Nampula (IKWELI) – A semelhança de muitos que se assumem a sua orientação sexual, Zeton Mário, de 22 anos, residentes no bairro de Namutequeliua, nos arredores da cidade de Nampula, teve que enfrentar a sociedade homofóbica até vencer estigmas e discriminação.
Tendo sido expulso de casa pelo seu próprio pai que, na altura, não entendia a sua orientação sexual, teve que enfrentar as regras escolares discriminatórias às pessoas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais).
Em entrevista ao Ikweli, Zeton contou que quando descobriu que era “diferente” dos outros meninos aos 12 anos de idade, foi constantemente vítima de agressão física e psicológica pelo facto de apresentar um comportamento feminino diante dos meninos, e quem também não soube lidar com a sua orientação sexual foram os seus pais que na altura decidiram expulsar-lhe de casa.
“Quando o meu pai me expulsou de casa por causa da minha orientação sexual, fui acolhida por minhas amigas iguais a mim, depois decidi ir viver em Quelimane em casa da minha irmã onde, também, não foi fácil me aceitarem”, conta a nossa fonte.
Para Zeton, por falta de informação sobre as questões relacionadas à orientação sexual por parte da família, teve que viver por algum tempo isolada, não havia na sua família quem o aceitasse como é, mas a força de vontade de lutar contra os preconceitos e para o respeito da sua sexualidade fizeram com que ele agora comece a partilhar as suas vitórias dentro da sua família, na escola, apesar de ainda persistirem desafios que lhe colocam ainda limitações para a sua melhor convivência social.
“A minha aceitação não foi fácil, mais tarde depois começaram a habituar-se da maneira que eu sou diferente dos outros homens e agora me assumem como uma mulher normal como as outras. Agora sou amiga da minha mãe e pai porque já me aceitam da maneira que sou e como me comporto e isso é mais importante”.
Inserção na escola
Zeton Mário é estudante da 12ª classe, no turno da noite, na escola secundária de Nampaco, nos arredores da cidade de Nampula. Ela conta que quando começou a estudar naquela instituição de ensino público não era aceite pelos professores entrar na sala de aula usando vestidos e calças apertadas, por este motivo perdia as aulas. Para que continuasse a estudar, os professores diziam que devia pedir autorização ao pedagógico, mas que apesar de ter feito o pedido este, também, não aceitou nem se quer ouvi-lo.
Por outro lado, lembrou que no mês de Setembro do ano em curso foi vítima de agressão física, praticado por dois desconhchecidos, quando regrassava da escola.
Para poder continuar com os estudos, Zeton teve de recorrer a ajuda externa. Neste caso, a Lambda foi a entidade que teve de intervir. “A LAMBDA fez seguimento do caso que se passava na escola e depois fui aceite e até agora as pessoas já me aceitam”.
É sonho de Zeton ser agente da Polícia da República de Moçambique, porque pretende “fazer entender estes agentes a não praticar agressão física contra nós que somos deste grupo. Nós sofremos muito quando vamos num posto policial meter queixa de qualquer tipo de violência sexual, porque alguns policiais não entendem a nossa situação e não dão o seguimento. Na maioria das vezes até acham que nós somos pessoas que fingem ser mulher, por isso sofremos agressão”.
Zeton é activista no âmbito de um projecto que está a ser desenvolvido pela organização de defesa de direitos humanos das pessoas LGBT+, Lambda, onde tem ajuda as pessoas LGBT a partilharem as suas histórias de autoaceitação e aceitação na sociedade, seus sonhos e desafios.
Através deste projecto, tal como conta Zeton, já surge um novo sonho, tornar-se jornalista para ouvir e escrever a história das suas amigas.
Para além disso, Zeton trabalha com Beleza onde presta serviços de maquiagens, costura de perucas, tranças entre outros o que lhe ajuda a ter algum rendimento e não só, “isso sei fazer porque gosto de ficar linda e deixar as pessoas lindas também e ganho dinheiro por essa atividade que realizo na minha zona”.
Segundo Zeton, o gosto de cuidar da beleza dos outros contribuiu significativamente para que fosse aceite no bairro pelas pessoas que hoje são suas clientes. (Nelsa Momade)