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Uniões prematuras na origem do abandono escolar no distrito de Larde

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Nampula (IKWELI) – A Escola Básica Completa de Larde, distrito com o mesmo nome, na província de Nampula, denuncia com preocupação a prevalência de uniões prematuras que contribuem para o abandono escolar das raparigas.

De acordo com a representante de género na escola básica de Larde, Mariamo Ali, durante o primeiro trimestre do corrente ano, pelo menos, 7 raparigas abandonaram os estudos devido a gravidez precoce.

“A situação das uniões prematuras acontece com o consentimento dos pais e encarregados de educação das rapigas. Esta situação preocupa-nos cada vez mais, mas mesmo assim temos levado a cabo mensagens chaves para as comunidades de modo a mudar o comportamento humano”, explicou

O presidente do conselho de escola naquela instituição de ensino público, Selemane Ussufo, afirma que mesmo com as estratégias para retenção da rapiga, os casos de uniões prematuras continuam preocupantes. “Neste momento não posso precisar os dados registados sobre as uniões prematuras, mas a situação é preocupante e como entidade que trabalha entre a comunidade e a escola, tenho de afirmar que decorrem ações de sensibilização com vista a combater a questão da união prematura que muitas vezes impede a retenção das raparigas na escola”.

A fonte refere ainda que a falta de acompanhamento dos pais e encarregados de educação contribui para que as raparigas, entre 12 a 18 anos, abandonem a escola para unirem-se maritalmente

“Os factores culturais continuam a preocupar-nos, porque alguns pais e encarregados de educação permitem que seus filhos se unam antes dos 18 anos, fazendo com que ainda persista o abandono das raparigas nas escolas, mesmo com as estratégias usadas para combater este mal que coloca cada vez mais a mulher em vulnerabilidade”.

Para inverter a situação, Selemane Ussufo apela o envolvimento de todos os actores sociais e pais e encarregados de educação no distrito de Larde para que apostem no empoderamento das raparigas.

“A educação parte de casa até a escola, daí que há necessidade que todos nós estejamos envolvidos em integrar a rapariga na escola para garantirmos um futuro melhor das mesmas e não só, também queremos pedir para que o governo do distrito de Larde em colaboração com a sociedade civil, estabeleçam medidas severas para que os actos que violem os direitos das raparigas sejam responsabilizados e este problema tenha fim”

Enquanto isso…

Mariana Avelino, natural e residente no distrito de Larde, é uma das muitas raparigas que viu o casamento como alternativa para se aliviar das condições precárias em que vivia.

“Parei de estudar por causa de falta de condições, os meus pais dependem da actividade pesqueira para conseguir a refeição diária e não tem dinheiro suficiente para que eu possa ter pasta, uniforme, caderno e outros materiais escolares, então acho que casar é uma maneira de aliviar o sofrimento e algumas preocupações”, justificou.

Após o casamento, Mariana Avelino explica que sua união prematura resultou em gravidez, mas promete regressar à escola nos próximos anos. “Casei-me durante as férias e fiquei grávida do meu marido. Agora tenho um filho recém-nascido e a ideia é procurar formas de garantir uma vida saudável para a criança e depois voltarei a estudar”.

Questionada se casos de uniões prematuras têm sido recorrentes na região, Mariana explicou “casos de casar-se antes dos 18 anos, acontece muito aqui no distrito e depende da aceitação da mulher ou da família, por exemplo, a minha mãe me tem aconselhado para que volte a escola e meu objectivo é esse, quando o meu filho estiver crescido”. (Nelsa Momade)