Sexta-feira, 15 de Novembro: A noite das crianças e adolescentes manifestantes em Nampula

Nampula (IKWELI) – Tirando os episódios de Namicopo, o bairro mais populoso do país, a província de Nampula, sobretudo a sua capital provincial, observou uma semana tranquila a meio as manifestações de repúdio aos resultados eleitorais que decorrem a escala nacional.

No começo da 4ª fase das manifestações, a polícia matou cidadãos indefesos, até que nada têm a ver com as manifestações em Namicopo. Das vítimas, destacam-se crianças e adolescentes.

No entanto, a nova comunicação de Venâncio Mondlane, candidato presidencial suportado pelo PODEMOS, que tem estado a convocar as manifestações e a instruir as actividades de cada fase aos seus seguidores, orientava para uma manifestação no período noturno desta sexta-feira, sendo que os interessados deviam usar buzinas, vuvuzelas, bater em panelas e tampas, assim como tocar apitos.

A cidade de Nampula, maior centro urbano do norte de Moçambique, parece que acatou em cheio esta orientação, sendo os principais protagonistas adolescentes e crianças.

Do bairro de Namicopo, um grupo de crianças e adolescentes subiu para a cidade cimento, para protestar o assassinato de seus amigos, actos atribuídos aos agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) que, nos últimos tempos, pululam titubeante a paisana pelos bairros da cidade e fazendo vítimas, dentre mortais e feridos, a seu belo prazer.

A saída dos meninos, a maioria na casa dos 10 aos 17 anos de idade, para o centro da cidade e bairros de expansão, foi caracterizada por queima de pneus e vandalização de alguns estabelecimentos comerciais.

O Ikweli observou, por exemplo, a partir do mercado grossista do Waresta até ao de Muacowanvela pneus a arderem e crianças e adolescentes a caminharem, exaltando o nome de Venâncio Mondlane. Igualmente, a avenida do Trabalho também viveu este pânico.

Até ao momento, as marcas são visíveis no asfalta que, também, englobam lixo retirados dos contentores para a estrada, assim como areia de construção.

Não menos importante, segundo registamos, nas várias frentes de manifestantes quase que não haviam membros do PODEMOS assumidos.

“Eu já entrei de férias, agora quero lutar para a minha cidade”, disse Geraldo Paiva, adolescentes de 15 anos de idade, entrevistado pela nossa equipa de reportagem no entroncamento entre as avenidas do Trabalho e 25 de Setembro por volta das 20h30 de sexta-feira, prosseguindo que “estamos cansados. Os dirigentes vêm na televisão e dizem que na escola não se paga nada, mas meia-volta estão a nos cobrar. Lá em Namicopo onde estudo, há colegas que desistiram porque não tinham 500,00Mt (quinhentos meticais) para pagar à escola”.

O troço da avenida do Trabalho, que vai da meia-via à rotunda do aeroporto de Nampula, também, estava repleto de crianças que, depois de a polícia começar com as suas investidas, correram em debandada, para a zona do campo do aeroporto, onde foram “caçados”.

Os disparos, com balas reais e de gás lacrimogénio, duraram noite a dentro, tanto é que, em fuga, algumas crianças perderam-se, havendo algumas que até foram parar em Murrapaniua C, bairro pertencente ao posto administrativo de Natikiri, sendo que elas vinham de Namutequeliua ou de Carrupeia, até mesmo de Namicopo, por isso tiveram que caminhar noite toda a procura de vias para regressar a casa.

“Vou andar a pé, até em casa. Estamos a lutar por uma boa causa”, disse ao Ikweli Bano Sérgio, que vive em Carrupeia e que chegou a Natikiri fugindo balas da polícia que os perseguiam na zona do Trim Trim.

Ponderada e habitualmente calma, a ligação entre o centro de saúde de Muhala Expansão e a estrada nacional número 1, via Nampaco, também esteve atribulada, com pneus a serem queimados na conhecida ponte Amurane, que separa Namutequeliua de Muhala Expansão.

A moldura humana e o barulho ensurdecedor proveniente das batucadas era tanta que assustou as unidades especiais da PRM na cidade de Nampula, as quais trataram de ir desenvolver um combate com armas de fogo [com balas reais e de gás lacrimogénio] contra crianças e adolescentes inofensivos, que apenas empunhavam panelas, pequenos paus e tampas de panelas.

Na noite de sexta-feira, a polícia na cidade de Nampula disparou para “valer”, tentou atirar em tudo e todo que se mexia, incluindo atirou para os quintais das pessoas que, a todo o custo, procuravam repousar para repor as energias para um novo amanhecer.

Pela cidade fala-se de outras mortes causadas pela polícia na noite desta sexta-feira (15), mas o Ikweliainda não conseguiu provar materialmente. No entanto, continuamos no encalço das evidências.

Mães procuram por seus filhos

Uma démarche caracterizou a manha deste sábado. São mães procurando pelos seus filhos, crianças, que na noite desta sexta-feira (15) sumiram dos aposentos para juntarem-se à “rebelião”, alegando que exigem justiça, não só eleitoral, mas sobre todos os direitos fundamentais.

“Meu filho estava a brincar com os amigos, mas de repente saíram todos daqui do bairro”, conta a senhora Amina, que vive próximo ao mercado do Waresta, prosseguindo que “ele tem apenas 13 anos, durante o dia fomos ouvindo eles a falarem que hoje vamos cumprir o que presidente Venâncio disser. Estou muito preocupada”.

Na zona do Matadouro, no bairro Muatala, há também desaparecimento de crianças desde a noite de ontem. “Não é só meu filho que desapareceu, mesmo o filho do vizinho Tiago sumiu desde ontem anoite, as 19h30”, disse a senhora Matilde, que vive atrás do mercado do Matadouro.

No bairro de Mutauanha, por detrás da escola Básica da Cerâmica há, também crianças desaparecidas, como sucede na zona de Mukurua.

“Meu irmão saiu com os amigos e disse que iam fazer manifestação, aí na Gorongosa, até agora [10h30 de sábado] ainda não voltou e não sabemos o seu paradeiro”, disse Marilo, que vivem em Mukurua, preocupada em localizar o seu irmão de apenas 14 anos de idade. (Aunício da Silva)

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