Nampula (IKWELI) – O consórcio de observação eleitoral “Mais Integridade” mostra-se insatisfeito com os pronunciamentos feitos, recentemente, pelo candidato a presidência de Moçambique pelo partido Frelimo, Daniel Francisco Chapo, durante a apresentação do seu manifesto eleitoral na vila de Monapo, província de Nampula, maior círculo eleitoral.
Na ocasião, Daniel Chapo afirmou que as infraestruturas como hospitais e estradas pertencem ao partido Frelimo, um posicionamento que deixou preocupado o consórcio Mais Integridade, uma rede de organizações da sociedade civil que observa a campanha eleitoral em todas as províncias.
Em conferência de imprensa havida na passada quarta-feira (25) na cidade de Nampula, o director executivo da Solidariedade Moçambique que falava pelo consórcio, António Mutoua, disse que Chapo foi infeliz ao fazer tais pronunciamentos, pois entende que as realizações de um governo não devem ser consideradas como sendo de um partido.
“A atitude do candidato é deveras preocupante, todo o governo que tomar posse vai fazer tudo que lhe cabe e não será em nome de qualquer outro partido. Os municípios foram liderados pela oposição e nunca ouvimos dizer que as realizações eram deles e se fosse um partido da oposição a fazer tais pronunciamentos já teriam sido notificados pela procuradoria. De qualquer forma, eles devem se posicionar porque para um candidato que quer voto de todos não ético se pronunciar daquela maneira”, disse.
Mutoua mostrou ainda indignação quanto ao ilícito eleitoral ocorrido no distrito de Homoíne, na província de Inhambane, onde um camião contendo material propagandístico do partido PODEMOS foi supostamente incendiado por indivíduos até aqui desconhecidos e, por isso, promete se posicionar nos próximos dias.
“O que nós apelamos como Mais Integridade seria que a procuradoria, de forma isenta, desenvolvesse o seu papel que é apurar e encontrar os que queimaram a viatura e os materiais. Como Mais Integridade não estamos satisfeitos e nós vamos nos posicionar, porque não é isso que queremos para a democracia”.
António Mutoua falava aquando da apresentação das principais constatações do Consórcio Eleitoral Mais Integridade relativas à quarta semana da campanha eleitoral (14 a 20 de Setembro).
As constatações, ora arroladas, são baseadas na observação de 2562 eventos da campanha de quatro partidos e seus candidatos presidenciais, nomeadamente FRELIMO, RENAMO, MDM e PODEMOS, e na monitoria da comunicação social e das redes sociais da internet.
Neste período, segundo o Consórcio, mantém-se a tendência do uso indevido de meios públicos em 13%, sobretudo pela FRELIMO, enquanto o MDM e a RENAMO tendem a reduzir esta prática.
Para a organização, a FRELIMO continua a liderar uso indevido dos meios públicos em 27% das atividades observadas, tendo registado um ligeiro aumento de 2% no uso dos meios do Estado em relação à terceira semana, ao passo que, a RENAMO e o MDM registam uma redução desta prática em 1%.
“Professores e funcionários públicos e viaturas do Estado dos sectores de educação são os que foram vistos com mais frequência nas campanhas da FRELIMO nesta última semana nos distritos de Chimoio, Sussundenga e Manica, cidade de Tete, Gurué, Molumbo, Milange e Morrumbala na Zambézia, Moma, Nampula e Nacala em Nampula, Maúa e Cuamba no Niassa, o que paralisou as aulas em muitas escolas”.
Relativamente a violência eleitoral, o Mais Integridade destaca a subida do número de vítimas dos poucos incidentes registados, que subiu de 5 para 6, com registo da morte de uma criança no distrito da Manhiça, atropelada por um mototaxista durante a campanha.
“As mais significativas foram verificadas em Gondola (Manica), onde simpatizantes da Renamo, para além de destruírem a bandeira da Frelimo, impediram este partido de promover sua actividade de campanha. No entanto, a Frelimo procedeu da mesma forma em Morrumbala (Zambézia), ao bloquear a campanha do MDM, o que obrigou este partido a mudar do local previamente marcado”.
E não menos importante, o consórcio registou igualmente queixas por parte de alguns cidadãos do distrito de Mecanhelas no Niassa, dando conta de que os responsáveis da Renamo, não só vendem material de campanha como camisetes, capulanas, bonés, mas também, pedem favores sexuais às mulheres, em troca do mesmo material. (Ângela da Fonseca)