Nampula (IKWELI) – A biblioteca provincial de Nampula debate-se com a problemática de falta de livros escolares e de acordo com dados partilhados pelos gestores da mesma, dos 15.350 mil acervos existentes, apenas 130 são títulos direcionados ao ensino escolar da 8ª à 12ª uma realidade que está a limitar seriamente o acesso dos estudantes ao conhecimento.
Em entrevista concedida ao Ikweli, alusivo ao Dia Mundial das Bibliotecas Públicas, celebrado 01 do corrente mês, o director da Biblioteca Publica Provincial de Nampula, Acácio Carvalheira, revelou que estão há 10 anos sem novas requisições de livros. Trata-se de uma situação que se repete nas seis bibliotecas distritais existentes na província, nomeadamente Angoche, Monapo, Ilha de Moçambique, Nacala, Memba e Eráti, respectivamente.
“Quando os alunos chegam aqui, são obrigados a esperar horas para ter acesso a um exemplar, que muitas vezes se encontra nas mãos de outro estudante. E o mesmo problema que nós estamos a viver, as seis bibliotecas públicas distritais estão na mesma situação de falta de livros”.
No entanto, segundo Carvalheira o problema da falta de livro não se limita apenas as bibliotecas, mas abrange também as escolares, onde a situação veio agravar-se com a vandalização das mesmas durante as manifestações violentas ocorridas no país.
“Todo este ano aqui na cidade de Nampula, das cerca de sete escolas com bibliotecas escolares, apenas duas é que fornecem dados, Maparra e 12 de Outubro e o resto as bibliotecas foram vandalizadas. E ali foi destruir a partir do local até o material, por isso é difícil recompor e as escolas, julgo eu, não tem condições para adquirir livros. Por isso, há mais procura dos serviços na biblioteca provincial, no entanto não estamos a conseguir responder a demanda por falta de livros”.
Aliado a falta de livros, as bibliotecas deparam-se com o estado de degradação dos edifícios, tal como avançou a fonte.
“Aqui quando chove, nós passamos muito mal, chove em todos os lados, até na própria sala de leitura geral e esse problema tenho ouvido dos outros colegas nos distritos a lamentar, já reportamos, mas não temos tido uma resposta satisfatória, por isso vamos trabalhar dentro das nossas condições”.
Segundo o director da Biblioteca Provincial de Nampula, esta carência de livros escolares deve-se, em grande parte, à conjuntura económica que o país atravessa, o que dificulta a aquisição de novos materiais para as bibliotecas públicas.
“Temos um número considerável de livros, mas poucos correspondem à necessidade dos alunos. Isso cria sérios constrangimentos para quem depende da biblioteca para estudar. A conjuntura económica nos atingiu muito, há falta de orçamento, veja que até hoje não há orçamento em todas as direcções e é difícil eu dizer que vamos conseguir amanhã ou depois. Desde 2016 que a situação não é das melhores para nós”.
Por conta disso, Acácio Carvalheira afirmou não haver motivos para celebrar o dia, pois para ele é triste ver seus leitores, sobretudo alunos, a ter que aguardar para ter acesso a um manual escolar.
“Passamos a data com alguma tristeza por vermos alguns utentes a voltar porque não conseguiram um e outro material, não ficamos satisfeitos, por isso, reflectimos sobre esse assunto, aonde é que vamos com essa conjuntura económica, se não ultrapassarmos havemos de vir só para sentar?”.
Alguns alunos mesmo sem gravar entrevista, falam das dificuldades e apelam às autoridades e parceiros para reforçarem o acervo com mais livros escolares, de modo a garantir o direito à educação e promover o hábito da leitura. (Ângela da Fonseca)