Nampula (IKWELI) – Leonilda José, uma mulher de 40 anos de idade residente no bairro de Napipine, nos arredores da cidade de Nampula, recorre a catação e reciclagem de resíduos sólidos como forma de garantir a subsistência dos seus filhos.
Com 6 filhos para cuidar, Leonilda precisava encontrar uma maneira de sustentar a si mesma e a sua família, foi assim que, há cerca de quatro anos, começou a trabalhar com a colecta e reciclagem de resíduos sólidos.
Ela recolhe materiais como garrafas plásticas, latas e outros objectos reutilizáveis nas ruas e terrenos baldios da região para vender. De acordo com ela, as empresas de reciclagem para as quais vende os objectos, pagam-lhe 8,00Mt (oito meticais) a 10,00Mt (dez meticais) por cada quilograma de objectos plásticos, 10,00Mt/kg de ferro e 40,00Mtt/kg de latas de alumínio, possibilitando-lhe uma renda semanal de média de 100,00Mtt. Com o dinheiro dessa atividade, consegue não só sustenta seus filhos, mas também pagar as despesas da casa. Para além desses objectos, aproveita as jornadas para colectar lenha e carvão vegetal para confeccionar as suas refeições.
A situação da Leonilda que antes era difícil, agravou-se ainda mais com a morte do marido, recentemente, pois segundo contou, a sogra expulsou-lhe da residência onde morava com os filhos e o falecido marido, localizada no bairro de Natikiri. “Nós construímos a casa com nossas próprias mãos. Como meu marido era pedreiro, eu era assistente dele, fizemos blocos, construímos e fizemos tudo até terminar a casa. Mas a família é que é complicada e minha sogra mandou-me embora”, disse Leonilda, acrescentando que “a partir daí me mudei para cá que é casa do meu pai e comecei a levar o trabalho de apanhar lixo muito a sério. Foi uma forma de sobreviver e tentar dar algo aos meus filhos. A reciclagem é uma forma de sustento para nós”.
Entretanto, a tarefa de recolher lixo não tem sido fácil para aquela mãe, especialmente porque Leonilda precisa levar consigo a filha mais nova, bebê de 1 ano e 5 meses de idade, que ela carrega ao colo enquanto trabalha, expondo a criança a diversos riscos de saúde e comprometendo o crescimento da menor.
Contudo, justifica que “não tenho como. Não tem ninguém para cuidar da criança em casa, porque os outros ainda são pequenos”.
A educação dos seus filhos constitui umas das preocupações da Leonilda, pelo que redobra os esforços para mantê-los na escola. “Uma filha me ajudara e já não vive comigo, dois estão na escola, um na quarta classe e outro na segunda classe. O penúltimo ainda está em casa”. Além disso, a casa onde actualmente reside, localizada no bairro de Napipine, nos arredores da cidade de Nampula, é precária e tende a desabar sempre que chove. Esse é mais um dos desafios enfrentados por Leonilda e sua família, que vivem em condições precárias e sem acesso a serviços básicos como, energia, água potável e saneamento.
Apesar de todo o esforço para sustentar sua família por meio da catação de resíduos sólidos, ela disse ter tentado pedir apoio do governo em diversas ocasiões, mas sem sucesso. “Já nos inscreveram várias vezes para receber ajuda, mas as pessoas nunca mais voltaram. A primeira vez foi pelo secretário do bairro quando a minha casa desabou, a outra foi com a Cruz Vermelha, entre outras pessoas que até nos pediram documentos, mas nunca dizem nada e nunca mais voltam. Outros ainda diziam que me ajudariam a tratar Bilhetes de Identidade e cédulas para mim e meus filhos, mas até hoje nada”, disse a viúva.
É importante destacar que apesar dos desafios enfrentados, Leonilda não perde a esperança e a determinação e segue pedindo apoio, pois “eu gostaria que me ajudassem, pelo menos, com a alimentação dos meus filhos, ou me dando dinheiro para fazer negócio”. Ela acredita que, com muito trabalho e perseverança, será capaz de garantir um futuro melhor para seus filhos e para si mesma.
Por sua vez, o Secretário Provincial da Cruz Vermelha de Moçambique, em Nampula, José Jemusse Campira, disse que a instituição que representa não tem registos sobre o caso, facto aparentemente comprovado pela equipa por ele delegada para a residência da senhora Leonilda. Entretanto, a Cruz Vermelha comprometeu-se a reportar o caso ao Instituto Nacional da Ação Social, no sentido de prover um apoio a ela e a sua família. (Isidora Fernando)