Maputo (IKWELI) – O cenário político que Moçambique vive após as eleições, sobretudo caracterizado por dias intensos e marcados por manifestações violentas e bloqueios de vias de acesso, está a prejudicar estudantes do ensino superior.
Os próprios estudantes universitários afirmam que a situação coloca em causa o aproveitamento pedagógico, uma vez que o calendário das aulas não está a ser cumprido com rigor.
Santos Conta, estudante do primeiro ano de Direito na Universidade Rovuma (UniRovuma), em Nampula, diz que a situação política actual trouxe impactos negativos, uma vez que o estudante não está a ter aulas conforme o cronograma.
“As instituições de ensino estabelecem datas para o cumprimento de suas atividades, e as manifestações comprometeram o cumprimento das atividades académicas. Tenho experiência própria, pois na semana dos exames não conseguimos realizar os exames normais devido à tensão política, que resultou em manifestações violentas, bloqueio de estradas e restrições na circulação de transportes, que são o meio utilizado para chegar à universidade”.
Ele observou que a manifestação é um direito, mas que os limites foram ultrapassados. “No nível em que estamos, isso já ultrapassa o direito. O pior de tudo é que vimos alguns estudantes incitarem a destruição de escolas nas alegadas manifestações. Então, que tipo de estudantes estamos a formar agora?”, questionou Santos Conta.
Por sua vez, Nelson Xavier, estudante de jornalismo na Escola Superior de Jornalismo, em Maputo, lamenta o fato de não poder ir à escola devido às manifestações. “A situação política actual impactou de forma negativa o processo de ensino e aprendizagem, na medida em que obrigou os estudantes a não frequentarem a escola com regularidade, pois temiam represálias por parte dos manifestantes. Também forçou as instituições de ensino a fazerem reajustes nos calendários, nas avaliações e nos exames. Em particular, na Escola Superior de Jornalismo, os docentes foram obrigados a utilizar uma nova metodologia de avaliação, que de algum modo não ajudou muito os estudantes”, disse.
Os nossos entrevistados afirmaram ainda que as manifestações, igualmente, prejudicaram os estudantes na sua vida pós-escolar. “Em relação às questões financeiras, existem estudantes que se sustentam sozinhos, então, em dias de manifestações, não puderam sair à rua para fazer seu trabalho e pagar as propinas. A instituição, por sua vez, fica em cima deles cobrando as mensalidades, o que não ajuda de forma alguma nos resultados acadêmicos dos estudantes”, lamentou.
As fontes apelam para que a materialização do direito à cidadania não prejudique as instituições de ensino. (Antónia Mazive)