IKWELI) – Se no Natal, tradicionalmente, festeja-se o começo da vida, com o nascimento de Jesus Cristo, neste ano, sobretudo nas últimas 48h, Moçambique vive um “festival” de cadáveres, cujos “donos” projécteis de armas de fogo da Polícia da República de moçambique (PRM) os obrigaram a partir desta para o além.
Oficialmente, o Governo diz que mais de 20 pessoas perderam a vida, em todo o país, na fase Turbo V8 das manifestações de repúdio de resultados eleitorais.
O ministro do Interior, Pascoal Ronda, em colectiva de imprensa sobre a instabilidade que o país vive, anunciou que há, apenas, 25 feridos, sendo 13 civis e 12 membros da polícia.
No entanto, estes são apenas números oficiais, pois, só na cidade de Nampula, o Ikweli contabilizou, quer através de observação directa, quer através de relatos de fontes seguras, mais de 30 óbitos nas últimas 48h.
Ainda no rescaldo do ministro Ronda, há o registo de 25 viaturas queimadas, sendo 2 da corporação.
Dos dados partilhados, constam ainda que foram atacados e vandalizados 11 subunidades policiais e um estabelecimento penitenciário, de onde foram retirados 86 reclusos.
“Quatro portagens incendiadas, três unidades sanitárias vandalizadas, um armazém de medicamentos vandalizado e incendiado e 10 sedes do partido FRELIMO incendiadas. Em conexão com estes factos foram detidos 78 indivíduos, devidamente processados. Dada a sua gravidade foi aberta uma investigação para identificar, não apenas os autores materiais, mas também morais, os que organizam os actos violentos”, afirmou.
As unidades sanitárias andam sufocadas com as entradas de pacientes feridos em consequência das manifestações, e o Hospital Central de Nampula (HCN), maior unidade sanitária do norte de Moçambique, tinha anunciado que ao registar-se violência em consequência do acórdão de validação dos resultados eleitorais, aquele centro hospitalar não iria aguentar com a demanda.
Oficialmente, o HCN ainda não pronunciou-se, mas sabe o Ikweli que a situação nos serviços de urgência não é das melhores. As entradas são em números elevados e os profissionais em serviço estão, praticamente, esgotados.
Na cidade de Nampula, ainda nesta manhã de Natal, há cadáveres em alguns pontos, tal como verificamos ao longo da estrada nacional número 1, na zona do Clube 5.
Ronda considera tais actos uma afronta a democracia
Pascoal Ronda entende que os actos de manifestações que culminam em vandalismo e saques de bens públicos e privados, que acontecem após a validação e promulgação dos resultados, representam uma afronta direta a estabilidade e segurança dos cidadãos, bem como aos valores fundamentais da democracia moçambicana.
Por isso, em representação do governo, quer que os grupos parem de usar a violência como uma das formas de se expressar, pois colocam em risco a paz e a soberania dos moçambicanos.
Por conta disso, ameaça responsabilizar os autores morais e materiais dessas desordens.
“É imperativo que o direito à manifestação seja exercido dentro dos limites da legalidade e sem comprometer a segurança da população ou a integridade dos bens públicos e privados. Perante os actos de violência e vandalismo que se registam pelo país, o governo de Moçambique insta as Forças de Defesa a proteger vidas humanas, as infraestruturas socioeconómicas e prevenir e combater o crime, por forma a garantir a ordem, segurança e tranquilidade públicas”, alertou Pascoal Ronda, Ministro do Interior.
Ronda chama ainda a responsabilidade dos líderes políticos, religiosos para que usem sua influência com vista a restaurar a paz e harmonia social no país, pois entende que deve ser uma prioridade acima de interesses individuais.
“Ninguém pode e nem deve destruir o país para alcançar e retirar o poder democraticamente instituído ou a qualquer outro pretexto”, ameaça o ministro das “armas”, prosseguindo que “os episódios de violência registados até ao momento, deixaram rastos de destruição significativos, afectando tanto bens públicos, quanto privados, infraestruturas essenciais como edifícios governamentais, escolas, hospitais, tribunais, estabelecimentos comerciais até residências foram alvo de vandalismo e saque”.
Envolvimento de terroristas?
Pascoal Ronda não descarta a hipótese de que alguns dos ataques a estabelecimentos de interesse público estejam a ser comandados por membros do grupo terrorista que desde outubro de 2017 destroem Cabo Delgado.
“É importante informar que, enquanto os actos de violência rolam, grupos de homens armados, utilizando tanto armas brancas, quanto de fogo, têm realizado ataques contra estabelecimentos públicos”, disse, assegurando que “diante dessa situação, as Forças de Defesa e Segurança irão intervir, pois não podem assistir inocente e internamente o crescimento deste movimento que tende a caracterizar-se como pleno terrorismo urbano”. (Ângela da Fonseca)