Idosos de Meconta clamam por dignidade enquanto denunciam abandono e sofrimento

Nampula (IKWELI) – No distrito de Meconta, concretamente no posto administrativo de Namialo, província de Nampula, muitos idosos vivem dias marcados pela dor e pela exclusão social no meio de uma situação sem acesso regular do subsídio destinado à terceira idade, por isso enfrentam dificuldades extremas para garantir a sua alimentação e cuidados básicos, dependendo, em muitos casos, da boa vontade de vizinhos ou familiares que, também, lutam pela sobrevivência.

Além da pobreza, pesa sobre esses anciãos o fardo das acusações de feitiçaria, uma realidade cruel que tem destruído lares e desonrado vidas de quem, em vez de ser protegido, é apontado e marginalizado. Muitos são rejeitados pelas próprias famílias, forçados a viver isolados, sem abrigo digno nem acompanhamento social ou psicológico.

A situação dos idosos de Meconta, segundo os mesmos, é um retrato doloroso da negligência e perda de valores comunitários.

Por outro lado, a assistência do governo, através da Instituto Nacional de Acção Social, não tem respondido à sua obrigação. Entre exclusão e demora no pagamento do subsídio, são situações de que os idosos de Nampula se queixam.

“Há três anos que não recebo nada”, lamentou Zefanias Carlos António, de 77 anos de idade, que se sente esquecido.

“Eu estava a receber sem falha, mas a partir de 2022 até agora não recebi nada. Todos são chamados para vir receber, mas eu não recebo nada. Então, este ano fui chamado para me apresentar e, quando chegámos, não disseram nada. Gostaria de saber qual é a razão de não receber, se a gente dependia do mesmo dinheiro. No início eu recebia 50,00Mt (cinquenta meticais), depois chegou a 300,00Mt (trezentos meticais). Esse é o valor que recebia em 2022 e até agora não me dão nada. Há muito tempo eu vivia da agricultura, agora com a minha idade e pelas doenças que me seguem, não tenho como. Estou sempre a passar fome”, lamentou.

O idoso pede ao governo que olhe pela sua classe. “Eu assim estou desesperado, até podemos pedir, mas acho que nada vai mudar, e nós todos estamos a chorar porque a gente já se habituava a receber. Mesmo que fosse pouco, mudava alguma coisa na nossa vida.”

Com lágrimas nos olhos, António disse que outra situação que o apoquenta é o desprezo dos seus filhos, que desde 2021 não lhe prestam assistência, acusando-o de ser feiticeiro.

João Hermínio Viraneque, outro idoso, também partilha o mesmo sofrimento. “Assim estou há três anos sem receber esse valor. Somente no ano passado recebi um mês, eram 520,00Mt (quinhentos e vinte meticais), e desde aí nunca mais deram nada. Vivemos à nossa maneira, porque no passado com aquela moeda a gente fazia qualquer coisa para ajudar a nossa família a se sustentar. Lá em casa estou cheio de crianças, e todos dependiam de mim, mas agora passamos mal. Os meus filhos que vivem nas suas casas também não me ajudam porque também não têm, e na machamba agora não sai nada.”

Líder comunitário pede intervenção urgente

O líder comunitário do primeiro escalão do bairro de Napai, no posto administrativo de Namialo, em Meconta, disse que a situação deixa a desejar, por entender que sempre tem sofrido pressão por parte desta camada social. Por não ter o que fazer, também pede ajuda a quem é de direito para resolver o problema de uma vez por todas.

“Por exemplo, esse senhor que está aqui comigo terminou de receber em dezembro de 2022, mas no ano passado já se recebeu aqui na Grinagre. Alguns receberam e a brigada voltou antes de terminarem de pagar a toda a gente. Quando conversei com eles, disseram que haviam de voltar, mas nunca mais voltaram. Até agora estamos à espera.”

Segundo o líder, na sua casa não param de chegar idosos à procura de respostas.  “Na qualidade de líder comunitário, até agora estamos à espera. As pessoas também estão à espera. Recentemente ligaram-me para mobilizar esses idosos, mas não disseram nada. Desde 2022 até agora não receberam nada. O sofrimento aqui no bairro está a aumentar porque esses idosos já tinham o hábito de receber alguma coisa no final do mês. Pior depois do ciclone, quando as machambas foram destruídas, a situação ficou ainda pior.”

Governo reconhece dificuldades

À margem da celebração do Dia Mundial dos Idosos, a diretora provincial de Género, Criança e Acção Social, Cedinha Mpila, afirmou que, enquanto o governo faz a sua parte, as famílias devem amparar os seus idosos. “Nós temos uma associação dos idosos que protege os direitos dessa camada social. Eles também trabalham na divulgação das leis que os protegem.”

Questionada sobre a falta de subsídios, Mpila explicou que o problema está a ser resolvido “A situação dos subsídios dos idosos está a ser resolvida. Não vou aqui dizer os números, mas está-se a ultrapassar. No mês passado houve alguns pagamentos e, de forma paulatina, vamos resolvendo este processo.”

Sobre as acusações de feitiçaria, a diretora sublinhou “Temos conhecimento, por isso nós, como Acção Social, somos os protetores desta camada. Fazemos palestras nas famílias e comunidades, trabalhamos também com líderes comunitários e religiosos na divulgação das leis para que a nossa população saiba que isso é um crime. A lei protege esta camada, e a população deve saber que, quando discrimina os nossos idosos, que são as nossas bibliotecas, comete várias infrações.”

INAS sem respostas e sofrimento crescente

Recentemente, no posto administrativo de Namialo, uma equipa de jornalistas tentou contactar o delegado do Instituto Nacional de Acção Social (INAS) para perceber a situação do subsídio dos idosos naquele distrito de Meconta, mas o esforço resultou num fracasso, alegadamente porque o responsável devia dar o depoimento numa quinta-feira, o que até agora não aconteceu. (Malito João)

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