Um mês após o nascimento da bebé com olhos fechados: Avô diz que recomendação médica não está a ajudar

Nampula (IKWELI) – Um mês após o nascimento da bebé com os olhos fechados, no distrito de Nacala, província de Nampula, o avô e seu encarregado, diz que os médicos locais recomendaram a compra de gotas para aplicar na região, entretanto, a sugestão não está a surtir os efeitos desejados. 

Em entrevista ao Ikweli, Domingos Luciano, explicou que mesmo com a administração das gotas a situação da neta continua a mesma, sendo que o cenário só se agrava, pois, a família não dispõe de condições para a compra do medicamento que custa cerca de 145 meticais nas farmácias privadas. 

“Eu vejo que ela sente dor, chora muito, principalmente nas noites. No hospital só disseram para comprar gotas para lhe aplicar, mas os olhos continuam fechados. E nós não temos dinheiro para comprar as gotas que devem ser aplicadas diariamente, de manhã, a tarde e a noite”. 

Ainda assim, Domingos Luciano fez saber que o médico recomendou que as gotas fossem administradas durante um período de três meses e que só depois disso será feita uma intervenção cirúrgica, caso não se resolva. 

“Como sou o encarregado desta minha neta estou a ficar muito preocupado, porque já fez um mês e não está a mudar, estamos sempre a aplicar essas gotas”.

Vale lembrar que embora fosse sua primeira experiência, Nucha Domingos, a mãe de apenas 17 anos de idade, explicou em entrevista concedida ao jornal Domingo que notou logo após dar à luz que havia algo errado com sua filha.  “Comecei a chorar porque não percebia o que isso significava naquele momento. Ainda não consigo me conter até hoje, porque não sei como é que estão os olhos e como é que vai ficar nos próximos anos”.

Nos últimos anos, tem-se tornado viral nas redes sociais casos de bebés que vêem ao mundo com malformação congénita, uma situação que deixa em pânico sobretudo as mães. Recentemente foram postas a circular imagens de um recém-nascido  com dois órgãos genitais masculinos na província de Tete, sendo que em Abril do ano em curso, também foi tornado público em Chimoio o caso de um feto que veio ao mundo sem órgãos genitais nem orifício anal, uma condição que para a família é desesperadora, pois o bebé faz necessidades maiores e menores através de um buraco que surgiu naturalmente debaixo do umbigo. Divulgou-se ainda, na província da Zambézia o caso de uma mãe que deu à luz gémeos siameses (bebés unidos).

Bebê com malformação congênita

Enquanto isso, dados partilhados pelo Hospital Central de Nampula (HCN) indicam que só no presente ano foram registados 49 casos de bebés com malformação e 13 óbitos, contra 80 do ano passado onde vieram a perder a vida 29.

É preciso melhorar o processo de diagnóstico de malformação congénita

Eduardo Correia, fetólogo do HCN

Tal cenário preocupa o sector da saúde pois é uma condição que pode ser descoberta durante a consulta pré-natal, mas que muitas vezes não é possível por falta de equipamento nos centros de saúde, bem como de profissionais capacitados para identificar os casos. 

Segundo o    fetólogo do HCN, Eduardo Correia, não é obrigatório que se faça uma ecografia durante o pré-natal, entretanto, por conta do processo de formação do feto deveria ser feita pelo menos uma
“Nós temos lacunas. Não é só o facto de haver meios de diagnóstico, mas como está traçado o fluxograma para atender essas situações nas unidades sanitárias. Não temos agentes capacitados para fazer ecografia, são situações que temos que repensar para o futuro”.

Correia diz que o Ministério da Saúde deve repensar num modelo diferente para melhor servir as mulheres no contexto de diagnóstico pré-natal. No entanto, para ele não basta só ter recursos, é necessário que se tenha pessoas capacitadas.

“Falo de formar as enfermeiras e que em todas unidades sanitárias possam colocar ultra-som para que elas possam dizer vi uma coisa assim meio estranha. E isso é uma responsabilidade, você como médico dizer para uma paciente que o seu bebé tem isto, tem que estar seguro, a emoção muda. Deve-se repensar sobre como é que o Ministério da Saúde pode melhorar o processo de diagnóstico no contexto de malformações congénitas”.

Eduardo Correia fez saber que em Maputo, por exemplo, existem apenas dois médicos da área genética e ambos têm a missão de construir uma árvore genealógica com as mulheres que pretendem engravidar.

 “Muitas mães engravidam, mas antes, não fazem uma consulta de pré-concepção. De certa maneira, seria bonito uma mulher antes de engravidar fazer uma consulta com um fetólogo ou médico da área genética onde sentam e fazem uma árvore genealógica para saber se os pais ou avós tem algum problema ou histórico de nascimento de uma criança com alguma deficiência. Daí a mulher calcula o risco de futuramente ter um bebé com malformação. Mas infelizmente nós não temos muito por fazer cá. Embora tenhamos dois médicos da área genética em Maputo, precisamos de muitos meios para fazer esses métodos. Pelo menos uma consulta já dá uma idealização”.

Na mesma senda, Correia deixou ficar alguns factores que contribuem para o nascimento de um bebé com alguma anomalia. Umas delas está ligada a saúde da mãe gestante que tenha histórico de diabetes.

“O açúcar em excesso no corpo da mãe pode interferir no desenvolvimento do bebé, como desenvolver problemas do coração ou coluna.”

Caso a mulher seja advertida de alguma anomalia ainda no processo de gestação o código e processo penal, no seu artigo 168 que versa sobre a interrupção de gravidez advoga que ela pode interromper se “o feto for inviável, houver motivo seguro para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma incurável de doença grave ou malformação congénita e for efetuado nas primeiras vinte e quatro semanas de gravidez”.

As unidades sanitárias não dispõem de equipamento ecográfico para facilitar as mulheres das comunidades que muitas vezes não possuem valores monetários para saber acompanhar a formação do feto. Tal equipamento encontra-se disponível apenas nos hospitais centrais bem como em clínicas privadas. O que por vezes dificulta na descoberta precoce da condição do embrião, fazendo com que mais mães dêem a luz a bebés malformados. (Ângela da Fonseca)

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