Nampula (IKWELI) – Faque Sadique, ou simplesmente mexicana como carinhosamente gosta de ser tratada na praça, já canta vitória pelo facto de ter conseguido quebrar todas as barreiras discriminatórias que durante vários anos travou devido a sua orientação sexual, por isso agora considera-se a menina mais feliz da sociedade.
Mexicana assume publicamente e sem qualquer preconceito de ser uma mulher transsexual. De 21 anos de idade, ela nasceu e vive no mítico bairro de Namutequeliua, na cidade de Nampula, juntamente com a sua mãe e irmãos.
Em conversa exclusiva com o Ikweli, a jovem fez transparecer que nos dias que correm já convive com toda sociedade normalmente, contrariamente aos anos passados em que sentia o seu mundo separado com o resto da comunidade.
Ela conta que, apesar de se identificar com a sua orientação sexual, se sentia mal devido ao comportamento discriminatório na própria sociedade em que está inserida, mas com o passar dos tempos, foi adquirindo informações e conhecendo os seus direitos, graças a associação Lambda, uma agremiação que advoga pelo reconhecimento dos Direitos Humanos das pessoas LGBT, o que lhe ajudou a superar as adversidades.
“No princípio não foi fácil estar a conviver com a população sobre a minha orientação sexual, mas actualmente está sendo melhor porque no bairro em que vivo as pessoas já me acostumaram. No princípio não era fácil conviver com aquela população, porque eles não tinham informação sobre a homossexualidade, então foi muito difícil”, referiu Mexicana.
Para a nossa fonte, a interação permanente com a própria sociedade contribui significativamente na sua vitória. “Sim, eu tenho interagido com a população constantemente, e isso me ajudou muito porque se existiam pessoas que falavam algo contra é porque não tinham conhecimento, então eu tinha que arranjar formas de sentar com a pessoa e tentar lhe explicar o que eu sou. Então, com isso me ajudou muito, mas tem pessoas que não querem saber mesmo tendo essa informação sobre a homossexualidade, só que não querem assumir mesmo”, comentou.
“A minha família, no princípio, também, me rejeitou, mas agora já me assume. Tem outras pessoas da família que não querem saber de mim a semelhança de outras populações. Epah! Como a minha mãe e meus irmãos já me assumiram, o resto para mim não importa”, precisou a jovem Mexicana.
Abandonei a formação devido ao preconceito da minha directora
Agora com as barreiras quase vencidas, Mexicana se sente arrependida de ter interrompido o curso técnico de saúde num dos estabelecimentos de ensino na cidade de Nampula, devido a postura discriminatória da directora adjunta pedagógica da referida instituição.
“Já fiz a 12ª classe e tive uma formação em saúde, mas não consegui alcançar o meu objectivo por preconceito da Directora Adjunta Pedagógico, por isso deixei aquela formação, não terminei. A pedagógica era preconceituosa, me discriminava muito, então como na altura me sentia muito mal preferi mesmo sentar, isso foi em 2019”, prosseguiu a nossa entrevistada, para quem “no primeiro semestre as coisas iam bem, talvez ela não tinha prestado atenção em mim porque ela me via só de uniforme. Acho que ela não tinha prestado atenção em mim, mas quando descobriu que eu era mulher trans ela sempre fazia a questão de ficar na porta porque queria ver como é que eu iria me apresentar, se iria me apresentar de calças apertadas, de uma blusa de mulher, dali decidi desistir”, disse lamentando.
Entretanto, o desejo da nossa entrevistada é de continuar a fazer o curso que interrompeu, mas num outro estabelecimento de ensino. “Na altura eu não tinha boa informação mesmo sobre a homossexualidade, mas agora já tenho, se fosse que era agora eu iria enfrentar a situação. Aquela informação chave sobre a orientação eu não tinha, agora já tenho. Por isso, já penso em voltar a estudar, sim, mas não lá. Deve ser noutros institutos, mas antes de eu me matricular primeiro tenho que falar com a directora e informar que eu sou transgénero, se eu me apresentar desta e de outra forma, já sabe!”, anotou a nossa interlocutora.
Por outro lado, Mexicana disse não ter dúvidas da existência de muitas pessoas LGBT+ que continuam sendo descriminadas. “Sim, são muitas pessoas que estão sendo discriminadas, mas eu vejo que isso é falta de percepção nas pessoas. Então, é necessário que a pessoa que se sente discriminada explique essa sociedade, porque se você deixa a comunidade lhe descriminar, se você não dar basta naquilo, a comunidade nunca vai parar. Por isso, o mais essencial é você chegar até aquela pessoa que discrimina para fazer entender a situação”, aconselhou a nossa fonte. (Constantino Henriques)