Corrupção na Educação: Transferência de Professores dos distritos para cidade de Nampula custa entre 50 e 70 mil meticais

Nampula (IKWELI) – Desde o ano 2020 que transferências em massa de docentes começaram a registar-se em alguns distritos da província de Nampula, sendo a cidade capital, o local mais preferido. Este êxodo de funcionários da educação está a concorrer para a redução dos recursos humanos, descapitalizando assim a resposta nas aulas.  

A transferência massiva de professores para a cidade capital de Nampula no período em referência é notória nos distritos de Muecate, Monapo e Mecubúri, contudo, numa situação apontada como estando relacionada a actos de corrupção e que está a afectar negativamente o processo de ensino e aprendizagem dos alunos naquelas regiões.

Nesta reportagem o foco é perceber com profundidade como essas transferências a meio de corrupção afectam o sector da educação, principalmente na leccionação.

Para o efeito, a investigação foi realizada nos distritos de Mecubúri, Muecate e Monapo onde foram analisados 10 casos.

O nosso primeiro ponto foi o distrito de Muecate, que dista pouco mais de 60 km da cidade de Nampula, onde a nossa reportagem entrevistou três professores, supostamente envolvidos em actos de corrupção, estes que pagaram para serem transferidos, alguns com sucessos e outros não.

Hugo, nome fictício de um dos professores numa EPC da localidade do Grácio Namahia, posto administrativo de Imala, que dista a 35 quilómetros da vila sede do distrito de Muecate, contou-nos que pagou um valor total de 5.000,00Mt (cinco mil meticais) a um indivíduo que garantiu flexibilizar o processo da sua transferência para Muecate-sede em Maio de 2025 e de lá para cá não se materializou.

A fonte declarou ainda que envolveu-se no esquema porque quando tentava transferir de forma legal encontrava impedimentos por parte das entidades competentes na tramitação do processo.

“Quando trata-se de transferência, o professor deve ter padrinho para facilitar o despacho e se não tem, o processo de pedido é indeferido, e é dai que entra a corrupção, para o meu caso procurei alguém para poder me assegurar e dei cinco mil, mas ainda não fui transferido”, disse, anotando ainda que “esta não é a primeira vez que tento uma transferência sem sucesso e meu dinheiro foi devolvido em 2022, depois de longo tempo de espera porque tinha medo denunciar e ficar também implicado como corrupto,” disse.

Com o Hugo, percebemos que no esquema de corrupção estão envolvidos dirigentes do sector de educação, sobretudo directores das escolas e responsáveis dos sectores de recursos humanos das direcções distritais que recebem valores com promessas de transferências de professores, principalmente para a cidade de Nampula, o que muitas vezes provoca falta de professores nas escolas do distrito.

“Por exemplo, na escola onde trabalho há 5 turmas com apenas dois professores, mesmo assim o meu desejo é transferir, porque estou há 7 anos, distante da família, amigos e serviços básicos.”

Como prova destes pagamentos, para transferências dos professores aqui elencados, o nosso jornal teve acesso a talões de depósitos bancários, como ilustram a seguir um dos documentos da conta do depositante 166782092 no valor de 5000 mil meticais, no dia 23 de Maio de 2025 na caixa número 1, agência do BIM em Muecate.

Já no povoado de Muhieque, Cláudio, nome fictício de um professor primário, também tenta há 7 anos transferir-se para a cidade de Nampula, mas sem sucesso. A nossa fonte revela igualmente que lhe foi dito que há um esquema que pode seguir, que se assentava no pagamento de algum valor a pessoas identificadas como “padrinhos”.

“De forma legal já tentei aproximar os meus superiores e não deu certo, procurei algumas pessoas ligadas a direcção da educação para facilitarem o processo e dei dez mil meticais em Dezembro de 2024, mas também não deu efeito porque depois as pessoas envolvidas no esquema comunicaram que havia falta de professores e não podia ser transferido,” declarou.

Mesmo assim, Cláudio continuou com o processo. “Agora identifiquei um padrinho, pediu-me cinco mil para agilizar o processo porque sei que todos que estão a transferir para a cidade estão a pagar aos chefes e por isso espero que o meu processo corra bem, pelo menos, para a vila sede de Muecate e posteriormente a cidade de Nampula, o que implica pagar mais,” disse Cláudio, anotando que está ainda no processo de procura do valor para pagar. 

Deste professor, compreendeu-se que há um conhecimento generalizado de que a corrupção é um mal que deve ser combatido, mas para ele, e tantos outros, é só através do esquema de corrupção que se pode conseguir transferir de um ponto para o outro, mesmo cientes de que estão a deixar o distrito sem professores suficientes e a penalizar a sociedade.

Na sede do distrito de Muecate, encontramos outro professor que, para preservar sua identidade, preferimos mantê-lo em anonimato. Esta fonte, explicou a nossa equipa de reportagem que foi transferido através do mesmo esquema de corrupção. 

“As transferências que acontecem aqui não são de forma oficial e todas envolvem custos que variam consoante o local. Por exemplo, se quer transferir deve se organizar economicamente, procurar alguém dentro da direcção da educação e colocar a preocupação, mas sempre com dinheiro na mão.”

A fonte não escondeu sua preocupação face a situação de transferência de professores envolvendo pagamentos monetários, e principalmente numa escola onde há exiguidade de recursos humanos.  “Então se esse professor é transferido quem vai ficar a ensinar as crianças? Significa que temos muitos professores na vila sede de Muecate e na cidade de Nampula que estão sem turmas, enquanto há professores sobrecarregados nos postos administrativos e localidades.”

Com esta explicação, compreende-se que a questão de horas extras que tem vindo a constituir grande preocupação para as autoridades do sector de educação, pode também estar relacionada com a transferência massiva de professores, muitas vezes por meio da corrupção.

Em Muecate, o Chefe da Repartição de Educação Geral no Serviço distrital de Educação, Juventude e Tecnologia, Alex Salvador, fez saber que de Janeiro de 2024 a Junho de 2025, 45 professores foram transferidos para cidade de Nampula.

“Estes foram transferidos por via da mobilidade, uns são afectos  em algumas escolas e outros para outros serviços do Estado, uma situação que está a criar insuficiência de professores.”

Questionado sobre o envolvimento de alguns quadros da direcção da educação no esquema transferência de professores de forma corrupta, o chefe da Repartição de Educação Geral no distrito (REG) de Muecate, Alex Salvador, respondeu que “quanto a isso não tenho informações, nenhum colega apareceu a reportar situação de corrupção em que foi cobrado para transferir.”

A explicação do chefe da REG no distrito de Muecate mostra que dos casos de pedido de transferências em que os professores pagaram e não foram transferidos, os visados não se dignaram a denunciar a quem é de direito, por alegadamente, estar claro que trata-se de um crime.

Entretanto, a fonte disse que por causa do silêncio das vítimas, o sector de educação continua sem informações sobre os casos de corrupção e aconselha que, “caso tenha alguém que quando pede transferência é cobrado algum valor, deve dirigir-se a instituição e reportar-nos o caso que é para nós darmos o seguimento.”

Todavia, a nossa reportagem notou que nestas escolas há falta de professores devido as transferências para a vila ou cidade de Nampula, numa única sala os professores existentes vão acumulando horas extras, um problema já com “barbas brancas” e que tem vindo a ser reportado por professores um pouco por todo o país.

Por exemplo, um professor primário está para duas ou mais turmas num único período de aulas, sendo que o normal é um professor para uma turma de, pelo menos, 45 alunos.   

Distrito de Monapo

Do distrito de Muecate, seguimos a Monapo, que dista a 125 km da cidade de Nampula, onde dirigimo-nos a uma EPC local para buscar informações de esquemas que podem ser usados para transferência de um professor. Foi aí que foi-nos indicado um professor já transferido para cidade de Nampula através de um esquema de corrupção.

Contactamos o professor com a desculpa de que tratava-se de alguém que precisava ter ajuda para transferir-se de Monapo a cidade de Nampula, e ele acolheu a preocupação e explicou que “eu sai de Monapo porque paguei, conheço todos os esquemas, assim é só se preparar com mais ou menos 70 mil, tenho amigos com influências que vão monitorar a partir do distrito até a cidade, é troca de favores.”

O professor revelou ainda que “nenhum professor é transferido sem pagar, é o que funciona aqui, se não tem dinheiro junto ao seu processo não tem despacho, bloqueiam o seu documento até que tenha dinheiro, esse país é assim. Estou a vos preparar, procurem dinheiro e guardem para este processo que vocês querem.”

Ainda em Monapo, um professor, que falou em anonimato, afirmou que a corrupção na transferência de professores é uma realidade, e o problema afecta o sector da educação em todo o distrito.

O professor anónimo revelou que muitos docentes que são afectos ao distrito, quando se apresentam nos Serviços distritais de Educação, de lá recebem propostas de voltar a cidade ou reduzir a distância para vila em relação as escolas onde foram indicados.

“O esquema começa quando o professor vai se apresentar nos serviços, lá tem indivíduos especializados para identificar interessados em serem transferidos mediante pagamento de valores que variam de 50 a 70 mil meticais,” revelou, acrescentando ainda que “você é questionado se onde foi afectado é distante e se não quer transferir para estar próximo a vila ou voltar a cidade, daí começa o envolvimento nos esquemas de corrupção para transferir.”

A fonte contou, igualmente, que há professores que são afectos, trabalham alguns meses e saem do distrito ou da Zona de Influência Pedagógica (ZIP) de um posto administrativo e/ou localidade para a vila sede, muitos porque têm influências ou porque pagaram para o efeito.

“Eu conheço muitos professores que saíram das localidades porque pagaram e estão aqui na sede, outros nem pararam aqui, foram a cidade de Nampula, por isso que há sempre reclamação de insuficiência de professores nas localidades, lá encontra uma escola primária com três professores, como é que estes não vão fazer horas extras e turno e meio?” questionou o professor.

Segundo o professor, há também outros que envolveram – se neste esquema para transferir, mas não dá certo e andam em conflitos com os que garantiram agilizar o processo, mais grave ainda é que não denunciam, por isso indicou que é fundamental que medidas eficazes sejam tomadas para combater a corrupção na transferência de professores para não penalizar as comunidades que ficam sem professores, garantindo um sistema educacional justo, transparente e de qualidade para todos. 

Ainda no distrito de Monapo, foi nos indicado um professor do ensino secundário envolvido em esquemas de corrupção e que está a ser procurado pela justiça. Contactado pelo jornal Ikweli, o professor confirmou que está fugitivo há dois anos e revelou que pretendia transferir do distrito de Monapo para a cidade de Nampula num esquema que envolvia pagamentos a pessoas próximas da antiga Administradora do Distrito, Suzete Nhangumele, com destaque para o chefe dos recursos humanos da educação.

O processo não teve sucesso, foi daí que decidiu expor o caso e desapareceu da sua zona de influência Pedagógica, conforme contou em uma conversa em vídeo chamada com a nossa equipa de reportagem.

Já o Administrador de Monapo, Emmanuel Impissa, abordado sobre o assunto de corrupção na transferência de professores, começou por lamentar que esteja a ocorrer silenciosamente no sector, facto que segundo contou deve estar associado a exiguidade de professores nas escolas do distrito e consecutivamente a criar o problema de turno e meio e também o grande dilema das horas extras.

“Neste momento não posso afirmar categoricamente sobre a corrupção no processo das transferências, mas que existem movimentações de quadros de forma estranha e suspeita, sim, existem, mas não posso afirmar com dados,” concluiu.

Impissa sublinhou ainda que “a oferta e a demanda geralmente propiciam tentativas de professores entrarem em esquemas de corrupção para serem transferidos, mas nós queremos desde já encorajar que as pessoas denunciem sem comprometer a relação entre o Estado e o Funcionário,” afirmou avançando que o governo central assim como provincial está numa luta cerrada contra a corrupção.

“Então, como governo queremos lançar um alerta para os funcionários que pensam que têm influências e que podem aliciar os colegas professores ou de qualquer sector que seja para transferi-los com promessas de troca de favores de que não adianta, vamos ser implacáveis.”

Distrito de Mecubúri

No distrito de Mecubúri, interior da província de Nampula, pouco mais de 80 km da cidade capital, o Ikweliinteragiu com o professor Aleixo, nome fictício que trabalhava na EPC de Mecubúri-sede quem também confirma que não há transferências sem pagamentos e há pessoas que são responsáveis por tramitar o processo.

“Sim, paga-se. Aquilo ali é um negócio agora. Se não pagares, ficas no mato por anos, porque mesmo as transferências internas você deve tirar dinheiro, quer dizer, sair de uma escola da periferia para a vila ou arredores, nunca é “mahala”, disse, enfatizando que “eu para transferir de Mecubúri para cá na cidade, me pediam 60 mil em 2020, dali negociei para baixar, me ajudaram com 50 mil, como na altura eu estava sem dinheiro suficiente, mesmo para juntar meu salário era difícil, tive que recorrer ao BCI.”

“mesmo assim não foi fácil, o meu processo levou muito tempo porque um chefe da direcção Provincial de Educação quando viu aquele processo foi atrás de mim e queria parte dele, mas como o meu padrinho tinha pegue o meu caso, consegui,” fincou.

Questionado sobre quem cobrará o referido valor, a fonte asseverou “na verdade é complicado dizer quem cobra, porque quando você escreve seguindo aquela linha que é serviço distrital para se dar o parecer, depois vai no administrador basta ele autorizar, leva-se o processo ou você deve levar pessoalmente para o governo da cidade e lá, é lá então onde deves encontrar alguém para dar o seguimento e a mesma pessoa leva o dinheiro para dar os chefes que eles conhecem para facilitar a assinatura.”

O professor Aleixo secundou igualmente que em cada passo do processo era solicitado 5 mil “noutros lugares entregava o meu padrinho junto com o dinheiro e o processo, dali consegui e foi ao tribunal administrativo.” 

Um outro professor de nome Max Maximar, também nome fictício, duma das EPC ´s de Mecubúri, diz estar agastado com o sistema de rede de corruptos que ficam atentos a professores que pedem de forma legal transferências. Segundo disse, estes dificultam o processo para depois de colocar no esquema deles de corrupção.

“Quando comecei a tramitar meu processo, disseram-me que teria que pagar entre 50 a 75 mil meticais, dependendo da situação e da urgência. Os valores normalmente são acertados com intermediários que conhecem bem os canais.” revelou.

Maximar, explicou que não se paga directamente aos chefes, mas todo mundo sabe que indirectamente eles estão por trás dessa prática “Eu tentei a transferência por duas vezes, mas o meu processo era indeferido porque não dava dinheiro e por não saber a quem dar e por conta dos valores cobrados pois pedem valores muito altos´´ comentou.

A fonte disse que numa das vezes falou directamente com o Chefe dos Recursos Humanos do Sector de Educação.

“Com o chefe de RH me disse: tens quanto? Confessei que tinha 15 mil meticais, ele me disse que não era suficiente porque pelo menos devia ser 30 mil meticais, mas mesmo assim ele me dizia para eu entregar aquele 15 mil para ele ir tentar, mas desconfiei para não sofrer com meu dinheiro. Desisti. Assim falei com um amigo na cidade me disse para procurar 50 a 60 mil meticais vou conseguir,” aclarou a nossa fonte destacando que a corrupção esta instalada e com raízes que corroem silenciosamente a sociedade.

Carmelinda Jassone é também professora de Mecubúri, contactada pelo Ikweli sobre o assunto, disse que “hoje em dia não é possível transferir para cidade sem dinheiro. Há muito tempo sim, era possível, mas agora é difícil.”

Contou que está em processo de transferência e lhe pediram 50 mil, tirou 40 mil meticais e faltam 10 mil meticais para completar, outro valor prometeu entregar no salário de Agosto depois que o processo estiver em andamento.

“Aqui no distrito você pode não gastar muito assim, mas lá na cidade é muito difícil porque há técnicos e chefes de repartição de RH envolvidos nesses casos. Se você não tirar dinheiro o seu processo não sai positivo sem você tirar nada. Não temos como não tirar esse dinheiro porque por exemplo, eu estou com problemas de saúde e tenho minha mãe idosa na cidade sem cuidados de ninguém e pretendo ir lá cuidar de mim e dela,”

Zacarias é nome fictício de um professor que já está na cidade de Nampula, transferido de Mecubúri, o qual declarou “para eu sair de Mecubúri, gastei 100 mil meticais, eu com minha esposa também professora. É complicado, mas consegui e nós não tínhamos dinheiro, eu tive que pedir vale no banco para dar porque o que nós queríamos era sair só.”

O casal de professores encontra-se actualmente a trabalhar nas Escolas de Murrapaniua e Muthita, na cidade de Nampula.

Zacarias entende que a transferência de um funcionário do Estado deve obedecer a critérios objectivos: antiguidade, motivos de saúde, reagrupamento familiar, ou necessidade institucional. No entanto, revelou que esses critérios são ignorados quando o dinheiro entra em jogo.

“Há colegas que chegaram depois de mim, com menos tempo de serviço, e foram transferidos para a cidade logo sem demora. Depois descobrimos que pagaram 60 mil. Simples assim.”

Já um dirigente distrital que aceitou falar em anonimato disse que “há rumores e queixas, mas nunca provas concretas, é que o sistema precisa de reformas profundas para garantir transparência porque a corrupção nas transferências de professores não é um simples “favor” feito entre colegas é uma prática que tem vindo a acontecer, cria problemas e prejudica principalmente quem necessita que sofre e precisa de alívio para desenvolver profissionalmente.” revelou a fonte anónima.

 Nestes distritos, a comunidade escolar lamenta que professores estejam a ser transferidos de forma descontrolada para cidade e queixam – se que as suas comunidades ficam sem professores para ensinarem seus filhos.

Amina Muzé é mãe e tem um filho que estuda na escola Primária de Cangane em Mecubúri, e esta contou ao jornal Ikweli que na sua comunidade tinham três professores que leccionavam de 1ª a 5ª classes, mas depois um foi transferido e só ficaram dois, um que é director para leccionar uma escola que conta com cinco turmas. 

“Não sabemos o que se passa, professores aqui não demoram, eram três agora ficaram dois, assim nossos filhos quando chegam ali na escola, se professor está doente, não há aula nesse dia, ou se viajar para cidade, pode até passar uma semana sem aula,” afirmou Amnina.

O Régulo Silva, da Comunidade de Cangane em Mecubúri, disse que não sabe se a transferência de professores para vila sede do distrito ou a cidade esteja relacionada a esquemas de corrupção, mas afirmou que está a impedir o acesso ao ensino e aprendizagem de qualidade, por isso repudiou a prática.

“Aqui nós recebemos professores, mas depois são transferidos, essa coisa de corrupção deve estar a nos causar problemas de falta de professores na nossa escola e o governo precisa agir e combater de forma rápida” afirmou.   

Sociólogo 

Procuramos perceber do sociólogo, Jaíbo Mucufo, o impacto social que a transferência de um professor por meios corruptos pode criar numa comunidade ao que explicou que a corrupção dilacera a sociedade, pior ainda em povoados onde a população está desprovida de serviços.

A fonte coloca a possibilidade das transferências envolvendo a corrupção estejam ligadas a necessidade de ter uma vida que o funcionário sonhou no meio urbano e não na zona rural onde não há serviços básico, fazendo com que este procure meios a todo custo para aliciar os tomadores de decisão para ser transferido de volta a cidade o que penaliza a população na qual ele mesmo jurou servir em todo o ponto do país em que for indicado a trabalhar. 

“O Impacto para a comunidade é que ela fica desprovida de quadros, fica uma comunidade sem professores, uma escola com insuficiência de professores. Por exemplo se é afecto hoje, amanhã é transferido e ai fica se com uma qualidade de ensino precária naquela comunidade,” avançou.

O Sociólogo alerta ainda que o impacto deste fenómeno pode ser visto na dimensão do local onde o professor é retirado e também para onde vai devido a questões que explicou como sendo, por um lado, um vazio para a comunidade que contava com um professor e por outro lado para o local onde vai que poder ser um meio onde não há muita necessidade deste quadro.

Sociedade civil apela investigação e responsabilização dos corruptos 

Palmira Revula é coordenadora do Centro para Democracia e Direitos Humanos em Nampula e destaca a transferência de professores por meios corruptos como um problema que viola os direitos humanos.

‘’A corrupção na transferência de professores, sobretudo dos distritos para a cidade, em particular, tem vindo a ferir muito os direitos humanos. Como instituição olhamos isto com grande preocupação e incide principalmente por perceber que trata-se de uma realidade que até certos pontos é influenciada por questões políticas’’ sublinhou.

A coordenadora avançou ainda que o seu mecanismo está ciente que os indivíduos envolvidos nestes esquemas ocupam alguns cargos de relevância e estes para além de estarem ao serviço da Justiça, acabam estando ao serviço do partido e isto acaba se acentuando quando trata- se um jogo de interesses.

‘’Queremos aqui afirmar que há um forte jogo de interesse que acaba colocando em causa os direitos humanos e as questões de legalidade nas nossas comunidades tendo em conta que a função pública por si é regida por instrumentos legais’’

Revula acrescentou também que a partir do momento em que um professor é transferido de um ponto para outro isso implica directamente na sua vida e da sua comunidade e quando é através da corrupção já é complicado tendo em conta que deixa uma sociedade dilacerada e nesse molde não há substituições imediatas.

Gabinete provincial de Combate a Corrupção

O Gabinete Provincial de Combate a Corrupção em Nampula diz que há ocorrência da corrupção no processo de transferência de professores na província, contudo não avança com detalhes o número de processos registados nos últimos meses.

O Porta-voz do gabinete Provincial de Combate a Corrupção em Nampula, Aristides Maezane, disse que por ser preocupante a situação, numa das sessões do Conselho dos serviços de representação do Estado, foi debatido o tema.

Maezane disse que o que acontece é que o funcionário que quer ser transferido do distrito para cidade tem que pagar e isso implica crime de corrupção e relativamente a esse aspecto, temos agora um processo, “já foi julgado e agora vai a leitura de sentença que envolve dois funcionários do Conselho Executivo Provincial, no gabinete do governador de Nampula e um professor do distrito de Lalaua.”

“É de facto negativo, e nós sempre vincamos muito que os servidores públicos devem reportar casos de corrupção ao ministério público ou ao gabinete de combate a corrupção para efeitos de investigação.”

Maezane apontou que por causa dos últimos relatos do sector de educação, há trabalhos cerrados de investigação da corrupção na transferência de professores, mas lamentou que não estejam a ser denunciados casos que ocorrem nos distritos.

“Não há denúncias que chegam a nós, mas por causa da suspeita das transferências massivas em alguns distritos, vamos accionar as investigações para travar este fenómeno,”;disse Aristides Maezane, anotando ainda que, o que mais preocupa são os impactos negativos que estas transferências estão a causar nos distritos.

A fonte apelou a toda sociedade civil, e neste caso, o conselho de escola que notar a transferência estranha de um professor do distrito para cidade a denunciar de modo que seja feita investigação pois os impactos incidem directamente a comunidade.

Regulamento para transferência de professores em Moçambique

O regulamento para transferência de professores pode variar dependendo da instituição e do país, mas geralmente envolve critérios como tempo de serviço, classificação o em concursos e razões justificadas para a mudança. 

A decisão final sobre a transferência é tomada pela instituição ou entidade responsável, levando em conta a disponibilidade de vagas e os critérios estabelecidos no regulamento, o que não é o caso das transferências que acontecem dos distritos da província de Nampula a cidade Capital, o que releva ainda muita suspeitas de existir corrupção no processo.

Entretanto, a lei que regula a transferência de professores em Moçambique está contida no Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado (EGFAE), aprovado pela Lei nº 4/2022, de 11 de Fevereiro. Este estatuto define os princípios gerais e normas aplicáveis à transferência de funcionários públicos, incluindo professores. Além disso, o Regulamento do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado (REGFAE), aprovado pelo Decreto nº 28/2022, detalha os procedimentos e critérios para a transferência de funcionários.

Em Moçambique, a corrupção é criminalizada através do Código Penal e de leis específicas, com penas que podem variar de prisão a multas, dependendo da gravidade do ato.

Posicionamento da direcção provincial de Educação 

A Direcção Provincial da Educação em Nampula, na pessoa do respectivo director, Wiliam Tunzine, diz ser um problema silencioso que está a corroer o tecido social, mas não tem sido visível, ou seja, os casos não chegam as entidades por ser um mal que envolve duas partes, uma delas que teme denunciar. 

O director Tunzine explicou que anualmente a direcção provincial afecta uma média de 520 professores contratados pelos 23 distritos “e praticamente estes professores pertencem aos distritos na medida em que começam a tralhar lá,” vincou, anotando ainda que as transferências ao nível dos distritos devem ser feitas consoante as necessidades “e dentro de um distrito tem estruturas e critérios a serem seguidos, por isso não somos nós que fazemos as transferências, tem lá um administrador que gere os seus recursos humanos e pode autorizar a saída de um professor de um ponto para o outro.”

Mesmo diante das provas apresentadas e os relatos de corrupção na transferência de professores dos distritos para a cidade capital, o director Wiliam Tuzine disse não ter conhecimento de casos denunciados ao sector.

“Nós não estamos a negar que as transferências sejam efectuadas de um distrito para outro, só que o que tem estado a acontecer não tem sido tão bom, maior parte dos distritos transfere professores para cidade de Nampula, portanto, os professores dos distritos fazem de tudo para serem transferidos para cidade por isso temos aqui colegas sem cargas horárias,” disse Tuzine.

O director provincial de Educação disse que em contrapartida, nos distritos onde saem estes professores há relatos de professores com turmas excessivas e horários lotados por causa desta mobilidade massiva de professores para cidade de Nampula.

“Se for a ver nestas duas contratações de professores nós não incluímos a cidade de Nampula porque temos professores há mais dentro da cidade e isto acaba criando situações de horas extras, turno e meio, e isto é mau para o sector de educação dai que pode haver situações de pagamentos para que estes professores estejam a sair massivamente dos distritos a cidade e aqui pode abrir-se uma investigação que já não cabe a nós se há ou não corrupção na movimentação destes quadros,” anotou a fonte.

Wiliam Tunzine disse, no entanto, que há um trabalho que está sendo feito para o controlo das transferências e gestão dos recursos humanos a nível dos distritos para que esta situação não ganhe contornos alarmantes. (Nelsa Momade)

*Esta reportagem foi realizada em parceria com o Centro de Integridade Pública – CIP.

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