Mulheres com albinismo pedem humanização de serviços durante o processo do parto

Nampula (IKWELI) – Mulheres com albinismo na cidade de Nampula, no norte de Moçambique, queixam-se de preconceitos que tem sofrido na maternidade quando chega a hora do parto.

As mesmas, contaram ao Ikweli, que quando chega a hora de dar à luz, as parteiras reúnem-se para acompanhar o processo com uma parturiente albina.

Anabela, de nome fictício, é albina e mãe de três filhos não albinos. No entanto, contou a nossa equipa que por ela apresentar essa condição, o seu primeiro parto foi difícil e constrangedor, justificando que no hospital onde deu à luz as parteiras, assim como as acompanhantes de outras mulheres que estavam na maternidade, reuniram-se para assistir o parto dela, uma situação que a deixou desconfortável.

“Muitas parteiras ficaram curiosas para ver, eu não sei se elas não tinham experiência em fazer parto com a pessoa com albinismo e foi muito complicado, isso porque quando cheguei na maternidade não só as parteiras, mas também as acompanhantes de outras famílias, abarrotaram a sala, porque queriam ver se havia diferença entre a pessoa com albinismo e a que não tem esses problemas, para ver se a forma de nascer é igual ou não e se o bebé sairia albino. Para mim não é normal tu estares no parto e as pessoas estarem ali para ver e a comentar, aquele é um momento sensível em que a pessoa tinha que receber carinho”, lamentou.

A nossa fonte revelou que, na hora da saída do bebé, as parteiras do hospital 25 de Setembro limitaram-se em abrir a boca e admirar o momento, como se de um filme se tratasse. “Quando o bebé nasceu disseram ahm não é albina, esperávamos que fosse”, lembrou.

Segundo Anabela, os profissionais de saúde que trabalham na maternidade deviam ser formadas em matérias de inclusão social, por forma a que situações de género não voltem a acontecer. A fonte acrescentou ainda que a questão do preconceito contra a pessoa albina inicia no local do parto.

“Muitas vezes o que acontece é que quando uma mulher que não tem problemas de pigmentação de pele dá à luz não lhe é questionada nada, mas se a mesma der à luz a um bebé albino lhe perguntam se está feliz e se na família existem pessoas na mesma condição, isso não se faz. Para mim elas não tem informação suficiente por isso, acho que tinha que haver uma forma de educar porque elas não podem ficar a espera somente de mulheres com não albinismo, devem esperar pessoas com todas as cores e acho que eles não têm essa aula de inclusão”, disse.

Tal como Anabela, Neusa Novinte de 22 anos, recordou-se do dia em que sua mãe foi a maternidade para tê-la e contou que “minha mãe não é albina e, quando deu à luz a mim sai albina, minha mãe contou que as parteiras ficaram admiradas, e me disse que não entendeu a reação, e se questionou porquê admiradas? Porque entende-se que fizeram uma formação para estar ali, e durante a formação não tiveram a cadeira de ética?  Que podia dizer que devem esperar por tudo? Mas o que acontece é que elas não sabem se conter, e perguntam: esperavas isso?  Qual é a sua opinião? Isso faz com que a pessoa saia da maternidade com ódio do seu próprio filho”, lamentou.

Novinte foi mais longe e disse que “cabe a si como mãe esperar por tudo, eu vou ter um filho e não sei como vai ser, devemos ir à maternidade esperando por tudo, eles não têm o direito nem o dever e muito menos a ética lhes permite fazer esse tipo de pergunta, o atendimento deve ser generalizado”, acrescentou.

As revelações foram feitas nesta terça-feira (13), alusivo ao dia Internacional da consciencialização sobre o albinismo, para o efeito, a Associação Amor a Vida, organizou um encontro que tinha por objectivo promover e proteger os direitos das pessoas com albinismo em todos os sectores.

Na ocasião, a vice-coordenadora da Associação Amor a Vida, Márcia Bacar, explicou que a organização que conta com mais de 100 pessoas com albinismo inscritos enfrenta dificuldades no que diz respeito ao emprego. “Temos muitas dificuldades de ser contratados por ser pessoa com albinismo, então é o dia para revindicar todos os nossos diretos e consciencializar as pessoas para que elas possam mudar e aceitar-nos como igual a todos, porque somos todos iguais perante a lei e perante a sociedade”, lembrou.

Durante o encontro, algumas crianças e adultos tiveram o privilégio de receber kits de protecção e de cuidados, nomeadamente, óculos, protetor solar, chapéus e guarda-chuva, que são produtos arrecadados na campanha “Ajude-me a Cuidar de Mim”.

“Infelizmente, não houve muita aderência a campanha, mas tiveram pessoas que se interessaram e abraçaram a causa, estou a falar de alguns comerciantes que ajudaram com algumas sombrinhas, tivemos as irmãs que ofereceram alguns cremes e 30 óculos de proteção solar”, disse.

Por outro lado, o médico cubano, especialista em dermatologia no Hospital de Nampula (HCN), Rafael Perez Hidalgo, explicou ao Ikweli que as pessoas com albinismo sofrem duas condições que afectam o seu dia-a-dia, primeiro pela doença e segundo a discriminação pela condição da pele.

Além disso, Perez explica que as pessoas com albinismo requerem cuidados especiais, pois, eles encontram-se nessa condição porque não produzem o pigmento de melanina necessário para a protecção da pele.

“É uma doença genética e não há até agora no mundo um tratamento 100% efectivo para tentar corrigir”, por isso, o médico lembrou que, as pessoas com problemas de pigmentação de pele devem evitar exposição prolongada ao sol, usar roupas de mangas cumpridas e o protector solar e estar sempre acompanhado de um chapéu ou sombrinha.

“Quando o doente não cumpri com essas recomendações, tem maior risco de contrair o cancro de pele. Mas de forma geral são pessoas normais como você, como eu porque não tem nenhum problema de desenvolvimento intelectual e não tem dificuldade para trabalhar ou para fazer qualquer tarefa, o único problema que temos que fazer é protegê-los”, frisou. (Ângela da Fonseca)

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