Afirmam jornalistas moçambicanos: Insegurança e falta de recursos são impasses para o jornalismo investigativo

Maputo (IKWELI) – Factores ligados a segurança, falta de recursos, tempo, bem como a censura durante a realização de reportagens são vistos como principais desafios para materialização do jornalismo investigativo em Moçambique e na diáspora. 

Tais posicionamentos foram levantados por alguns jornalistas entrevistados pelo Ikweli, durante a cerimónia de abertura da primeira Conferência Internacional de Jornalismo Investigativo (CIJI) organizado pela MidiaLab.

Jornalistas participantes da conferência internacional do jornalismo investigativo

Trata-se de um encontro de dois dias, 15 e 16, que decorre na cidade de Maputo. O mesmo visa reflectir sobre o jornalismo investigativo em Moçambique, abordar questões temporárias, assim como capacitar os jornalistas locais com vista a enfrentar os desafios da digitalização, com foco na promoção da transparência, responsabilização, ética e impacto social. 

Nádio Taimo, Jornalista e director editorial do Jornal 4Vês, disse ao Ikweli que os jornalistas enfrentam desafios frequentes para dar seguimento aos assuntos ligados a investigação profunda.

Na ocasião, a fonte partilhou algumas dificuldades por si enfrentados aquando da realização de reportagens investigativas, com finalidade única de silenciar o seu trabalho.

“Nós somos conotados como aqueles que estão contra o sistema. E, eu enfrento diariamente essa questão de censura, perseguição, assim como o acesso as fontes que levam muito tempo para responder aos nossos pedidos e isso permite com que os nossos trabalhos levem muito tempo para sair ou então em tirar a matéria incompleta”, explicou.

Já, o jornalista Jorge Feniasse, acredita que a falta de união entre os jornalistas contribui para que o jornalismo investigativo não tenha passos significativos no país, um cenário que abre espaço para que haja intimidações e perseguições aos escribas.

“Há uma necessidade de nós como jornalistas unirmo-nos a todos os níveis para que possamos dar seguimento aos nossos trabalhos, o país precisa desses jornalistas investigativos para poder despertar assuntos que estão ocultos. O nosso país é muito fértil, temos tudo para dar certo, mas para tal é necessário que haja uma união entre os jornalistas, porque se há perseguição é porque são poucos jornalistas investigativos e as pessoas que perseguem são a maioria”, disse. 

Enquanto isso, Isinobia Dawine, igualmente jornalista, cingiu-se mais na dependência por parte de alguns órgãos de informação que, de alguma forma, acaba por permitir que certas matérias investigativas sejam “congeladas” por conta da linha editorial. 

Dawina frisou, ainda, que um dos desafios que tem vindo a minar a componente investigativa está relacionado com o facto de as comunidades olharem para partilha de informação como fonte de renda. 

“A questão é que a comunidade tem um pensamento de que se um jornalista vem até a minha comunidade para obter informação é porque vai ter ganhos e, por conta disso, acabam colocando valores em troca de informação”, afirmou. 

Durante a sessão de abertura, o Director Executivo do MidiaLab, Rui Lamarques, frisou a componente do jornalismo colaborativo por forma a ampliar redes de contacto e combater os ataques negativos daqueles que chamou de “poderosos”. 

“Num mundo onde a verdade está sob constante ataque, onde os factos são distorcidos, onde a profissão do jornalista é muitas vezes desvalorizada, a nossa união é a nossa força, apoiar o jornalismo investigativo é apoiar a democracia, é garantir que os poderosos sejam responsabilizados, que as injustiças sejam expostas e que os cidadãos sejam informados com precisam e clareza”. 

Segundo Lamarques, a tecnologia deve ser vista, igualmente, como estratégia para aceder a novas informações e alcançar o que se pretende ocultar.

“Não podemos ignorar o papel que a tecnologia desempenha no nosso trabalho, as ferramentas digitais e as técnicas de análise de dados revolucionaram o jornalismo e abriu novas formas para descoberta de informações. Mas com essas inovações vem, também, uma responsabilidade acrescida que é garantir que essas tecnologias sejam usadas com responsabilidade da qual os mais altos padrões éticos que sustentam a nossa profissão”, explicou.

De acordo com Lamarques, o jornalismo investigativo exige coragem, persistência diante das ameaças assim como um compromisso inabalável com a verdade, neste sentido, o encontro visa não só a troca de experiências, mas acima de tudo, o fortalecimento de redes de contacto e colaboração. 

Importa referir que o  evento que acolhe cerca de 80 participantes dos quais 60 nacionais e 20 internacionais oriundos de Argentina, Brasil, Quénia, África de Sul, Zâmbia, Zimbabwe, ESwatini e Gana,  que actuam nos  diversos órgãos de comunicação social, irá reflectir os desafios actuais e perpectivas futuras nos países africanos, questões éticas envolvidas na colaboração transfronteiriça, incluindo a verificação de fontes e padrões profissionais em contextos diversos, mulheres na redacção entre outras temáticas. (Ângela da Fonseca, em Maputo)

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