Nampula (IKWELI) – Um cidadão de 37 anos de idade, comerciante no mercado grossista do Waresta na cidade de Nampula, acusa agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) de o terem espancado a ponto de contrair lesões graves na perna direita.
O incidente ocorreu na tarde do último domingo (7), e a vítima Jotom Inácio caiu nas agressões policiais pelo facto de não ter obedecida as exigências dos homens da lei e ordem para o cumprimento das medidas de prevenção da covi-19, destacadamente o uso da máscara facial e o encerramento das actividades comerciais no referido mercado, alegadamente, por estar na hora de se largar.
No local, ninguém aceita, abertamente, falar do caso, com o receio de serem sancionados pelos responsáveis do mercado, mas a socapa avançam que a actuação dos membros da PRM no local tem sido desumana.
“O jovem foi batido aqui na resta porque não usou correctamente a máscara, a polícia encontrou ele a desarrumar a sua banca para depois ir a sua casa. Daí que começou o problema, eles obrigaram-no a arrumar de maneira tão rápida e depois começaram a lhe espancar com chambocos [cassetetes]”, contou um vendedor que assistiu a agressão.
Depois de espancarem, brutalmente, a vítima, os agentes abandonaram-no, ficando a contorcer-se de dores e sem socorro imediato.
Foram os colegas do agredido que o levaram para o Hospital Central de Nampula (HCN), onde foi assistido na secção de Ortopedia.
Os resultados médicos indicam que o cidadão fraturou a perna direita, o que pode colocar em causa a sua movimentação normal e, até ao fecho desta notícia, ele encontrava-se na sua residencial no bairro de Carrupeia, cidade de Nampula.
“Eu recebi, ontem, a ligação de um dos seus amigos aqui no mercado dando conta que o meu marido se encontrava estatelado no mercado sem conseguir andar, isto porque foi batido pela polícia. Eles dizem que ele demorou desarrumar a sua banca e não havia usado correctamente a máscara. Quando cheguei ele havia sido levado para o hospital, recebeu socorro dos amigos daqui”, Disse Matilde António, esposa do cidadão espancado.
Inácio Pilopilo, chefe do mercado do Waresta, entrevistado pelo Ikweli, a propósito, disse não ter informações detalhadas sobre o sucedido, razão pela qual lhe é difícil explicar.
De acordo com, ele a família do cidadão não denunciou às autoridades responsáveis pelos vendedores do mercado, ainda mais trata-se de um cidadão que na altura encontrava-se embriagado e desacatou às ordens dos agentes.
Mas, segundo apuramos no local, Pilopilo ameaça as pessoas para que não denunciem o caso.
Ao contrário das informações avançadas pelo chefe do mercado e o seu elenco da polícia Municipal que alegam que o cidadão se encontrava sob efeitos de álcool, a senhora Matilde António esclarece que constitui uma mera mentira que as autoridades usam para justificar a sua má actuação, o seu marido nunca, na vida, consumiu bebidas alcoólicas.
“Escreveu-se que ele consumiu bebidas alcoólicas e ficou a fazer das suas, enquanto não, meu marido não bebe. Quando eles bateram perdeu o que tinha como pertence naquele momento, isso é triste. Agora estou a passar mal porque não tenho como sustentar os meus filhos, ele é pai de cinco filhos e assim que aconteceu isso, ninguém se prontificou para assumir o caso, bateram-no e abandonaram”, lamentou a esposa do cidadão.
Enquanto isso a PRM em Nampula reage…
“Já consta nos blocos informativos da PRM que a polícia vem fazendo um trabalho de desencorajamento e de sensibilização para não existência de aglomerados de pessoas e, por conta da situação da covid-19, a polícia deu continuidade e está a executar estas actividades em diversos pontos que, em alguns momentos, entram em discordância com o decreto presidencial que estabelece a situação de calamidade pública”, respondeu Zacarias Nacute, porta-voz do Comando provincial da PRM em Nampula, quando questionado pelo Ikweli a propósito deste incidente.
Na mesma abordagem, o porta-voz continua a afirmar que “nestas acções da Polícia da República de Moçambique, há momentos que a população desobedece as ordens das autoridades mantendo-se nos locais, até retaliando-se contra a polícia, e não tendo outras alternativas a polícia acaba usando a força para dispersar essas pessoas e garantir que não haja situação de desestabilização da ordem e se observe as medidas patentes no decreto que estabelece a situação de calamidade pública no país”. (Esmeraldo Boquisse)