Nampula (IKWELI) – Para aliviar dores de menstruais, algumas mulheres na cidade de Nampula, optam pela automedicação sem, no entanto, observar recomendações médicas.
Entrevistadas, algumas mulheres afirmaram que desconheciam os efeitos negativos de automedicar-se e apontaram o ibuprofeno como a medicação mais usada para se livrarem de forma rápida de dores menstruais.
“É novidade para mim, pois não tive conhecimento de que o uso deste medicamento pode causar consequências graves, nem sempre tenho tido dores menstruais, mas, em alguns meses, tenho sofrido, e tomo ibuprofeno para aliviar a dor, não sabendo que isso pode me causar problemas graves futuros”, afirmou Noémia Hermínio
Edvânia Samuel, de 19 idade anos, é uma jovem estudante que sempre recorre a automedicação para se aliviar de dores menstruais, ela tomou a decisão depois de ouvir de outras que assim o fazem, ignorando completamente a opinião médica.
“Tenho sofrido muito por conta das dores menstruais, é um dos motivos que me faz automedicar, porque existem dias que a dor é tão intensa que não consigo consultar um médico e tendo um ibuprofeno em casa, uso para solução. É se automedicar sim, tendo em conta que resido sozinha”, disse.
Eduardo Correia, médico ginecologista e fetologista do Hospital Central de Nampula (HCN), apontou dois tipos de dores menstruais e suas respectivas causas.
“Existem dores menstruais que são primárias e secundárias. São consideradas dores primárias quando não conhecemos a real causa das dores, e são consideradas secundárias quando existe alguma anormalidade como miomas, pode estar aí um problema chamado nutriosi, apendicite e vários outros problemas”, explica este especialista, prosseguindo que “existe a dismenorreia, que é como se chama a dor durante a menstruação e isso pode acontecer até uma determinada percentagem, sendo alta ou normal. Existem situações que são agravantes, a dor é tão intensa que a mulher se torna dependente de medicações e deve ir ao médico porque pode ser algo anormal. Existe, por exemplo, a síndrome pré-menstrual fora da dor, algumas características alteram as mulheres e a mulher já fica com ideias suicidas, inchaço no abdómen, entre outros”.
Correia acrescentou que a menstruação inicia entre 21 a 35 dias. “Este é o intervalo, embora existam mulheres que menstruem entre 28 a 28 dias, este é o parâmetro. O fluxo pode ser de 8 ou 7 dias, menos que isso é normal, quando é o processo de recorrência, de repente o organismo num mês ou outro pode ficar lento, cria essa alteração, mas a nossa preocupação é quando isso já é recorrente. Vamos imaginar que em menos de 21 dias, daquele intervalo menstrual, aconteça três ou quatro vezes, é preocupante”.
Em caso de anormalidade, o fetologista apela as mulheres a ficarem atentas e caso notem alguma anomalia na sua vida menstrual, recorram imediatamente ao centro de saúde para uma consulta.
Alex Julião, farmacêutico há 6 anos, relatou ao Ikweli que existe um risco grande quando as mulheres recorrem a automedicação para aliviar as dores menstruais.
“Antibióticos são um tipo de medicamento para tratar doenças infecciosas e um período menstrual não é uma doença, mas tem certas mulheres que por conta do desconforto se automedicam, e geralmente as pessoas recorrem a anti-inflamatórios não esteroidais que são medicamentos que têm propriedades analgésicas que tratam a dor”, explica.
Julião esclareceu ainda que “a automedicação constitui um dos principais problemas de saúde pública, porque independentemente do medicamento, mas como farmacêutico digo que não existe medicamento 100% seguro, todo medicamento quando é ingerido tem uma certa dosagem, intervalo de tempo, e quantidade diária, esta situação carece de alguém que seja formado e qualificado”, clarificou.
Mais adiante, explica o farmacêutico, que um dos maiores riscos da automedicação é o desconhecimento da dosagem, “o primeiro risco da automedicação é que podemos ter uma sobredosagem e congruentemente vai levar a intoxicação, porque dependendo da dor que a pessoa vai sentindo, pode tomar 4 paracetamóis, se não tem idade e peso para tal, claramente vai ter uma sobredosagem”.
Ainda sobre os riscos da automedicação, o especialista refere que “pode existir casos de que a mulher esteja com dores menstruais, mas também sofre de gastrite por exemplo, ao tomar um certo medicamente, o risco de poder agravar uma outra situação pré-existente é maior”.
O profissional aconselha as pessoas que se automedicam deixarem de o fazer e procurarem ajuda numa unidade sanitária sempre que estiverem doentes. (Ruth Lemax)
