Nampula (IKWELI) – São ao todo 187 famílias que viram as suas casas, maioritariamente de construção precária, deitadas abaixo por conta de uma decisão do Tribunal Judicial da província de Nampula, alegadamente, por terem sido construídas em espaço/terreno alheio.
Trata-se de famílias que residem na unidade comunal 1º de Maio, no bairro de Muhala Expansão, nos arredores da cidade de Nampula que, desde a tarde do dia 22 de março findo, vivem de improvisos, porque o pouco que tinham conseguido juntar durante anos ficou reduzido a entulhos.
Segundo apurou o Ikweli, o terreno pertence a uma empresa, provavelmente denominada por “Mama África”, que se dedica a venda de produtos alimentares.
Com as casas destruídas, as famílias vivem um drama total, tal como caracteriza a lesada Luísa Muhapene, mãe de 6 filhos. “Desde que as casas foram destruídas não tenho onde ir viver, eram as únicas casas que tinha na minha vida, alguns dos meus parentes viviam próximo desta mesma zona e que também viram suas casas a serem destruídas por uma empresa que diz ter comprado esta terra há muito tempo”, conta esta vítima que diz que a empresa os acusa de terem vandalizado o espaço.
A dona Luísa explica que “para ter acesso a este local fui herdeira dos meus antepassados, quando perderam a vida fiquei com o espaço a viver com os meus filhos e outros membros da família. Nasci neste local, por isso é difícil fazer uma nova vida fora daqui, não tenho condições para ter um novo espaço para morar com os meus filhos e familiares”.
Para ter o mínimo de protecção contra os eventos climáticos, esta fonte explica que “fiz um alpendre onde passo as noites”.
Igualmente, ela explica que durante a destruição “perdi alguns documentos dos meus filhos, porque esta acção ocorreu quando eu estava na machamba, que dista dois quilómetros daqui. Fui aperceber-me do problema quando os meus filhos reportaram para mim e perdemos alguns bens dentro de casa, todos nós estamos indignados”.
Com a destruição das casas, “a preocupação é de todos”, segundo conta a senhora Belinha Manuel, que refere que “também fiquei sem casa, porque foi destruída. Tomei conhecimento que as casas foram destruídas, porque o espaço pertence a algum empresário que pretende criar mais uma indústria”.
“Quando as casas eram destruídas havia presença de muitos polícias, até cercaram toda a zona”, recorda a fonte, que diz que “quando maior parte de nós tentou reivindicar os nossos direitos um grupo de pessoas foi preso por, alegadamente, estar a criar desordem e estes saíram das celas depois de cumprir alguns dias injustamente”.
Chile António é um jovem que viu a sua casa, também, destruída e recorda-se que dias antes instituições, como a Electricidade de Moçambique (EDM), foram desmobilizar as suas infra-estruturas sob alegação de que uma destruição de casas estava por vir.
Inconsolável, exigindo justiça, Abdul Francisco, que vive na referida zona desde 2018, comenta que “se ao menos tivéssemos uma indeminização, a situação seria normal e nada disso aconteceu e a empresa não se responsabiliza pelos prejuízos”. (Nelsa Momade)